Um prejuízo líquido de R$ 2,3 bilhões, uma dívida que ultrapassou R$ 50 bilhões e mais um indício de que, operacionalmente, o ano será difícil. Esse é o resumo do balanço referente ao segundo trimestre (período de julho a setembro de 2025) do ano-safra 2025/26 da Raízen, que divulgou seus números na noite da última sexta-feira, 14 de novembro.

O resultado de mais um resultado ruim é a repetição de um cenário de desânimo dos investidores com suas ações. No pregão desta segunda-feira, 17 de novembro, a companhia do grupo Cosan via, por volta das 13h, via o seu papel recuar 2,3%, cotado a R$ 0,84. Mais cedo, o recuo chegou a quase 5%.

No ano, as ações da Raízen já pederam mais de 60% de seu valor.

Em relatório, o analista do banco Citi, Gabriel Barra, mencionou que os resultados da empresa vieram, além de menores do que o apresentado um ano antes, piores do que o projetado por ele.

O banco esperava um prejuízo líquido de R$ 450 milhões e uma receita de R$ 62 bilhões. O faturamento da Raízen ficou, entretanto, em R$ 59 bilhões no trimestre, uma retração de 17,8% em um ano.

Grande parte desse resultado, segundo a própria companhia, se deu por efeitos da hibernação e vendas de ativos, que somaram aproximadamente R$ 1 bilhão negativos.

A ideia da empresa é que esses desinvestimentos, que já totalizam cerca de R$ 4 bilhões, comecem a entrar no caixa com mais força nos próximos trimestres. Em uma call realizada com investidores e analistas para apresentar os resultados, o CEO da Raízen, Nelson Gomes, citou que a empresa já registrou R$ 900 milhões em entradas de caixa provenientes de vendas já concluídas.

A queda na receita se deu tanto por uma operação mais enxuta, que deixou de contar, por exemplo, com a operação das usinas Santa Elisa e do bioparque MB, como por vendas mais fracas no açúcar e etanol, resultado direto de uma produção também mais sucinta.

As vendas próprias de açúcar caíram 28,5% na comparação anual, para 1,5 milhão de toneladas. No etanol, os volumes recuaram 16,1%, para 817 mil metros cúbicos.

A Raízen até processou mais cana, foram 35,1 milhões de toneladas no trimestre, alta de 6,7% na comparação anual. Apesar disso, viu uma queda na produtividade, com o ATR (Açúcar Total Recuperável) por tonelada caindo 3,7% em um ano, em 141 quilos por tonelada.

Do lado financeiro, a empresa viu a dívida líquida avançar para R$ 53,4 bilhões, alta de 48,8% em relação ao ano anterior. No primeiro trimestre da safra, o indicador estava em R$ 49 bilhões.

Com isso, a alavancagem medida pela relação da dívida líquida e o Ebitda ajustado dos últimos 12 meses subiu para 5,1 vezes, ante 2,6 vezes no mesmo período de 2024. O resultado financeiro líquido se deteriorou e chegou a R$ 2,72 bilhões negativos, um salto de 61% impulsionado pelo CDI mais alto (14,9% ante 10,4%) e pelo maior estoque de dívida.

Gabriel Barra, do Citi, disse no relatório do banco que até observa esforços para melhora na alavancagem e na estrutura de capital, com destaque para redução de despesas e as vendas de usinas, mas o que deve animar o mercado ainda está por vir.

“As ações mais relevantes devem vir da venda da operação de Mobilidade Argentina e do possível aumento de capital, que está sendo avaliado”, afirmou Barra.

Vendo o copo um pouco mais cheio, o analista da XP, Leonardo Alencar, disse também em relatório que os resultados da Raízen vieram “decentes”.

“Os resultados foram razoáveis tanto do ponto de vista de lucros quanto de fluxo de caixa livre”, afirmou. Apesar disso, ressaltou que um trimestre ainda não é suficiente para “aliviar as preocupações do mercado em relação à estrutura de capital da companhia”.

Ele vê que o aumento na dívida e na alavancagem estão em linha com a estratégia de alongar a dívida, movimento que Alencar considera positivo.

Da dívida bruta de R$ 68 bilhões, que desconsidera a posição de caixa, R$ 61 bilhões dos vencimentos estão no longo prazo, de acordo com a Raízen.

Por outro lado, vê a redução de capex (queda de 28% para R$ 1,6 bi em um ano) somada à entrada no caixa da venda de ativos como ponto positivo.

Resumo

  • Raízen amarga queda de 2,30% nas ações após divulgar prejuízo de R$ 2,3 bilhões, dívida crescente e receita menor
  • Operação segue pressionada por volumes mais fracos de açúcar e etanol, produtividade menor no canavial e uma estrutura de capital que se deteriorou
  • Ações da companhia já perderam mais de 60% de valor no ano e analistas acreditam que ainda deve demorar para esforço de reestruturação fazer efeito