Enquanto a MBRF não sai do papel (na expectativa de que isso aconteça no fim de setembro), as companhias de Marcos Molina fecharam o segundo trimestre em direções opostas.
As duas registraram lucro e avanço na receita, é verdade, mas o resultado líquido caiu na BRF e avançou na Marfrig.
A BRF mostrou mais um balanço que sentiu os impactos da gripe aviária nos números finais. O lucro líquido atingiu R$ 735 milhões, uma queda de cerca de 40% em um ano.
A receita líquida, contudo, subiu 3% e somou R$ 15,4 bilhões. O Ebitda (lucro antes de juros, impostos, amortização e depreciação) foi de R$ 2,5 bilhões, 4% menor em um ano.
O CEO da empresa, Miguel Gularte, relembrou que a BRF viveu dois períodos distintos no trimestre. Na primeira metade, uma operação normal. Na segunda, restrições de vendas por conta do caso de gripe aviária no Rio Grande do Sul.
Fábio Mariano, vice-presidente de finanças e RI da empresa, acrescentou que a queda no lucro é efeito da suspensão da exportação para países relevantes como China, Europa, Chile e Arábia Saudita. O último, inclusive, retirou suas restrições nesta quinta-feira, 14 de agosto. Os outros, que são mercados relevantes para a empresa, ainda estão bloqueados.
“Perdemos um mercado primário para cortes relevantes no frango, que trouxe menos volume e consequentemente uma baixa nas margens operacionais”, disse Mariano.
A receita do segmento internacional foi 5% menor em um ano na BRF, ficando em R$ 6,7 bilhões. O Ebitda do mercado internacional foi de R$ 1,2 bilhão (21% menor), com margem de 17,3%.
O vice-presidente de finanças citou que isso se explica por uma queda nos volumes, que foram 10% menores. Considerando o que é exportado via Brasil, a BRF viu uma queda de 5% nos volumes, patamar que segundo o executivo, veio abaixo do apresentado pela Secex (Secretaria de Comércio Exterior) para o trimestre, de quase 15%.
“Tivemos ações mitigadoras associadas a mercados alternativos. Também optamos por vender cortes no Brasil”, exemplificou.
Ainda no mercado externo, os executivos disseram que as habilitações que a empresa conseguiu nos últimos anos, que já somam 200 destinos, ajudaram a mitigar a impossibilidade de vender para clientes consagrados.
A China, por exemplo, é um grande importador de pé de frango, corte que foi realocado para Hong Kong. Outros cortes, sem outros destinos compradores, acabaram indo rumo às graxarias da empresa para se transformar em farinha.
A BRF se mostrou otimista com os mercados ainda fechados. No caso da China, Miguel Gularte chegou a dizer que “supõe que a reabertura não deve demorar a ocorrer”.
O CEO da empresa ainda elogiou a atuação do governo federal e, em especial, do Ministério da Agricultura e Pecuária, dizendo que a pasta fez os processos serem entendidos com transparência e qualidade de informação.
“Pensávamos que a doença poderia se proliferar, mas a biossegurança brasileira foi eficiente, e o caso ficou restrito, em granjas comerciais, em um estado”.
“Transitamos o período com impacto até menor do que se poderia supor. O impacto foi importante, mas olhando o resultado do trimestre vemos uma empresa que fez R$ 16,3 bi de Ebitda, gerou lucro líquido e fechou um semestre histórico. É uma demonstração clara de tudo que plantamos estamos colhendo”, acrescentou Miguel Gularte.
Além do efeito exportação, Fábio Mariano citou uma variação cambial com o real se apreciando, que reduziu o potencial de lucro líquido.
No Brasil, a operação gerou uma receita de R$ 8,1 bilhões, com um volume crescendo 6% de um ano para cá. A empresa menciona que o avanço se deu principalmente no segmento de processados, que atingiu o maior volume comercializado em um segundo trimestre na história.
Esse avanço contribuiu para um EBITDA de R$1,3 bilhão e margem de 16,4%. A empresa afirma que atingiu 330 mil clientes no trimestre.
Ao final de junho, a dívida líquida da BRF estava em R$ 4,7 bilhões, o menor desde 2011 segundo Fábio Mariano. A alavancagem ficou em 0,43 vez, o menor nível histórico. O fluxo de caixa livre foi de R$ 842 milhões.
Com isso, a empresa se prepara para ser parte de uma nova companhia, a MBRF, entregando um semestre recorde. De janeiro a junho, o Ebitda somou R$ 5,3 bilhões e o lucro líquido foi de R$ 1,9 bilhão.
Operação da América do Sul impulsiona Marfrig
Já na empresa de carnes, maior acionista da BRF, o resultado foi impulsionado por uma forte operação na América do Sul e um aumento das exportações, também originadas no continente.
A operação consolidada teve lucro líquido de R$ 85 milhões, crescimento de 13% em relação ao mesmo período do ano anterior, uma receita líquida que somou R$ 37,7 bilhões, alta de 8,6% na comparação anual e um Ebitda de $ 3,0 bilhões, em linha com o ano anterior.
Na América do Sul, a receita líquida foi de R$ 4,03 bilhões, um avanço de quase 10% em um ano. Rui Mendonça, CEO da operação da América do Sul da Marfrig, cita que houve um volume de vendas 7,8% superior, que ficou em 205 mil toneladas. As vendas no mercado doméstico foram 66% deste volume.
As exportações somaram o menor volume do bolo (44%), mas foram responsáveis por cerca de 55% da receita da operação no continente, com destaque para embarques para China e Europa.
“A performance é explicada pela combinação de aumento de capacidade, maior eficiência das nossas plantas e uma venda mais aquecida de produtos de maior valor agregado”, disse.
O executivo afirmou que, ao final do ano passado, a empresa aumentou em 55% sua capacidade de abate e desossa e que, até o final de 2025, as plantas devem ganhar um novo ramp-up.
O tarifaço de Donald Trump deve ter impacto quase nulo na empresa. Isso porque, segundo Mendonça, a venda de carnes brasileiras para os EUA representa somente 2,1% da receita de exportação.
Somado a isso, o executivo ainda citou que a empresa conquistou, desde o começo do ano, 24 novas habilitações para exportação. “Ou direcionamos mercados ou a destinação é a produção de processados. Os EUA basicamente compram a matéria prima”, citou.
Já a operação da América do Norte trouxe uma receita de US$ 3,26 bilhões, alta de 5,3% em um ano. Segundo Tim Klein, CEO da Operação América do Norte, houve um maior preço médio nas carnes, em meio a um ciclo do boi desfavorável por lá.
“Apesar do cenário adverso de baixa disponibilidade animal e aumento de custo de
matéria-prima que afetou o setor como um todo, a National Beef se manteve resiliente e focada na excelência operacional. O reflexo disso foi um total de vendas de 468 mil toneladas, com 88% do volume vendido no mercado doméstico”, explicou Klein.
Resumo
- BRF registrou lucro de R$ 735 milhões, queda de 40% em meio a um mercado de exportação prejudicado pela gripe aviária.
- Na contramão, Marfrig viu o faturamento subir com fortes exportações e operação na América do Sul. Lucro foi de R$ 85 milhões, com crescimento de 13%.