Os dois últimos anos da Indigo Ag, startup americana de tecnologia agrícola focada em melhorar a produtividade do solo, foram uma verdadeira montanha russa.

A empresa pode se honrar do posto de ser a agtech mais rápida a atingir o status de unicórnio, ou seja, atingiu um valor de mercado bilionário sem entrar na Bolsa. Em 2021, teve seu valor de mercado (valuation), cotado em US$ 3,5 bilhões.

Nesta semana, porém, uma nova rodada de investimentos colocou o valuation da Indigo Ag em apenas US$ 200 milhões, um montante mais de 90% menor que o recorde visto dois anos antes.

A informação foi dada pelo veículo de comunicação israelence C-Tech, parceiro da Unic-Tech, uma das investidoras israelenses da Indigo. A Unic-Tech é negociada na Bolsa de Valores de Tel Aviv e visa investir em unicórnios privados. Os dados da Indigo foram obtidos pelo portal em relatórios da parceira.

A C-Tech não divulgou o valor da última rodada de financiamento, mas citou que a startup “registrou uma perda de cerca de US$ 420.000 em seus investimentos na empresa até o momento”.

Segundo a publicação, a Indigo Ag “estava preparada para um IPO”, segundo a publicação, o que teria motivado um investimento levantado recente de US$ 160 milhões. A Unic-Tech ainda disse que, com o IPO fora de questão, a empresa passou por uma reorganização.

A primeira investida da Unic-Tech na Indigo Ag foi em 2020, quando a parceria trouxe US$ 750 mil para a americana. Nessa rodada de financiamento, a empresa levantou US$ 500 milhões em ações e dívidas, com uma avaliação pré-monetária de US$ 2,25 bilhões.

Nas vendas, o crescimento tem aparecido. As receitas da Indigo foram de US$ 163 milhões em 2020, avançaram para US$ 528 milhões em 2021 e atingiram US$ 1 bilhão no ano passado.

Com essa tendência, o normal seria o valor de mercado seguir uma tendência positiva.

Em seu X, antigo Twitter, o chefe da Upstream Ag, Shane Thomas, afirmou que uma explicação poderia estar em uma provável falta de tração no software e nos negócios microbianos da Indigo.

Já Clint Fischer, da Braintrust Ag, publicou na mesma rede social que, em conversas com pessoas do segmento nos Estados Unidos, a opinião sobre a Indigo foi clara: as agtechs estão tão desconectadas dos “agricultores reais”, o que torna esse tipo de resultado inevitável.

Além disso, ele pontuou que a pressão dos investidores de capital de risco (Venture Capital) por escala e retornos elimina o crescimento orgânico e a adequação do produto ao mercado.

Shane Thomas também declarou ao AgFunder News, veículo de comunicação do AgFunder, fundo de venture capital com foco em agtechs, que essa mudança de avaliação na Indigo pode estar relacionado com o fato de alguns investidores reconhecerem que empresas ditas como “techs”, não são de fato tecnológicas, e sim “capacitadas para tal”. Com isso, a avaliação dos múltiplos financeiros muda.

Nos últimos anos, a Indigo adquiriu a Soil Metrics, uma empresa que realiza avaliações de sequestro de carbono no solo. O negócio aconteceu em 2021 e não teve seus valores revelados.

Neste ano, a empresa realizou duas rodadas de demissões em sua sede, em Boston (EUA), mas não explicou se o motivo está relacionado a fatores macroeconômicos ou problemas internos da empresa.

Outra hipótese, levantada pelo sócio fundador da AgFunder, Rob Leclerc, é que o dinheiro levantado foi muito alto, o que traz uma expectativa muito grande para a indústria de agtechs, que ainda não trouxe muitos players bilionários para o jogo.

A Indigo Ag é uma empresa de muitas frentes. Se no início começou a atuar com micróbios vegetais para aumentar rendimentos de culturas como algodão, milho e soja, passou a expandir os negócios até para programas de comercialização e logística.

Por fim, a empresa ainda criou um sistema de remuneração por créditos de carbono, a Carbon By Indigo.

Essa falta de um negócio principal pode ter atrapalhado o dia a dia da empresa na visão do mercado. A própria Indigo Ag já se descreveu como “cinco startups em uma só”. Terá sido demais?