A SLC Agrícola encerrou o terceiro trimestre de 2025 com prejuízo de R$ 14,5 milhões, apesar de ter alcançado um patamar recorde na receita e nos volumes comercializados.
Os números apresentados no balanço desta quinta-feira, 6 de novembro, refletem alguns movimentos feitos pela empresa ao longo do ano.
Em março, a empresa da família Logemann anunciou a incorporação da Sierentz Agro, adicionando quase 100 mil hectares ao seu portfólio de áreas produtivas desde que assumiu a operação, no último dia 1º de julho.
Agora, com a divulgação dos resultados do trimestre, a SLC também apresentou um novo e ambicioso plano: um projeto de R$ 1 bilhão em irrigação na Bahia, realizado em parceria com um dos maiores fundos de pensão do Canadá – informação antecipada pelo AgFeed.
Entre julho e setembro, a SLC registrou receita líquida de R$ 2 bilhões, alta de 27,9% em relação ao mesmo período de 2024.
No total, foram comercializadas 1,1 milhão de toneladas, um crescimento de 50% na comparação anual. Ambos os números são recordes históricos para a companhia.
No acumulado do ano, a receita líquida já soma R$ 6,2 bilhões, um avanço de 27,1% frente ao ano anterior. O volume comercializado no período também apresentou forte alta, alcançando 2,7 milhões de toneladas, 44,4% acima do registrado em 2024.
Como reflexo desse desempenho, o Ebitda (sigla para lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização) ajustado da empresa no terceiro trimestre cresceu 14,7%, totalizando R$ 531 milhões.
Na última linha, a SLC registrou prejuízo de R$ 14,5 milhões, número mais positivo se comparado às perdas do mesmo trimestre do ano passado, que foram de R$ 17,3 milhões.
O resultado já era esperado pela SLC, disse Aurélio Pavinato, em entrevista a jornalistas após a divulgação dos dados.
“O terceiro trimestre é (um período em que) praticamente não temos reconhecimento de resultados na empresa. Normalmente não dá lucro”, afirmou ele. “Mas quando olhamos o acumulado do ano, vemos um lucro acumulado de R$ 634 milhões, com margem líquida de 10%.”
Olhando para as vendas, o desempenho robusto de soja e milho compensou o recuo no algodão ao longo do trimestre.
O milho foi o principal destaque do período. As vendas do cereal saltaram 80,5%, para 709 mil toneladas, sustentadas por produtividade recorde de 8,2 mil kg/ha no milho de segunda safra e custos 13% menores por tonelada.
O resultado bruto unitário do milho cresceu 281%, atingindo R$ 294 por tonelada, apoiado pela forte demanda interna, custos menores e preços melhores.
A soja também entregou bom desempenho, com alta de 30,2% nas vendas em relação ao mesmo período de 2024, totalizando 177,1 mil toneladas. O resultado bruto da oleaginosa cresceu 1,5% no período.
No algodão, por outro lado, houve queda de 9,5% nas vendas em relação ao mesmo período do ano passado, com 143,7 mil toneladas comercializadas no trimestre.
Houve retração de 25,6% no resultado bruto unitário do algodão, para R$ 2.750 por tonelada, refletindo preços mais baixos e produção impactada por chuvas menores na Bahia, onde a companhia concentra 41% da área plantada do algodão safra.
Mesmo assim, as vendas do caroço de algodão, subproduto da fibra, cresceram 4,8%, chegando a 143,7 mil toneladas ao longo do terceiro trimestre. Uma valorização expressiva do subproduto no mercado ajudou a recompor parte das margens, com o resultado bruto por tonelada subindo 176%, para R$ 340.
A SLC informou ainda que a área total de plantio está estimada em 835,7 mil hectares para a safra 2025/2026, um crescimento de 13,6% em relação à safra 2024/25. A soja, especificamente, terá um aumento de 14,2% na sua área plantada, bem como o algodão e o milho, que terão 11,1% e 29,3% de aumento de área, respectivamente.
Até o dia 4 de novembro, a área semeada de soja totalizava 268,5 mil hectares, correspondendo a 62,3% do previsto, informou a SLC.
Aurélio Pavinato, CEO da SLC, disse que a expectativa da companhia é de uma safra “normal”, com o clima contribuindo para a semeadura das culturas de verão.
