Demorou, mas saiu. O Fundo Rio Bravo Agro Recebíveis (FIDC), criado em parceria com a Desenvolve SP, aprovou investimento de R$ 13 milhões na Raiar Orgânicos. O primeiro aporte do fundo de logística para empresas do agronegócio será utilizado na finalização de um terceiro silo na fazenda da maior produtora de ovos orgânicos do País, em Avaré (SP).
Ao contrário do modelo convencional do setor, a Raiar Orgânicos tem uma operação pouco integrada, já que depende de grãos orgânicos para alimentar as galinhas poedeiras. Por isso, tem uma originação e estocagem na propriedade no interior paulista da matéria-prima para virar ração aos animais.
A Raiar Orgânicos investiu R$ 100 milhões em infraestrutura no complexo agroindustrial onde mantém 400 mil galinhas poedeiras criadas 100% pelo manejo orgânico - livres e com acesso a áreas externas, alimentação vegetal e orgânicas e sem antibióticos. Nos próximos anos, a companhia espera chegar a um plantel de 2 milhões de aves.
Segundo Evandro Buccini, diretor de crédito da Rio Bravo Investimentos, o empréstimo de R$ 13 milhões tem juros de mercado e é garantido por uma Cédula de Produto Rural (CPR) emitida pela Raia Orgânicos.O prazo de pagamento de cinco anos e meio, com carência de até três anos.
Sem detalhes, o executivo revela que os juros da operação foram indexados pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), mais um spread, e sem subsídios. “A conta é relativamente fácil de entender, porque o dinheiro que a gente recebeu da Desenvolve SP, foi com IPCA mais 7%”, disse.
“Eles colocam até 80% e eu tenho a obrigação de conseguir esses 20% em um risco acima, chamado de subordinado, que é aquele colchão de segurança que, se tiver qualquer problema no crédito, a Desenvolve SP é a última a sofrer”, completou.
Buccini também não revelou quem foi o investidor privado no FIDC. O executivo disse apenas que “foi um grande investidor institucional”, uma grande gestora brasileira com sede na capital paulista.
Com R$ 70 milhões em carteira, R$ 50 milhões da agência de fomento do Estado de São Paulo e R$ 20 milhões captados pela gestora de Gustavo Franco e Paulo Bilyk, o FIDC para financiar investimentos em logística tem novos alvos após ajudar a encher o papo das galinhas da Raiar Orgânicos.
O primeiro, já aprovado, será na Hinove, companhia paulista de fertilizantes com unidade industrial em Registro (SP), para a operação de biofertilizantes. Os aportes terão como garantia Certificados de Recebíveis do Agronegócio (CRAs) emitidos pela companhia.
Ainda esta semana, o FDIC deve finalizar uma operação para o financiamento de uma operação logística de café, no Porto de Santos (SP), de acordo com Buccini. Segundo ele, os setores sucroenergético e de piscicultura, no interior paulista, além do de produção de uvas para vinhos no polo de Espírito Santo do Pinhal (SP), serão os próximos financiados.
“Agora que fizemos umas operações maiores, mais relevantes, a gente vai pulverizar mais, procurando esses investidores menores, que muitas vezes não teriam investimento no mercado de capitais, e fazer através do Fundo”, explicou.
O mercado de capitais, aliás, está reticente em fomentar o agronegócio, admitiu o diretor de crédito da Rio Bravo Investimentos. “Chama muito a atenção a profundidade (da crise), eu diria assim. Não sei se crise é uma boa palavra, mas talvez seja”, afirmou.
Um reflexo dessa crise veio do balanço do Banco do Brasil, que apontou aumento da inadimplência do setor, mesmo com a recuperação na produção e com margens positivas na última safra.
“Nem assim a gente conseguiu normalizar o problema da inadimplência. Então, realmente, o pessoal ficou com um pé atrás e os investidores, especialmente”, afirmou.
Na avaliação de Buccini, após o crédito exagerado ao agronegócio, seguido da alta na inadimplência, o setor financeiro deve esperar a “digestão acontecer”, manter a torneira do crédito mais fechada, antes de a situação melhorar com mais uma boa safra.
“Está muito difícil arranjar dinheiro novo para investir no agro hoje. Aí entra também o papel, voltando ao nosso assunto original, da Desenvolve SP, que está fomentando o setor e catalisando outros investidores a entrarem”, concluiu.
Resumo
- Raiar Orgânicos recebe R$ 13 milhões do FIDC Rio Bravo/Desenvolve SP para concluir novo silo em Avaré (SP)
- Empresa já investiu R$ 100 milhões em infraestrutura e projeta expandir de 400 mil para 2 milhões de galinhas poedeiras
- Fundo de logística mira também fertilizantes, café e bioenergia, apesar da retração do crédito ao agronegócio