A notícia de que o tarifaço virou mesmo realidade para diferentes setores caiu como uma bomba para as indústrias brasileiras de carne bovina.

Roberto Perosa, presidente da Abiec, Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carnes, está de plantão na sede do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, à espera de informações sobre eventuais negociações entre os governos do Brasil e dos Estados Unidos.

Antes de entrar no Mdic, para uma conversa com o ministro e vice-presidente da República, Geraldo Alckmin, o representante dos frigoríficos conversou com jornalistas e reafirmou que o setor “está muito preocupado com essa situação”. Os Estados Unidos são o segundo maior mercado comprador da carne bovina brasileira.

“Essa taxação inviabiliza a exportação de carne bovina para os EUA”, disse Perosa, depois de saber que alguns setores do agro se salvaram – como a indústria de suco de laranja – mas que as carnes foram mantidas na lista dos produtos que pagarão 50% de tarifa para entrar nos Estados Unidos daqui uma semana.

Ele defende, prioritariamente, que o governo brasileiro siga tentando negociar com os americanos. “Temos que explicar que a venda de carne brasileira aos EUA é uma complementariedade à produção americana", afirmou.

“Eles vivem seu menor ciclo pecuário dos últimos 80 anos, a carne que Brasil vende lá é basicamente insumo pra fazer hamburger, é a maior quantidade de carne bovina consumida lá. Temos que explicar ao povo americano que terá impacto inflacionário para eles, para que a gente possa continuar mandando sem ter tarifação”.

O Brasil projetava vender 400 mil toneladas de carne bovina para os Estados Unidos ainda este ano. Desde o anúncio do tarifaço, pelo presidente Donald Trump, as indústrias já suspenderam a produção de carne com as características específicas daquele mercado. Ainda assim, segundo Perosa, as empresas “seguem operando normalmente para atender os outros mercados”.

Em conversa com jornalistas, Roberto Perosa admitiu que é muito difícil realocar de imediato os volumes que agora deixam de ir para o mercado americano.

“O governo brasileiro está se esforçando. As alternativas seriam distribuir isso ao redor do mundo, mas não há nenhum mercado com tanta especificação quanto o americano e com a rentabilidade também que o mercado americano da carne bovina brasileira, não há um substituto imediato”, afirmou.

Entre as eventuais opções estariam Japão, Coreia do Sul e Turquia, mas é um trabalho que o setor terá que buscar a partir de agora.

O presidente da Abiec disse ainda que o setor continuará conversando com os importadores para que ajudem nas negociações lá nos EUA.

Perguntado se haverá queda de preço da carne bovina no mercado doméstico, Perosa respondeu que “são cortes não consumidos no Brasil, claro que uma parte será absorvida no mercado interno, mas o recuo do preço pode causar desarranjo na cadeia brasileira, com queda na arroba do boi, o que num primeiro momento pode parecer positivo mas logo a frente pode haver falta de carne”.

O dirigente da Abiec considerou positivo o fato de a tarifa não entrar em vigor já na sexta-feira, o que vai permitir que cargas que estavam nos navios, a caminho dos EUA, ou nas aduanas, ainda possam chegar em tempo hábil.

Resumo

  • Abiec diz que confirmação de tarifas de 50% para a carne brasileira inviabiliza exportações do setor e não há mercados para substituir o americano
  • Segundo o presidente da entidade, vendas para os EUA ofereciam especificações e rentabilidade únicas, difíceis de substituir
  • RRoberto Perosa defende manutenção do diálogo com os EUA, lembrando que indústria americana vive pior ciclo pecuário em 80 anos