Hannover (Alemanha) - Nas próximas semanas, executivos da russa Horsch, da alemã Amazone, da sueca Vaderstad e da sul-africana Rovic devem desembarcar na cidade de Caldas Novas, em Goiás.
Serão recebidos lá por José Roberto Assy, engenheiro agrônomo, empresário e “inventor”, como se define o criador da J.Assy, indústria brasileira especializada na produção de equipamentos e sistemas para plantio e vão visitar a sede da empresa, hoje uma verdadeira multinacional de tecnologia agrícola.
As visitas foram acertadas há poucos dias diretamente com Zé Roberto, como ele mesmo costuma se apresentar, durante a participação da companhia na zona brasileira da Agritechnica, a maior feira do mundo do mundo do segmento de máquinas agrícolas, realizada em Hannover, na Alemanha.
O evento, de certa forma, marcou a entrada definitiva da J.Assy no mercado europeu. Na Agritechnica, Zé Roberto comemorou contratos – foram declarados por ele cerca de US$ 500 mil em vendas no evento.
O valor é pequeno, mas mais relevante que isso está o fato de abrir as portas para conquistar potenciais novos clientes, como as indústrias que fazem as malas para conhecer a “multinacional goiana”.
A J.Assy vem se infiltrando de forma silenciosa na Europa, onde já atende clientes como a polonesa Mzuri e a distribuidora ucraniana Frendt, que aproveitaram a feira na Alemanha para encher o carrinho com produtos da fabricante brasileira.
Segue, no Velho Continente, a mesma estratégia que a levou a ter uma operação na América do Norte, onde fornece seus equipamentos de agricultura de precisão para as canadenses Bourgault e Air Guard, por exemplo.
Ao todo, Zé Roberto projeta faturar lá US$ 3,5 milhões no próximo ano, o que significaria triplicar a receita atual. “Em três ou quatro anos, chegaremos em US$ 10 milhões nos Estados Unidos. Isso é muito icônico, sabe? Assim vamos ser realmente uma empresa norte-americana, será nosso ticket de entrada”, ressalta ele, em entrevista ao AgFeed.
Uma das principais vitrines da J.Assy na Europa (e assim foi na Agritechnica) é a parceria com a Nexat, criadora da chamada “Máquina Monstro” que executa todas as atividades a campo, desde o preparo do solo até a colheita, em uma mesma plataforma de 14 metros de vão livre.
Para a montadora alemã, a J.Assy embarcou o seu Selenium Neo, o dosador pneumático para plantio em alta ou média velocidade que é o único do mercado com a tecnologia de dois motores sincronizados, possibilitando ajuste na dosagem de sementes e da esteira.
“A Nexat já está usando nosso dosador, recentemente lançado, nos seus primeiros clientes na Bahia. Os testes demonstraram a altíssima precisão da nossa tecnologia na máquina deles durante a feira em Hannover. Isso fez com que nossa reputação aumentasse bastante, foi muito relevante”, ressalta o fundador da J.Assy.
A entrada e expansão no mercado europeu já vinha sendo planejada nos últimos anos, conforme o próprio empreendedor já havia adiantado ao AgFeed em uma conversa em 2023.
A execução do plano começou recentemente com a participação da J.Assy em sua terceira feira. “Temos feito bastante sucesso na Europa Ocidental”, comemora José Roberto Assy.
Ele avalia que essa região tem uma barreira de entrada muito maior do que os países da Europa do Leste e, por isso, destaca como uma verdadeira vitória o fato de sua “tecnologia goiana” já ser vendida para alemães, italianos, franceses e poloneses, entre outros.
De acordo com o fundador e diretor da J.Assy, a empresa sempre apresenta produtos novos porque realiza investimentos altos, de até 35% do faturamento, em pesquisa e desenvolvimento (P&D).
Nos últimos três anos, revela, foram aplicados US$ 20 milhões nesse item e a meta da empresa é ampliar a aposta na vanguarda.
“Temos mais 140 patentes registradas e o maior centro de pesquisa de plantio e semeadura mundial”, afirma ele com um inegável ar de satisfação e otimismo.
O brasileiro lembra que sua empresa possui duas unidades, uma em São Paulo e outra em Curitiba, com o foco voltado para desenvolver novas tecnologias, nos quais trabalham aproximadamente 100 engenheiros.
Se por um lado a frente de pesquisa e desenvolvimento é o orgulho do goiano, a estrutura comercial começa a ganhar importância nos planos externos da J.Assy.
“Além do Brasil, nós já temos operação na Argentina, nos Estados Unidos e no Canadá. Agora estamos aterrissando na Europa”, acrescenta José Roberto Assy.
Aporte do BNDES
O espírito inovador de Assy ganhou, no âmbito doméstico, um estímulo extra nos últimos dias. A empresa recebeu, no início de novembro, um aporte de R$ 22,5 milhões do programa BNDES Mais Inovação, do banco de fomento estatal, que viabilizará a fase de testes conhecida como TRL 5 para validar conceitos e assegurar a viabilidade técnica da mais nova aposta do inventor.
Desenvolvimento desde 2022, o projeto prevê a criação de uma plantadeira semiautônoma com características inéditas no mercado global.
A expectativa é de que até 2028 estejam finalizados os protótipos funcionais aptos para a realização de testes em condições reais de operação junto a parceiros do setor agrícola, possibilitando em seguida o início da produção industrial.
O equipamento funcionará por meio de um sistema híbrido diesel-elétrico e contará com diversas tecnologias de monitoramento desenvolvidas pela empresa.
A plantadeira será capaz de realizar o plantio de sementes de forma autônoma, sem a necessidade constante de um operador humano, seguindo rotas pré-definidas, com monitoramento remoto em tempo real e alta precisão na colocação horizontal e vertical das sementes.
O diferencial tecnológico inclui sensores, atuadores, câmeras e inteligência artificial para navegação autônoma, além de um sistema que permitirá fácil acoplagem de diferentes implementos agrícolas.
O investimento do BNDES representa uma mudança estratégica para a J.Assy, conhecida por sua cultura de independência financeira – na entrevista de 2023, Zé Roberto chegou a dizer que tinha “medo do capital” e que “se pegar um financiamento, passo álcool gel, por que o que vem de coisa por aí…”.
Os mais de R$ 100 milhões aplicados nos últimos três anos em P&D foram, de fato, recursos próprios. Entretanto, para ganhar o mundo, o empreendedor admite que precisou rever um pouco seus conceitos.
“No mercado no qual estamos entrando, não dá mais para ser tudo com o nosso recurso próprio. Já começa a entrar em um outro nível de competitividade. Chega uma hora em que a coisa fica grande”, reconhece Zé Roberto, ao lembrar que a já possuem representantes em nove países.
Para se consolidar no mercado internacional, a J.Assy revela que não vai ficar apenas na plantadeira: vem aí novas máquinas autônomas, de Goiás para o mundo.
Resumo
- J.Assy consolida entrada na Europa, firmando parcerias e ampliando vendas após destaque na Agritechnica
- Empresa investe pesado em P&D, com mais de 140 patentes e foco em tecnologias de plantio e agricultura de precisão
- Aporte do BNDES impulsiona projeto de plantadeira semiautônoma e nova linha de máquinas autônomas para o mercado global