Que o BTG Pactual tem olhado cada vez mais para o agronegócio não é novidade para ninguém: eventos dedicados ao setor, Fiagros, Trading, fundo bilionário de florestas e uma carteira de crédito de quase R$ 20 bi no setor ao final do terceiro trimestre deste ano, são só alguns exemplos dessa incursão no campo.

Na manhã desta terça-feira, 9 de dezembro, o banco de André Esteves anunciou um novo passo nessa trilha. Segundo um release enviado à imprensa, o BTG firmou uma parceria com a Ceres Investimentos, gestora dedicada ao agro, com R$ 6 bilhões de volume financeiro sob gestão, numa transação que prevê que o banco possa deter até 49,9% do capital da empresa.

O comunicado cita que a ideia é “fortalecer a atuação no setor com capilaridade, tecnologia e presença local”.

“É uma parceria que reforça nossa estratégia de expansão no agro com escala, profundidade regional e proximidade com todos os elos da cadeia”, disse Roberto Sallouti, CEO do BTG Pactual, na nota.

A Ceres Investimentos nasceu entre 2018 e 2019 por iniciativa de Guilherme Cunha, um experiente executivo que já esteve do outro lado da cadeia.

Depois de mais de uma década na JBS, Cunha foi CFO da Ubyfol, companhia fabricante de insumos de Uberaba (MG). Responsável pela gestão financeira e levantamento de capital, ele sentia a dor do produtor ao notar que os bancos tradicionais não traziam linhas de crédito customizáveis, e sim tentavam adaptar a empresa dentro de “caixas”.

Foi então que resolveu bater de porta em porta na Faria Lima atrás de grandes fundos para estruturar operações de crédito no agro a partir do mercado de capitais. Assim, a empresa nasceu como uma consultoria, a Ceres Consult.

Nas primeiras operações, estruturou operações tailor made, incluindo com a própria Ubyfol, e desde então o negócio escalou.

“Inicialmente pegamos a fruta baixa - a fruta do crédito. À medida que fomos ganhando maturidade na operação, acessamos outras frutas, muitas até por uma necessidade. Hoje a Ceres é, naturalmente, uma originadora de crédito, mas também securitizadora e asset. Temos quase R$ 6 bilhões de volume financeiro sob gestão”, explicou ao AgFeed Diogo Ruas, diretor de Marketing Estratégico, Inteligência Comercial e Dados da Ceres.

A companhia origina CRAs e estrutura fundos multicedentes e multissacados, além de atuar com antecipação de recebíveis do setor.

O site da empresa cita mais de R$ 1,5 bilhão em operações estruturadas e mais R$ 1 bi em fundos. Nos CRAs, a empresa já atuou junto a empresas como Ruiz Coffes, Alvoar Lácteos e Agrofito.

A Ceres atua majoritariamente numa cadeia “antes da porteira”, atendendo revendas e indústrias de insumos que precisam de linhas de crédito. Cerca de 95% da carteira está nesse tipo de operação (45% do total em indústrias de insumos e pouco mais de 40% em revendas) e o restante, focado principalmente na pecuária.

“Essa foi a forma mais consistente que achamos para gerar crédito com garantia”, explicou Ruas. Na pecuária, a empresa estruturou um fundo chamado de Confina, um FIDC onde a Ceres antecipa recurso para o pecuarista encurtar o ciclo produtivo da cadeia do boi.

A gestora compra o animal de forma antecipada, a preço de Chicago, e enquanto o boi permanece na propriedade, é equipado com toda tecnologia de chips e rastreio por parte da empresa.

“O ecossistema vai sendo formado: dou crédito para antecipar via Ceres Agrobank. Na hora da venda, faço via Ceres Capital a trava do preço, se for exportação, tenho serviço de câmbio”, explicou o diretor.

Além da Ceres Agrobank, que dá o crédito, e da Ceres Capital, que atua com outros serviços financeiros, a empresa recentemente passou atuar como trading, originando grãos físicos, e até o final do ano deve passar a atuar com um braço de seguros, a GCI. A quinta vertical é a Imohub, que atua com incorporação imobiliária.

“Vimos nas grandes praças regionais do agro que o produtor gosta de investir em propriedade. Haviam boas construtoras, mas sem funding, e estamos apoiando elas a buscar esse recurso no mercado de capitais”, detalhou Diogo Ruas.

Além do escritório em Uberaba (MG), sede da empresa, a empresa conta com uma sede na capital paulista. A ideia é abrir 12 novos escritórios até o final do ano que vem.

A empresa tem mais força em três grandes praças: Triângulo Mineiro, interior de São Paulo e no Centro-Oeste (Goiás, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul).

A ideia da expansão é ganhar mais terreno nos três estados da região Sul, além do Norte e Nordeste no Matopiba - em especial Balsas e Luís Eduardo Magalhães.

A presença hoje está em 16 municípios e a expansão de escritórios se dá em dois modelos. Para regiões mais compactas, uma estrutura física de container, o que facilita o breakeven.

Se a performance ultrapassar as expectativas, pode ser transformada numa estrutura “full”.

“O BTG enxergou essa visão, percebeu que não conseguiria ter o relacionamento, capilaridade e a possibilidade de ser tão tailor made nas operações. Ele viu uma oportunidade em fazer com que toda parte de agro no Brasil assistida pelo BTG viesse pela Ceres e que fossemos um braço de atuação de forma regional”, finalizou Diogo Ruas.

Resumo

  • BTG Pactual firma parceria com a Ceres Investimentos para reforçar sua presença no agronegócio com atuação regional e soluções sob medida para o setor
  • Acordo entre as duas instituiçoes permite a aquisição pelo BTG de até 49,9% da gestora fundada por Guilherme Cunha, ex-JBS e Ubyfol
  • Estratégia combina capilaridade local nas principais praças do agro, através de expansão com novos escritórios no Centro-Oeste, Sul, Norte e Matopiba