**A primeira parte do trabalho está feita. Rubens Ometto procurava sócios capazes de capitalizar a Cosan, empresa de participações com a qual controla uma lista de grandes companhias como Raízen, Rumo, Compass, Moove e Radar..
Neste domingo, 21 de setembro, ele anunciou ter chegado a um acordo que atraiu o banco BTG Pactual, de André Esteves, e a gestora Perfin, de Ralph Rosenberg, para uma operação que deve injetar R$ 10 bilhões para oxigenar o caixa seu conglomerado.
Agora, o foco estará buscar uma solução semelhante para a Raízen. Também não é segredo que a Cosan e a Shell, sua sócia na companhia sucroenergética, estão de portas abertas para a entrada de novos acionistas, bem capitalizados, no negócio.
Os grupos japoneses Mitsubishi e Mitsui são os mais cotados para ingressarem no table cap da empresa de bioenergia, cujas finanças foram corroídas pela alta expressiva dos juros em um momento de alta alavancagem.
A solução encontrada para a Cosan deve servir como um espelho para sua controlada. Assim como a Raízen, a Cosan sofre com o alto endividamento e seus gestores – com Ometto e o CEO da Cosan, Marcelo Martins, à frente, passaram a conversar com potenciais interessados.
Além de BTG Pactual e Perfin, gestora de private equity que administra mais de R$ 13 bilhões, as negociações que mais avançaram envolveram Suzano e Mitsubishi, segundo informou o portal NeoFeed no início do mês.
A operação anunciada agora foi estruturada com a três atores. A Aguassanta, family office dos Ometto, participa, juntamente com os novos sócios, de um aporte inicial de R$ 7,25 bilhões através de um aumento de capital em que cada ação é avaliada a R$ 5.
Desse total, R$ 4,5 bilhões serão injetados pelo banco, R$ 2 bilhões pela gestora e R$ 750 milhões pela família Ometto. Essa primeira oferta deve ser concluída até o final de outubro e inclui ainda um hot issue de R$ 1,8 bilhão será totalmente subscrita pelos três parceiros.
Uma segunda oferta de novas ações, somando R$ 2,75 bilhões, será realizada logo após a primeira. Os acionistas da Cosan terão prioridade na aquisição de novas participações.
Aguassanta, BTG Pactual e Perfin assinaram um acordo de acionistas com validade de 20 anos em que formam um bloco de controle da Cosan. Juntas, as três empresas deterão 55% da holding.
Ometto, por sua vez, mantém o comando da companhia, com 50,01% de participação dentro do bloco. De acordo com o NeoFeed, essa foi uma condição que ele colocou à mesa desde o início das negociações.
A capitalização com os novos R$ 10 bilhões servirá prioritariamente para reduzir a alavancagem da Cosan, hoje em 3,4 vezes na relação entre dívida líquida (declarada em R$ 17,5 bilhões) e Ebitda.
"A entrada de novos sócios amplia nossa capacidade de gerar valor, fortalecendo o controle e retomando nosso foco no crescimento", disse Ometto, que é presidente do Conselho da Cosan, em nota.
Ometto já admitiu que a ideia de trazer novos sócios também para a Raízen é o melhor caminho para colocar a companhia de volta nos eixos e, para isso, deixou claro que tanto a Cosan quanto a Shell estão dispostas a diluir suas participações na empresa.
Na Raízen, com endividamento de mais de R$ 49 bilhões, a alavancagem chega a 4,5 vezes. A empresa atravessa um processo de reestruturação e alongamento de dívidas e com desinvestimenjtos, liquidação de ativos e fechamento de negócios.
Desde novembro do ano passado, quando Ometto trocou a direção da companhia sucroenergética, substituindo Ricardo Mussa por Nelson Gomes no cargo de CEO, a companhia captou R$ 5,9 bilhões, incluindo a emissão de US$ 750 milhões em títulos com prazo de sete anos.
Adicionalmente, até o final deste ano-safra, a Raízen espera receber cerca de R$ 2,6 bilhões relativos a desinvestimentos já anunciados, classificados pelos executivos como “simplificação de portfólio”.
Gomes e o CFO da Raízen, Rafael Bergman, falam que essa reestruturação é uma “jornada de três anos”, mas perseguem, assim como a Cosan, um fast track com a entrada de novos sócios.
Resumo
- Em operação que envolve também o family office dos Ometto, BTG Pactual e Perfin lideram injeção de R$ 10 bi na holding que controla Raízen e Rumo
- Recursos devem ser usados prioritariamente na redução da alavancagem da holding, que hoje tem cerca de R$ 17,5 bi de dívida líquida
- Estrutura pode servir de modelo para a Raízen, que também busca sócios e aportes de capital para enfrentar endividamento elevado