O Brasil plantará mais área de soja na temporada 2025/2026. Mesmo com os desafios no crédito, a consultoria Agroconsult, de André Pessoa, espera que sejam plantados 48,8 milhões de hectares com a oleaginosa na temporada, um avanço de 2,1% frente à temporada anterior, ou cerca de 1 milhão de hectares a mais.

O avanço decorre, segundo Pessoa, principalmente do aumento de áreas de pastagem degradada que foram convertidas para agricultura, principalmente em regiões de fronteiras agrícolas. Esse avanço acaba contagiando toda uma cadeia, em especial a de insumos para acelerar esse processo de recuperação.

A Viter, unidade de insumos da Votorantim Cimentos, está no centro dessa dinâmica. Segundo o gerente geral da Viter, Marcelo Giuliano Sousa, o crescimento desse mercado influencia bastante os negócios da companhia. “É um grande ‘puxador’ das vendas da empresa”, disse.

Ele explica que, em condições normais - sem recuperação - o agricultor compra, em média, uma tonelada de calcário para aplicar em um hectare de plantio, compra essa que não é feita todo ano.

Nas pastagens degradadas em processo de conversão, são cerca de 10 toneladas por hectare. “Esse avanço na recuperação de pastagens ocorre com mais intensidade no Centro-Norte. As modernizações de fábrica que fazemos para ganhar mais eficiência visam atender esse mercado crescente e a demanda que surge a partir disso”, diz Sousa.

Dentro dessa estratégia, a empresa iniciou na última semana a operação em um novo galpão de estocagem exclusivo para insumos agrícolas na cidade de Nobres (MT). A unidade permite à empresa manter em estoque produtos mesmo na entressafra, o que pode agilizar as entregas quando a demanda aumentar.

“É um investimento que reforça o nosso compromisso com a qualidade dos produtos e o atendimento contínuo ao agricultor do Mato Grosso”, disse o gerente geral da Viter.

O novo galpão da Viter faz parte de um pacote de R$ 330 milhões em investimentos anunciados pela Votorantim Cimentos em Mato Grosso, em agosto deste ano, que considera ampliações e modernizações nas unidades de Nobres e de Cuiabá.

Esse investimento também elevará em mais de 20% a capacidade de produção de calcário agrícola na fábrica de Nobres, que passará das atuais 740 mil toneladas por ano para 900 mil toneladas anuais.

A companhia tem atualmente oito unidades próprias em operação e outra em parceria. As plantas próprias estão localizadas no Tocantins (cobrindo parte dos estados do Tocantins, Maranhão, Piauí e Pará), em Nobres (no Mato Grosso), Sobradinho (próximo a Brasília, que atende Distrito Federal, um pedaço de Goiás e até um trecho do Oeste da Bahia), Itaú de Minas (no Sul de Minas, que fornece também para a região Norte de São Paulo), Salto de Pirapora (próxima a Sorocaba, voltada para as usinas de cana da região), Itapeva (Sul de São Paulo e regiões do Paraná), além de Itaperuçu e Rio Branco do Sul (ambas próximas a Curitiba, que atendem ao Paraná).

De acordo com Marcelo Giuliano Sousa, 2025 tem sido um ano bom para os negócios. “Quem está no agro não pode reclamar, pois a produtividade vem boa, com condições climáticas favoráveis em todo o País, com exceção de regiões muito específicas. Quando comparamos com a safra anterior, 2025 será um ano melhor. O produtor vai produzir mais”, diz.

“Isso obviamente reflete nas empresas, aumenta a demanda por exemplo do calcário agrícola. Não temos oficialmente o número, porque isso acontece na metade do ano seguinte, mas pelos volumes, sentimos que o mercado está maior do que ano passado”, acrescenta o gerente geral da Viter.

Na comparação da última safra, encerrada na metade deste ano, em relação à temporada passada, Sousa estima um crescimento de 10% a 15% nos volumes, mesmo com o desafio do crédito batendo na porta de todo produtor rural.

“O agricultor vem de um ano de 2024 com redução na rentabilidade e produtividade, o que traz uma geração de caixa menor e necessidade de crédito. Esse tem sido o maior desafio: dar crédito para os clientes e continuar crescendo”, afirma.

Por conta da exposição regional que a Viter tem hoje, grande parte do mercado consumidor atendido é o de cultivo de soja e algodão. Sousa cita ainda que a empresa também atua com produtores de milho no Mato Grosso e estados do Matopiba (Maranhão, Tocantins, Piauí e Pará), e nas culturas de hortifruti, feijão e café a partir da unidade de Sobradinho.

No Sudeste, atua com cana, café e citros. No Sul, com soja e trigo.

Na frente de fertilizantes, onde atua com o que Sousa chama de “fertilizantes do Brasil” - cálcio, magnésio, enxofre e micronutrientes - a empresa escapa da comoditização do importados NPK, visto pelos produtores como detrator de margem na safra atual.

Segundo Sousa, esse segundo segmento tem crescido com mais consistência e oferece previsibilidade operacional maior que a cadeia tradicional de NPK.

Ele lembra que fornecedores de nutrientes com origem nacional permitem ao produtor reduzir exposição cambial e manter o foco na correção e construção de solo, um ponto crítico num momento de margens mais apertadas.

A aposta mais recente da companhia nessa frente é o Optimix Boro, lançado inicialmente em 2024 e em seu primeiro ciclo comercial completo agora em 2025.

O produto combina calcário, gesso, boro e outras fontes minerais em uma mistura industrial homogênea, pensada especialmente para soja e algodão em regiões como o Mato Grosso. Para 2026, a Viter quer ampliar a oferta e a distribuição desse portfólio multi-nutriente a partir de Nobres.

O gerente geral da Viter afirma que a empresa continuará ampliando capacidade produtiva nas unidades já existentes, além de observar oportunidades em regiões onde ainda não possui presença relevante.

Estados como Rio Grande do Sul, Oeste da Bahia, Mato Grosso do Sul e parte de Goiás seguem no radar, seja por meio de novas fábricas, seja por parcerias, como a operação que a empresa mantém atualmente com a Morro Verde em Minas Gerais.

A expansão da Viter faz parte de um plano de cinco anos e R$ 5 bilhões da Votorantim Cimentos iniciado no ano passado. Com o avanço dos negócios no agro, a Viter tem ganhado contornos cada vez mais robustos dentro do plano.

Resumo

  • Recuperação de pastagens impulsiona compras de calcário e puxa o ritmo das unidades da Viter
  • Novo galpão em Nobres (MT) reforça logística e integra pacote de R$ 330 milhões para elevar a produção de calcário agrícola a 900 mil t/ano
  • O segmento de fertilizantes nacionais avança com mais previsibilidade que o NPK importado, enquanto a companhia prepara expansão regional e portfólio multinutriente