Uma das maiores empresas do Brasil, considerada líder na produção de resinas para a fabricação de materiais plásticos nas Américas, a Braskem cada vez mais está também de olho nas oportunidades do agronegócio.
O aumento no uso dos chamados silos-bolsa para armazenar grãos e a procura crescente por equipamentos de irrigação são algumas das tendências que fazem o agro demandar mais produtos plásticos, feitos a partir de resinas que a Braskem produz.
A empresa não fabrica os produtos finais que são vendidos a produtores rurais e agroindústrias, mas é a responsável pela produção de resinas como polietileno e polipropileno, que são vendidos a clientes para que sejam transformados em embalagens de fertilizantes, big bags de sementes, silos-bolsa, tubos de irrigação, entre outros itens.
“A gente vê que tem uma oportunidade muito grande, porque o Brasil é agrícola, é agro, mas ainda tem muita coisa para desenvolver com plástico dentro do agro”, afirmou Ana Paiva, líder de desenvolvimento de mercado agro da Braskem, em entrevista ao AgFeed.
Ela conta que, embora a empresa não produza diretamente os itens que são usados nas fazendas, a estratégia tem sido trabalhar no fomento à plasticultura.
“A gente traz inovação, conversa com universidades, conversa com produtor, conversa com os clientes e vai desenvolvendo aplicações no Brasil”, explicou.
Dentro da empresa, foi criada uma área específica para tratar de agronegócio. O time é liderado por Ana Paiva e conta inclusive com uma agrônoma, no escritório de São Paulo, que atua em conjunto com profissionais de pesquisa, que estão no interior. Ela diz que percebeu que precisava ter alguém no time que “falasse a língua do produtor”.
Uma das iniciativas é um Centro de Engenharia em Plasticultura, que é mantido pela Braskem em parceria com a FAPESP e com a Unicamp, no interior de São Paulo. O objetivo é pesquisar e validar aplicações de plásticos para o mercado brasileiro.
Paiva explica que o centro não se dedica apenas a criar inovações, mas também adapta soluções que já são consolidadas em outros países, como por exemplo, a irrigação por gotejamento, tradicional em Israel.
Há pesquisas de campo em regiões produtoras, que se dedicam a cultivos específicos como café e laranja. Ela cita como exemplo de tecnologia inovadora o uso de plástico na produção de tilápia. A Braskem vem investindo R$ 800 mil por ano no Centro de Engenharia e um valor semelhante é aportado pela Fapesp.
A empresa também tem parcerias com outras instituições de pesquisa pelo País para abordar culturas específicas, que necessitam de um conhecimento especializado. Na região Sul, por exemplo, a plasticultura – termo que para Braskem engloba diferentes produtos ligados ao agro, não apenas as tradicionais estufas da horticultura – vem mostrando bons resultados para produtores de uva.
Crescimento dos “não maduros”
A Braskem diz que as “aplicações maduras”, como embalagens de agroquímicos (feitas a base de polietileno com resistência química e mecânica) e os big bags para fertilizantes (feitos com o polipropileno), seguem crescendo ou se mantendo estáveis, mesmo em períodos mais desafiadores para o agro.
O maior potencial, no entanto, é visto para o que Ana Paiva chama de “não maduros”, já que ainda são adotados em escala menor, a depender da cultura.
“Essas aplicações que não são maduras, como silo-bolsa, irrigação por gotejamento, uso de mulching, uso de filme de cobertura em estufa, tudo isso são aplicações do agro que no Brasil não são maduras. Essas aplicações crescem em média dois dígitos por ano”, afirmou.
A executiva da Braskem diz que na China, por exemplo, são usados mais de um milhão de toneladas de filme de cobertura de solo, somente na agricultura. “Aqui, o Brasil inteiro é 3,6 milhões de toneladas”, referindo-se ao mercado total, não apenas o agro. “Olha a oportunidade que tem”.
A empresa defende que os filmes plásticos ou mulching eliminam a competição de plantas daninhas por nutrientes e água. Como cobrem a terra, ajuda a reter a umidade do solo, acelerando o crescimento e aumentando a produtividade.
Paiva afirma que no pior período de seca para regiões produtoras de café, em Minas Gerais, áreas com mulching mantiveram uma produção de 30 sacas por hectare, enquanto aquelas que não usavam a tecnologia produziram 8 sacas.
Nos últimos anos, o crescimento mais expressivo vem sendo registrado na demanda por silos-bolsa. A safra recorde no período em que os produtores estavam mais capitalizados favorecia os investimentos neste tipo de tecnologia para armazenar a produção.
Segundo Ana Paiva, houve um crescimento médio nas vendas de silo-bolsa de 15% ao ano na última década. Em 2013, ela diz, havia apenas uma máquina no Brasil que usava os produtos fabricados pela Braskem para fazer o silo-bolsa. Hoje seriam pelo menos 10 equipamentos em atividade.
No tema da irrigação, ela ressalta que apenas 11% da agricultura brasileira adota essa tecnologia, por isso a crença de haver um grande potencial de crescimento para as vendas de plásticos no segmento.
“No caso da cana, você sai ali da média nacional, que é mais ou menos 75 toneladas de produção de cana de sequeiro, para 125 toneladas por hectare na área irrigada, ou seja, você está aumentando de forma significativa a produção sem precisar aumentar em um hectare a sua área”, reforçou.
A Braskem também tem visto oportunidades de crescimento com a venda de silos-bolsa na Argentina, país que estaria com forte adoção da tecnologia. Além disso, aposta na demanda por mais materiais do tipo na pecuária brasileira, que cada vez está mais intensiva, com necessidade de produtos para armazenar a ração para os animais de corte e de leite.
Plástico “verde”
Um dos vínculos antigos da Braskem com o agro está na fabricação do polietileno bio-based, que ficou conhecido como plástico “verde”, já que é feito à partir de um subproduto agrícola.
A empresa diz ser líder mundial na produção de polietileno verde, produzido a partir do etanol. Segundo Ana Paiva, é um produto renovável, mas que possui as mesmas propriedades do polietileno feito com matéria-prima de origem fóssil.
A tecnologia de biopolímeros passou a ser produzida em escala comercial em 2010, quando a capacidade era de 200 mil toneladas por ano de eteno verde. Dados recentes da empresa indicam que a produção agora estaria em 275 mil toneladas por ano.
Em função do custo mais alto, ela diz que praticamente não há venda desse plástico verde para os clientes do agronegócio. Ainda assim, o setor estaria buscando produtos renováveis, portanto a resina vendida no segmento é do tipo reciclável, que tem durabilidade controlada para evitar contaminação ambiental. Itens como silo-bolsa, tubos de irrigação e filmes são feitos com esse plástico reciclável.
A Braskem terá participação em painéis e palestras durante a COP 30, em Belém, especialmente no espaço da CNI (Confederação Nacional da Indústria) com foco em energia, sustentabilidade e descarbonização. Lá produtos como o polietileno verde e os materiais recicláveis para o agro devem estar entre os destaques para mostrar maneiras de contribuição com a pauta climática.
Resumo
- Braskem cria área dedicada ao agronegócio e investe em produtos para fomentar a "plasticultura" no campo
- Empresa vê forte crescimento em aplicações “não maduras”, como silo-bolsa, irrigação por gotejamento e mulching, que avançam dois dígitos ao ano no Brasil
- Companhia também se destaca pela produção de polietileno verde, a partir de etanol