A Jalles Machado encerrou o segundo trimestre da safra 2025/3026 (2T26) com lucro líquido de R$ 18,9 milhões, resultado 44% inferior ao mesmo período do ano anterior, em meio ao impacto da quebra de safra no Centro-Sul, à elevação dos custos e efeitos não-caixa no balanço.

Apesar da queda, a companhia apresentou alta de 20,4% na receita bruta, para R$ 710,3 milhões, e Ebitda ajustado de R$ 408 milhões, 27,2% acima do 2T25.

A receita com etanol anidro cresceu 45,1% no trimestre, alcançando R$ 106,3 milhões, enquanto as vendas de hidratado e anidro totalizaram R$ 179,7 milhões no semestre, 47,2% acima do ano anterior. A empresa também capturou margens melhores com o hedge e liquidação financeira de contratos de açúcar e câmbio, que somaram R$ 47,8 milhões no trimestre.

Mesmo com menor produtividade, a receita com açúcar orgânico no mercado externo disparou 83,4% no semestre, para R$ 167,3 milhões, impulsionada pela antecipação de embarques aos Estados Unidos para fugir da nova tarifa de  50% adotada pelo presidente Donald Trump.

O açúcar VHP também teve bom desempenho, com alta de 72% na receita no semestre, totalizando R$ 221,4 milhões. O mercado externo respondeu por 27% da receita bruta da Jalles, com R$ 251,8 milhões no 2T26, crescimento de 27% em relação ao ano anterior.

Segundo comunicado da Jalles, o desempenho reflete a estratégia de gestão de mix e hedge da companhia, uma das maiores exportadoras de açúcar orgânico do mundo.

“Seguimos focados na eficiência operacional e na disciplina financeira, mesmo em um ambiente de preços globais desafiador. A robustez e a sustentabilidade do nosso modelo de negócios nos permitem atravessar esse cenário com consistência”, informou o diretor-presidente da Jalles, Otávio Lage de Siqueira Filho, em mensagem aos acionistas.

A moagem no trimestre foi 3,27 milhões de toneladas de cana, queda de 3,1% em relação ao 2T25, com redução da produtividade agrícola em Goiás e Minas Gerais. A Jalles registrou 73,8 toneladas médias de cana por hectare, 17,1% inferior ao do mesmo período do ano anterior, enquanto o ATR médio consolidado foi praticamente estável, em 150,8 quilos de tonelada.

A companhia ressaltou que a Unidade Santa Vitória, em Minas Gerais, foi menos afetada pela seca, com produtividade 11,9% menor, desempenho superior à média regional, e que vem ampliando a área irrigada. Já a Unidade Jalles Machado, em Goianésia (GO), sofreu maior impacto nas áreas orgânicas, que respondem por cerca de metade do canavial.

O mix de produção da Jalles no 2T26 foi 50,5% destinado ao etanol e 49,5% ao açúcar, refletindo a decisão de priorizar o biocombustível diante de preços mais atrativos. A produção total de etanol somou 146,3 milhões de litros, praticamente estável na comparação anual, mas com alta de 21,8% no etanol anidro, que atingiu 48,7 milhões de litros.

Endividamento controlado e captação

A companhia encerrou setembro com caixa de R$ 1,49 bilhão, suficiente para cobrir amortizações de dívida até a safra 2029/2030, e dívida líquida de R$ 1,85 bilhão, equivalente a 1,2x o Ebitda dos últimos 12 meses.

Em outubro, a Jalles anunciou uma emissão de Certificados de Recebíveis do Agronegócio (CRAs) de R$ 400 milhões para financiar as operações produtivas e alongar o perfil da dívida a custo competitivo.

Analistas

Segundo o analista do Citi Gabriel Barra, o resultado da Jalles, principalmente para o Ebitda, veio ligeiramente acima das estimativas. Barra cita que, mesmo com o avanço operacional, a companhia registrou fluxo de caixa livre ajustado negativo de R$ 58 milhões, devido a maiores desembolsos com capex, juros e leasing no trimestre.

Já a alavancagem de 1,2X está em um nível considerado saudável, na avaliação do analista. O Citi destacou como positiva a estratégia da Jalles de antecipar as vendas de etanol no primeiro semestre da safra, aproveitando margens favoráveis antes de uma esperada queda nos preços, em linha com a tendência de baixa da gasolina e do petróleo.

Por outro lado, a instituição não vê catalisadores relevantes no curto prazo para reverter a tendência de preços mais fracos do açúcar no mercado internacional. “Os resultados vieram levemente acima de nossas projeções, mas não enxergamos esse desempenho como um catalisador positivo, diante do enfraquecimento das cotações de açúcar e etanol”, avaliou Barra.

O Citi também observa que a Jalles vem aumentando o capex de crescimento, com o objetivo de elevar a moagem de cana para cerca de 9 milhões de toneladas nas próximas safras, movimento que, segundo o banco, deve manter o fluxo de caixa livre negativo ao longo do ciclo atual.

Já a equipe da XP lembra que os resultados da Jalles vieram em linha com os problemas enfrentados pelo setor, com indicadores agrícolas sob pressão e levanta dúvidas sobre a capacidade de atingir o guidance do ano.

No entanto, a XP também cita como principal destaque do trimestre a estratégia assertiva de hedge da companhia, garantindo melhores preços para o açúcar nesta e em parte das próximas safras, além de viabilizar uma relevante oportunidade de arbitragem que compensou o aumento dos custos unitários durante o trimestre.

Resumo

  • Lucro da Jalles Machado cai para R$ 18,9 mi no 2T26, impactado por custos altos e quebra de safra, mas receita bruta sobe 20,4% para R$ 710,3 milhões
  • Exportações de açúcar orgânico disparam 83%, impulsionadas por embarques antecipados antes da nova tarifa dos EUA
  • Estratégia de hedge e foco no etanol garantem margem operacional, com Ebitda 27% maior e dívida líquida controlada em 1,2x