Belém (PA) - Depois de muita espera, começou oficialmente nesta segunda-feira, dia 10 de novembro, em Belém (PA), a COP 30, conferência do clima da Organização das Nações Unidas (ONU).
O evento – que contará com cobertura do AgFeed ao longo de toda a sua duração – inicia sob alta temperatura na capital paraense, com os termômetros batendo os 30ºC já no início das manhãs, e recheado de expectativas de todos os lados, dos ambientalistas aos produtores rurais – ainda que com pautas e visões diferentes entre si.
Afinal, neste ano se comemora a primeira década do Acordo de Paris, tratado firmado em 2015 durante a COP 21, na qual 196 países concordaram com manter o aquecimento global "bem abaixo" dos 2ºC em relação aos níveis pré-industriais e a seguir trabalhando para limitá-lo a 1,5ºC.
Mas a "temperatura" das ações dos países parece insuficiente para cumprir essa meta – talvez o mais importante sinal de alerta nesse sentido tenha sido a saída dos Estados Unidos do Acordo de Paris.
Para o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em discurso durante a abertura da COP 30 na manhã desta segunda-feira, em Belém, é hora de acelerar esforços.
“Estamos andando na direção certa, mas na velocidade errada. No ritmo atual, ainda avançamos rumo a um aumento superior a 1,5ºC na temperatura global. Romper essa barreira é um risco que não podemos correr”, disse.
O presidente da COP, embaixador André Corrêa do Lago, repetiu, por sua vez, em seu discurso, que esta é a COP da “implementação”.
O governo federal, por exemplo, espera colocar de pé seu fundo para preservação das florestas em pé, o TFFF (Fundo Florestas Tropicais para Sempre), que tem a meta ambiciosa de conseguir US$ 25 bilhões em recursos.
Até aqui, já foram mais de US$ 5,5 bilhões, com contribuição em recursos de países como Noruega, Indonésia, Suíça, França, Alemanha, e Portugal, e apoio de 52 países e da União Europeia.
Em paralelo, o agronegócio brasileiro chega à COP com a expectativa de que o setor seja reconhecido como ferramenta global para o enfrentamento às mudanças climáticas.
Na semana passada, o ex-ministro da Agricultura e Pecuária e enviado especial da COP para agricultura, Roberto Rodrigues, entregou nas mãos de André Correia do Lago um paper no qual o setor defende que a agricultura tropical é peça central na agenda de mitigação e adaptação climática e que o modelo produtivo construído no Brasil pode ser introduzido em diferentes países.
“Acho que [a COP 30] é uma oportunidade única de o Brasil mostrar ao mundo que é possível fazer comida no sistema tropical, gerando energia, gerando emprego, melhorando a questão social e cuidando do clima”, afirmou Rodrigues ao AgFeed.
Na semana passada, o secretário-geral da ONU, Antonio Guterres, criticou ferozmente a continuidade do uso de combustíveis fósseis. “Investir em combustíveis fósseis é apostar contra a humanidade, e contra suas próprias economias”, disse.
Isso poderia abrir espaço para incentivar ainda mais a adoção global de biocombustíveis como o etanol brasileiro, vindo da cana-de-açúcar e que já é reconhecido por ter pegada de carbono bem mais baixa na comparação com a gasolina.
Mas ainda há dúvidas, principalmente vindas da União Europeia, onde ainda persiste a visão de que essas fontes não seriam totalmente sustentáveis, seja pela suposta competição com a produção de alimentos, seja pelos possíveis impactos ambientais ligados à sua fabricação.
Enquanto tentam influenciar de alguma forma as discussões da COP, os principais nomes do setor tentam também sair da COP resolvendo as dúvidas em cima do Plano Clima, que norteia as ações do Brasil para o enfrentamento às mudanças climáticas e para o cumprimento das metas do Acordo de Paris.
Apesar de o problema ser interno, ligado à política ambiental brasileira, o Plano Clima norteia as ações do Brasil para o enfrentamento às mudanças climáticas e para o cumprimento das metas do Acordo de Paris
Entidades representativas do agronegócio como CNA e FPA têm feito diversos questionamentos ao texto do plano, conduzido pelo Ministério do Meio Ambiente.
Após as manifestações dos grandes nomes do agro, até o Ministério da Agricultura e Pecuária fez coro e pediu formalmente à pasta chefiada por Marina Silva que fossem feitas alterações.
As críticas recaem, sobretudo, à conta da quantidade de emissões de gases do efeito estufa que terão de ser reduzidas agricultura e pecuária nos próximos anos, previsto no Plano Setorial da Agricultura e Pecuária, presente na Estratégia Nacional de Mitigação, parte integrante do Plano Clima.
De acordo com o plano do Executivo, a agricultura e pecuária precisariam, já em 2030, reduzir de forma significativa suas emissões líquidas de carbono, passando de 1,393 bilhão de toneladas de CO2 em 2022 para 891 milhões de toneladas, queda de 36%.
O montante de emissões a serem cortadas cresce ainda mais considerando uma perspectiva para a próxima década. Dessa forma, a ideia é que agricultura e pecuária emitam entre 640 milhões e 700 milhões de toneladas de CO2 em 2035, banda que equivale a uma redução de 50% a 54% em relação a números de 2022.
A discórdia surgiu do fato de que o Executivo resolveu colocar, na conta de emissões a serem abatidas pela agricultura e pecuária, 813 milhões de toneladas de CO2 equivalente que correspondem a emissões de desmatamento, enquanto que as emissões relacionadas à produção agrícola e pecuária somam 643 milhões de toneladas de CO2 equivalente.
Roberto Rodrigues defende que a discussão sobre o Plano Clima fique para depois da COP. Mas também há a possibilidade de um acordo sobre o tema sair já durante a conferência, apaziguando os ânimos. É tempo de negociar.
Resumo
- A COP 30 começa em meio à primeira década do Acordo de Paris e à cobrança global por mais velocidade nas ações climáticas
- Brasil abriu a conferência defendendo acelerar esforços, enquanto busca viabilizar o fundo TFFF, de preservação de florestas em países tropicais
- Ao mesmo tempo, o agronegócio nacional busca na conferência o reconhecimento internacional como solução para as mudanças do clima