Há cerca de um ano a agtech Aegro, que desenvolve softwares para gestão de fazendas, atingiu seu breakeven, termo em inglês que se refere ao momento que uma empresa consegue fazer com que sua geração de caixa sustente a operação.
Agora, em seu novo momento, a empresa quer conquistar clientes mais “tradicionais” e menos propensos ao uso da tecnologia no campo, conforme explicou ao AgFeed o CEO e co-fundador da Aegro, Pedro Dusso.
Fundada em 2014 em Porto Alegre por Dusso, Paulo Vitor Silvestrin, Thomas da Silva Rodrigues e Francisco Gerdau de Borja, a Aegro desenvolveu um software de gestão para fazendas no modelo de software as a service (Saas).
A plataforma é uma espécie de 'Excel do campo', que cuida de toda a parte financeira tradicional, mas também faz a gestão operacional do plantio e da colheita dos produtores.
Ele explicou que atualmente a startup possui mais de 5 mil fazendas utilizando soluções da Aegro diariamente. Essas propriedades somam 3,5 milhões de hectares, e a meta é atingir 5 milhões de hectares até o final de 2023.
“Começamos 2024 com 3 milhões de hectares gerenciados com a intenção de crescer 30% até o final do ano. Também queremos avançar no faturamento na mesma medida em que crescemos em área”, contou Dusso.
As fazendas atendidas possuem um tamanho que fica entre 500 hectares e 5 mil hectares, e 90% dessas propriedades são de produtores de soja e milho, principalmente do Centro-Oeste. Os outros 10% se dividem em produtores de arroz no Sul, feijão, cafeicultores e produtores de cana.
Para crescer, a estratégia de Dusso e da startup está em “penetrar nas fazendas mais tradicionais”, que possuem maior dificuldade em adotar novas tecnologias. A empresa tem olhado para a “base da pirâmide”, e mira fazendeiros com área menor a 500 hectares.
Além de um mercado ainda pouco tecnificado a ser explorado, Dusso acredita que esse novo espectro de produtor pode trazer novas culturas para o portfólio da empresa. “Nosso software é agnóstico do ponto de vista agrícola”, afirmou.
Segundo Pedro Dusso, a Aegro nasce para ser uma alternativa à planilha tradicional, que trazia uma dificuldade para ser acessada em smartphones e em áreas com conexão escassa.
“O produtor compartilhava uma tabela e as fórmulas se ‘quebravam’. Surgimos para trazer usabilidade, proteção e um fluxo de trabalho que o Excel não tinha. A ferramenta é o de menos, o mais importante é juntar dados e entender o que deu certo ou não na gestão da fazenda”, afirmou o executivo.
Formado em ciência da computação, Dusso não tem um histórico no agro. Apesar disso, por ser natural de Porto Alegre, capital de um estado com forte produção agrícola, afirma que sempre conviveu com a temática.
Depois que ele e seus sócios fizeram alguns cursos de mestrado, se reuniram novamente e viram uma oportunidade para trabalhar com Valmir Menezes, pesquisador do IRGA (Instituto Rio Grandense do Arroz).
A partir dali eles começaram a conhecer o agro. Dusso afirma que esse olhar “forasteiro”, ajudou a empresa a moldar os serviços com base na percepção e demandas dos próprios produtores. “Não conhecer o setor era bom e ruim ao mesmo tempo, mas nos fez construir um processo ao longo do tempo em que hoje o produtor pode fazer de tudo no software”
Rodando o Rio Grande do Sul e conversando a distância com produtores de outros estados, o negócio começou a ganhar escala e atrair investidores.
Além da gestão agrícola do negócio, o produtor pode fazer todo planejamento financeiro dentro dos serviços da Aegro. “Os universos são conectados, pois um produtor faz planejamento de safra, que envolve compra de insumos e administração de estoques. Depois, vai aplicar na lavoura, colher e vender para cobrir seu financiamento”, afirmou.
A ideia de construir um sistema que contemplasse toda a cadeia se deu, segundo o CEO, por uma percepção de que o produtor não quer usar múltiplos softwares no seu dia a dia.
Investidores de peso
Nesses quase 10 anos de história, a startup chamou a atenção de nomes de peso dentro do mercado agro e fora dele. Em 2017 fez uma rodada seed que contou com a participação das gestoras SP Ventures e da ABSeed.
Segundo Dusso, enquanto a SP Ventures buscava uma startup que pudesse ser o software para o portfólio de agtechs investidas, a ABSeed trouxe uma perspectiva interessante para as estratégias de marketing e vendas. “Foi uma composição vencedora. Enquanto um fundo olhava o go to market, o outro olhava o ecossistema e o produto”, afirmou.
Depois de um follow on em 2018 com as gestoras, a empresa abriu uma rodada em 2021, onde captou R$ 12 milhões. Além da SP Ventures e da ABSeed, participaram a SLC Ventures, a ADM Venture Capital, do Grupo Rendimento, e o publicitário Nizan Guanaes.
A ideia na ocasião era expandir os produtos oferecidos no software da Aegro, e oferecer soluções envolvendo marketplaces, crédito e seguro agrícola. De acordo com o CEO, os novos investidores ajudaram com mentorias e comitês, que ajudaram a empresa a guinar para se tornar uma agfintech.
A plataforma passou, então, a oferecer a possibilidade de o produtor fazer a gestão financeira, importar notas fiscais, monitorar fluxo de caixa, realizar pagamentos e também integrar as contas bancárias no software.
A última nova funcionalidade lançada pela Aegro é um sistema para emissão de notas fiscais eletrônicas para produtores rurais.
Com um último follow on realizado em agosto de 2022, a empresa acumula R$ 18 milhões captados nesses 10 anos de vida. Por enquanto, a startup não prevê novas rodadas de captação.
“Estamos crescendo bem, e a ideia agora é pensar em momentos de investimento conforme o mercado de venture capital e de agtechs se desenhar no futuro”, diz.