“Em setembro choveu mais do que o normal, o que foi muito bom para o início do plantio de Mato Grosso. Outubro choveu menos que o normal, mas foi o suficiente para conseguir continuar o plantio e plantar a soja em Mato Grosso numa época boa e para conseguirmos fazer o plantio do algodão segunda safra em Mato Grosso numa época boa, na janela certa, que é o plantio em janeiro”, disse Pavinato.
Na região Nordeste, onde a SLC também possui operação, as chuvas estão normalizando agora. “No Maranhão, onde tem plantio de segunda safra de milho e de algodão também, então atrasou um pouquinho a chuva, mas agora está normalizando e o plantio vai pegar a velocidade”, afirmou. “Já na Bahia começou a chover, a Bahia está dentro de uma janela normal de plantio”, afirmou.
Pavinato também trouxe mais detalhes sobre o acordo anunciado em conjunto com os resultados, que envolve fundos de investimento de participação (FIPs). Eles vão adquirir e posteriormente arrendar novamente à SLC Agrícola, maior operadora agrícola do País, uma área total de 21.471 hectares hoje pertencentes e cultivadas pela companhia brasileira.
Esses FIPs terão participação de 50,01% da SLC e de 49,9% de uma subsidiária integral do PSP Investments, um dos maiores fundos de pensão do Canadá. O banco BTG Pactual fará a gestão dos veículos.
O PSP aportará, através dos FIPs, capital em dinheiro, proporcional às respectivas participações, totalizando aproximadamente R$ 1,03 bilhão (R$ 914 milhões à vista e R$119 milhões no segundo semestre de 2026).
É com esses recursos que as SPEs pagarão a aquisição de 21.471 hectares agricultáveis da Fazenda Paladino, em São Desidério (BA). A transação em torno da fazenda foi avaliada em R$ 723 milhões, a serem quitados em duas parcelas, sendo R$ 361,5 milhões no fechamento do negócio e de R$361,5 milhões, em março de 2026.
O negócio envolve também a aquisição da infraestrutura existente de duas fazendas, Piratini e Paladino (incluindo irrigação já instalada), pelos valores de R$ 86 milhões e R$ 26 milhões, respectivamente.
Segundo a SLC, “todas as aquisições serão concluídas em condições de mercado, com base em avaliações econômicas já elaboradas por terceiros independentes, em consonância com as melhores práticas de governança corporativa”.
O foco do investimento é implantar nessas fazendas, nos próximos anos, projetos de irrigação em larga escala, com o objetivo de aumentar a produtividade e reduzir o impacto ambiental. A expectativa é chegar, nos próximos anos, a 27.934 hectares irrigados.
“A gente está tendo uma realização imobiliária, então demonstrando para o mercado que as nossas terras têm valor, e nesse caso os investidores estão colocando dinheiro para equalizar os valores”, afirmou Pavinato.
O CEO da SLC ressaltou que o processo é positivo levando em consideração o momento atual, no qual a companhia está mais alavancada em relação ao passado após ter feito vários investimentos em série – a alavancagem hoje é de 2,3x, ante 1,80x ao fim do quarto trimestre de 2024.
“Dívida em até um nível é bom, mas dívida excessiva você sabe o que acontece, quando você tem dívida excessiva, você alavanca demais a empresa, e pode estrangular, como acontece com muitas empresas, muitos grupos, que às vezes se estrangulam e estrangulam o fluxo de caixa”, afirmou.
A ideia é também demonstrar ao mercado que as terras da SLC por si só têm valor, para além do resultado que gera na operação.
“Quando você olha o mercado, ele não precifica todos os mais de R$ 13 bilhões em terras na empresa. Ele precifica a empresa basicamente pelo fluxo de caixa descontado, pelo resultado que gera na operação, para nós ter uma realização imobiliária. Estamos tendo na prática uma realização do ganho imobiliário”, disse.
Resumo
- A SLC Agrícola atingiu uma receita líquida recorde de R$ 2 bilhões no terceiro trimestre de 2025, alta de 27,9%.
- Volume de vendas também foi recorde, atingindo 1,1 milhão de toneladas de commodities agrícolas, avanço de 50% sobre o resultado do ano passado.
- SLC teve prejuízo de R$ 14,5 bilhões no trimestre e empresa alega que resultado já era esperado em função da entressafra.