O histórico encontro entre os líderes dos Estados Unidos, Donald Trump, e da China, Xi Jinping, realizado nesta quinta-feira, 30 de outubro, na Coreia do Sul, produziu, em um primeiro momento, mais palavras do que fatos – com o americano, como seria esperado, sendo mais fértil nesse sentido.

Embora ambos tenham coloca do uma trégua de um ano na guerra comercial entre os dois países, não houve anúncio de acordos no campo agrícola, apenas de intenções, com discursos ainda descalibrados, seguindo o estilo de cada administração.

O tema do comércio de produtos agrícolas, com grandes expectativas dos produtores americanos para a retomada de compras de seus grãos, especialmente a soja, pelos chineses, parece ter ficado em um segundo plano na conversa, que privilegiou questões como uma trégua de um ano na suspensão de transações com terras raras, a solução de um impasse sobre a rede social Tik Tok ou mesmo as restrições às exportações chinesas associadas ao opióide fetanil.

Também não houve comunicados oficiais conjuntos, praxe em reuniões como essa. Assim, o tema das exportações agrícolas americanas surgiu já no avião presidencial Air Force One. Em uma postagem nas redes sociais, Trump, no seu melhor estilo superlativo, disse que “os agricultores americanos ficarão muito felizes”.

“O presidente Xi autorizou a China a iniciar a compra de grandes quantidades de soja, sorgo e outros produtos agrícolas”, declarou.

Depois, respondendo a perguntas de jornalistas a bordo, reforçou: “A China comprará quantidades enormes de soja americana”.

Na versão de Trump, esse movimento chinês seria imediato, mas não houve detalhes a respeito de volumes ou mesmo de que tipo de tarifas incidiriam sobre essas transações.

Duas horas mais tarde, o secretário de Tesouro dos Estados Unidos, Scott Bessent, afirmou que essas compras poderiam chegar a mais 12 milhões de toneladas ainda este ano.

Também teria sido alinhado, segundo ele disse em entrevista à Fox Business, o compromisso chinês de adquirir um mínimo de 25 milhões de toneladas anuais nos próximos três anos.

Do lado chinês, não houve desmentido, mas um comunicado bem menos auspicioso para os agricultores dos EUA. Segundo o Ministério do Comércio da China, os dois países concordaram em expandir o comércio agrícola - não houve menção específica à soja ou qualquer outro produto.

O primeiro reflexo da falta de informações mais claras sobre as tratativas foi um recuo nos contratos futuros de soja na Bolsa de Chicago.

Eles imediatamente caíram até 2,2% — a maior queda intradiária em quase quatro meses, segundo a agência Bloomberg.

Depois da fala de Bessent, reagiram e passaram a operar em alta de 1,7%, reforçando ainda mais as altas dos dias anteriores, que haviam sido infladas justamente por conta da expectativa sobre o encontro.

No início da semana, o próprio Bessent reforçou essa expectativa ao afirmar que esperava que a China fizesse compras “substanciais” de grãos americanos.

O ânimo ficou ainda maior após a ação da trading chinesa Cofco de romper um jejum de cinco meses e retomar a compra de soja americana – informação adiantada pelo AgFeed na terça-feira, 28 de outubro.

Nesse intervalo, a China ampliou as compras no Brasil e na Argentina, causando apreensão e críticas do setor rural americano à estratégia comercial de Trump.

No ano passado, as vendas de produtos agrícolas à China geraram US$ 12 bilhões em divisas aos EUA. Este ano, porém, mesmo que haja agora uma retomada ao fluxo regular de anos anteriores, é muito improvável que esse mesmo patamar seja atingido.

Entre janeiro e maio, quando as compras chinesas nos EUA foram interrompidas, o volume negociado entre os dois países ficou em cerca de 6 milhões de toneladas.

Nos mercados americanos, a especulação nos últimos dias era de que um acordo selaria a compra de volumes entre 5 a 10 milhões de toneladas pelos chineses. Ainda que arinja os 12 milhões anunciados por Bessent – o que é discutível diante de uma janela apertada e das quantidades adquiridas em outros países nos últimos meses – o cômputo anual ficaria bem abaixo das importações chinesas em 2024, que atingiram 22,13 milhões de toneladas de soja americana.

Esse volume já indicava uma queda em relação às médias dos anos anteriores, que superavam os 30 milhões de toneladas por ano. Assim, se confirmada a informação do secretário americano, as 25 milhões de toneladas anuais colocariam o comércio entre os dois países dentro de patamares normais para a atual década.

A nova expectativa agora é que novas encomendas concretas de soja indiquem, na prática, o resultado da conversa entre Trump e Xi.

“Espero que a volatilidade do mercado continue até que vejamos compras concretas de cargas”, disse Joe Davis , diretor da corretora Futures International LLC, à Bloomberg.

*Reportagem atualizada às 10h40 para inclusão das falas de Scott Bessent.

Resumo

  • Reunião entre Trump e Xi na Coreia do Sul teve tom conciliador, mas sem acordos concretos ou comunicados conjuntos
  • Trump afirmou que a China comprará “enormes quantidades” de soja americana, sem detalhes sobre volumes ou tarifas
  • Falta de clareza derrubava os futuros da soja em até 2,2%, mas fala de secretário americano reverteu tendência para alta