No mundo das empresas de tecnologia, a sigla SaaS (software as a service), remete a todo e qualquer programa desenvolvido por essas companhias que é utilizado por clientes em troca de um serviço por assinatura.

No agro, muitas agtechs surgem com essa proposta, captam recursos para colocar o software de pé e focam em uma estratégia comercial a fim de fazer com que o máximo de produtores utilizem seus programas que auxiliam em alguma camada da gestão do negócio agrícola, gerando uma receita recorrente para a empresa.

Na startup Aegro, a ordem da vez é inverter essa dinâmica. “Para manter uma margem alta, abraçamos o mantra moderno do Saas ao contrário, sendo service as a software”, contou Pedro Dusso, CEO e fundador da agtech.

Dusso conta que, no segundo semestre do ano passado, se reuniu com sócios e investidores para fazer pequenas alterações no modelo de negócio da Aegro.

A companhia, que foi criada em 2014, desenvolveu um software de gestão para fazendas no modelo de Saas. A plataforma é definida por eles como uma espécie de 'Excel do campo', que cuida de toda a parte financeira tradicional, mas também faz a gestão operacional do plantio e da colheita dos produtores.

Nesses 10 anos de vida, a empresa se dedicou a desenvolver o software e comercializá-lo entre produtores. Porém, do ano passado para cá, adicionou uma camada de serviço no modelo de negócio.

A Aegro saiu de um modelo onde time dedicado 100% ao escritório da companhia para uma dinâmica mais próxima aos produtores clientes.

A companhia aproveitou o momento pós-breakeven, termo em inglês que se refere ao momento em que uma empresa consegue fazer com que sua geração de caixa sustente a operação.

“Foi uma reflexão desafiadora, mas por muito tempo pensamos que a dor estava na funcionalidade. Achamos que era o produto e vimos que fazer mais softwares não significava mais mercado. Criamos um braço que ajuda esse produtor a operar o software que já existe”, explica Dusso.

Hoje a Aegro está com três consultores próprios em campo, um em Rio Verde (GO), outro em Lucas do Rio Verde (MT) e o último na região de Campo Grande e Maracaju, no Mato Grosso do Sul.

“Eles atuam como analistas financeiros e de planejamento dos produtores. Esse produtor geralmente já tem um contador e um agrônomo, mas não um profissional que se dedica a juntar toda informação e ajudá-lo nas decisões. Hoje ele faz isso na intuição”, completa o CEO da startup.

Em uma conversa com o AgFeed em junho do ano passado, Pedro Dusso havia mencionado que a meta da startup era atingir 5 milhões de hectares que, de alguma forma, utilizam o software da empresa.

A meta foi adiada para este ano, na medida em que a companhia encerrou 2024 com pouco mais de 4,2 milhões de hectares – mas ainda um avanço frente aos 3,5 milhões da metade do ano passado.

“Notamos que a combinação de serviço com software foi muito efetivo com clientes de tickets maiores, de fazendas de até 10 mil hectares, principalmente no Centro-Oeste, Norte e no Matopiba”, conta.

A conquista de menos áreas que o previsto, contudo, não chateia Pedro Dusso, que cita que a nova vertente de serviços fez com que a rentabilidade da companhia aumentasse, justamente por “estar agregando uma camada de serviço”.

Segundo ele, a Aegro saiu de uma margem Ebitda de 15% na metade do ano passado para quase 20% ao final de 2024. A receita da companhia fechou o ano em cerca de R$ 30 milhões ano passado.

Para este ano, projeta uma alta entre 20% e 25% no faturamento, algo superior aos R$ 36 milhões.

Para o futuro, a ideia é que essa estratégia dos consultores também ganhe agentes externos, como profissionais de consultorias agronômicas que prestem serviços a partir do software da Aegro.

“Em algum momento vamos ‘produtizar’ isso, com outros profissionais usando a metodologia Aegro”.

Com essa nova fase, Dusso afastou chances próximas de uma nova rodada de captação com investidores.

Desde sua fundação, acumula R$ 18 milhões captados, atraindo gente de peso para o negócio. Ao longo da trajetória, atraiu como sócios a SLC Ventures, a ADM Venture Capital, do Grupo Rendimento, o publicitário Nizan Guanaes e fundos paulistas de Venture Capital.