No agro, acesso a software, dados e gente certa em tempo real está mudando o jogo. É isso que traz eficiência contínua dentro da fazenda e da indústria, em um momento em que o capital ficou mais seletivo e a margem mais apertada.

Quem antes se apoiava só em volume e expansão de área agora precisa provar resultado, com número na mesa e decisão bem embasada.

A equação é simples: tecnologia + tempo = eficiência contínua.

Em 1950, uma lata de refrigerante/cerveja pesava mais de 72 gramas. Hoje pesa pouco mais de 10 gramas. O produto não mudou, a experiência não mudou, o prazer não mudou, só o peso. Mais valor, menor custo, sustentabilidade e consequentemente mais margem. Essa é a lógica da desmaterialização.

A lata não ficou mais leve de uma vez. Foi resultado de eficiência contínua, pequenas melhorias técnicas ao longo dos anos que criaram um produto melhor, mais barato e mais sustentável. É exatamente esse tipo de eficiência que o agro precisa perseguir com software e dados.

Quando olho para o agronegócio, vejo a mesma oportunidade. No campo, desmaterializar significa produzir a mesma saca, o mesmo litro de leite, a mesma arroba, com menos adubo desperdiçado, menos pulverização desnecessária, menos hora de máquina rodando sem propósito, menos retrabalho administrativo.

Não é teoria. É benefício direto no bolso: custo evitado, recurso poupado, risco reduzido. É a lógica da lata aplicada à fazenda e à indústria.

Essa mudança tem um motor claro: o software. Entramos na era em que o software engole tudo, e o agro não é exceção.

Primeiro vieram os sistemas. Depois, os dados. Agora estamos entrando na fase em que o próprio serviço vira software.

O modelo de software as a service, onde os serviços estão inseridos em softwares e vice versa, veio para ficar. Toda a indústria precisa se adaptar.

Em vez de comprar pacote fechado e ativo pesado, produtor e indústria passam a acessar inteligência como serviço.

Modelos climáticos, processamento, visão de risco, tudo isso pode ser contratado por uso. Não se imobiliza capital em estrutura que fica subutilizada. Paga-se para usar exatamente o que é necessário, no momento certo.

Isso nos leva a outra virada importante: a troca silenciosa do mundo do ativo pelo mundo do acesso.

Durante muito tempo, o jogo foi simples. Quem tinha mais terra, mais máquina, mais armazém, mais estrutura física, saía na frente. Era um jogo de acúmulo de ativo.

Agora, o que passa a determinar a vantagem não é só o ativo que você possui, é o acesso que você tem. Acesso a dados de qualidade, a software confiável, a modelos de decisão, a redes de relacionamento, a capital inteligente.

O trator continua importante. Mas o que define o quanto ele produz é o software que decide onde ele entra, quando opera, em que velocidade e com qual dose.

É aqui que a conversa das safras muda de patamar. No agro sempre falamos das duas safras que enchem armazéns e caminhões: a safra principal e a segunda safra, soja e milho, milho e boi, grão e fibra. Sempre produto físico, algo que se pesa, se mede, se embarca.

Só que, em paralelo a essas duas, começa a nascer uma terceira safra, completamente diferente. As duas primeiras são produtos. A terceira são dados.

Cada talhão colhido, cada aplicação feita, cada análise de solo, cada ordem de serviço na oficina, cada nota fiscal emitida, tudo isso gera um rastro de informação. Esse rastro pode virar decisão melhor, custo menor, risco mais bem precificado, crédito mais barato, novo produto, nova fonte de receita.

A terceira safra não ocupa silo, não precisa de carreta, mas é ela que, cada vez mais, vai determinar quem fica no jogo.

O mercado está caminhando para ficar muito mais eficiente, com muito mais dados e com muito menos assimetria de informação. Vemos o capital ficando mais seletivo, instituições financeiras/investidores fazendo mais perguntas e aceitando menos promessas sem lastro em adoção real.

Essa dinâmica faz com que apenas os melhores e mais preparados se destaquem: os que adotam tecnologia, constroem processos, cuidam de governança financeira e jurídica, olham para risco com seriedade e não com improviso.

O mercado mostrou isso neste ano. Mostrou que fluxo de capital não é infinito, que paciência tem limite, que resultado importa. O mercado avisa poucas vezes - e quando ele fala é bom escutar.

No agro, a mensagem é clara. Estamos entrando na fase em que software e dados comandam. A primeira e a segunda safra continuam sendo fundamentais. Ninguém vive de dado se não tiver grão, fibra e proteína saindo do campo.

Mas a diferença de margem entre um produtor e outro, entre uma indústria e outra, vai estar cada vez mais ligada à capacidade de colher essa terceira safra invisível e colocá-la para trabalhar. Quem tratar dado como lixo vai perder dinheiro. Quem tratar dado como safra vai ganhar competitividade.

O problema é que essa terceira safra ainda é, em grande parte, perdida no campo. Falta conectividade em muitas regiões. Falta integração entre sistemas que não conversam. Falta disciplina para registrar, organizar e tratar a informação de forma estruturada. E falta, principalmente, a decisão consciente de migrar do modelo baseado em ativo isolado para o modelo de acesso permanente à inteligência.

Enquanto isso não acontece, o agro continua operando com uma lata pesada, carregando mais metal do que precisa para entregar a mesma bebida.

A desmaterialização já chegou ao agronegócio, gostemos ou não. Máquinas cada vez mais digitais, fluxos cada vez mais automatizados, decisões cada vez mais baseadas em dados, crédito cada vez mais conectado a indicadores objetivos, regulações cada vez mais exigentes. Quem se adiantar e abraçar essa lógica vai colher margem, eficiência e competitividade.

Quem resistir vai descobrir, da forma mais dura, que o mercado não premia quem ignora sinais.

Estamos justamente nesse momento de inflexão em que se preparar faz toda a diferença. Preparar significa enxergar software não como custo, mas como alavanca de desmaterialização. Significa tratar dados como safra, e não como papelada. Significa aceitar que o jogo deixou de ser apenas de quem acumula ativo, para ser também, e cada vez mais, de quem tem acesso à melhor informação e às melhores conexões.

Produtores e indústrias precisam se mexer, mas quem está do lado da tecnologia também. O papel de quem constrói soluções, investe capital e lidera inovação é transformar essa eficiência contínua em produto simples, contrato claro e resultado medido.

A lata já ficou mais leve. Agora é a vez do ecossistema do agro tecnológico provar que sabe colher essa safra intangível.