Mesmo sendo o maior produtor de feijão do mundo, com cerca de 6 milhões de toneladas ao ano, a Índia precisa importar a leguminosa de outros países.

Além da óbvia demanda interna - é necessário abastecer uma população de quase 1,5 bilhão de pessoas - também há um traço cultural marcante que explica o interesse dos indianos em importar feijão: quase metade da população é vegetariana, o que aumenta o consumo de leguminosas e deixa as carnes de lado.

Diante desse cenário, produtores brasileiros de feijão vêm aproveitando a oportunidade para ampliar as vendas ao mercado indiano nos últimos anos e, agora, comemoram um volume histórico de exportações.

De acordo com dados divulgados nesta terça-feira, dia 7 de outubro, pelo Instituto Brasileiro do Feijão e Pulses (Ibrafe), o Brasil exportou 361,8 mil toneladas de feijão até setembro de 2025, o maior volume já registrado nesse período, e uma alta de 4,3% em relação aos números obtidos entre janeiro e setembro de 2024, haviam sido remetidas para o exterior 346,6 mil toneladas de feijão brasileiro.

A maior parte do volume que é exportado vai para a Índia (207,5 mil toneladas). O mercado indiano é visto como grande potencial pelo Ibrafe – mas também não está totalmente imune a riscos.

A Índia costuma importar 1 milhão de toneladas por ano, segundo o presidente do Ibrafe, Marcelo Eduardo Lüders, mas o volume pode ser elástico, uma vez que os governos indianos costumam limitar - com barreiras tarifárias e não-tarifárias - a importação de alimentos, visando atender suas bases eleitorais, formada por agricultores.

“A Índia é dura na queda na hora de liberar ou facilitar as importações agrícolas. Cada vez que isso ocorre os produtores locais protestam pedindo mais apoio à produção local. Eles não entendem que isso é feito por necessidade, para colocar alimentos na mão da população”, contextualiza Lüders, em entrevista ao AgFeed.

Assim, os produtores brasileiros têm buscado diversificar seus destinos de exportação, enviando feijão para países como Paquistão (18,6 mil toneladas até setembro), Portugal (16,6 mil toneladas), África do Sul (16,6 mil toneladas) e Venezuela (14,4 mil toneladas).

O carro-chefe das exportações da leguminosa em 2025, de acordo com o Instituto Brasileiro do Feijão e Pulses (Ibrafe), é o feijão-mungo-preto, uma novidade entre os produtores. A variedade somou 171 mil toneladas embarcadas até setembro, 47% de todo o volume exportado no período.

Originário do sul da Ásia, o feijão mungo preto não era cultivado no país até recentemente. No ano passado, a variedade foi lançada pelo Instituto Agronômico de Campinas (IAC) e logo ganhou força entre os indianos, que utilizam a leguminosa principalmente em ensopados.

Outros tipos de feijão também ganharam força ao longo desse ano, caso do feijão-caupi branco, produzido principalmente no estado de Mato Grosso, que respondeu por mais de 66 mil toneladas, seguido pelo feijão preto, com 59 mil toneladas, e pelos feijões rajado, vermelho e branco, que somam 54 mil toneladas.

As exportações de feijão oscilaram ao longo da última década na faixa das 150 mil de toneladas, e desde o último ano, tiveram um impulso significativo, passando para a casa das 300 mil de toneladas.

Gergelim acompanha crescimento

A alta nos embarques de feijão é decorrente de um projeto chamado Brazil Super Foods, uma parceria entre a ApexBrasil, agência de promoção de comércio exterior do governo federal e o Ibrafe.

Por meio de ações de marketing internacional e presença em feiras estratégicas, o projeto vem consolidando a imagem do feijão - e também o gergelim - brasileiro como um superalimento de alto valor nutricional e com sustentabilidade comprovada.

Com isso, o gergelim também vem ganhando impulso. Até setembro deste ano, o Ibrafe contabilizou que foram embarcadas 349,67 mil toneladas de gergelim para o exterior – sendo que, somente no mês passado, o Brasil exportou 109 mil toneladas, aumento de 60,3% em relação a agosto.

Os principais destinos foram China (64 mil toneladas, 58% do total), seguido por Índia (23 milhões toneladas), Vietnã (7 mil toneladas) e Turquia (6 mil toneladas).

“Com esse volume nos consolidamos entre os maiores exportadores mundiais da oleaginosa, que alimenta a produção de terrine e óleo”, comemorou Marcelo Eduardo Lüders, presidente do Ibrafe.

"Feijão e gergelim deixaram de ser culturas complementares e passaram a ser pilares da nova pauta exportadora do agro brasileiro, com alto valor agregado e reconhecimento mundial", complementou Lüders.

Com reportagem de Italo Bertão Filho

Resumo

  • O Brasil exportou 361,8 mil toneladas de feijão de janeiro a setembro de 2025, um volume recorde, com alta de 4,3% em relação ao mesmo período do ano passado.
  • A Índia se destaca como principal compradora e o feijão-mungo-preto é o mais exportado, uma novidade entre os produtores.
  • O Ibrafe contabilizou a exportação de 349,67 mil toneladas de gergelim, de janeiro a setembro, que também vem sendo beneficiado por ações de marketing.