Várzea Paulista (SP) - A Nitro levou oito décadas para alcançar seu primeiro bilhão de faturamento, vindo sobretudo da fabricação de produtos químicos voltados à indústria.

Produzindo insumos para o agro, bastaram apenas cinco anos para a empresa atingir o mesmo valor em receita nessa divisão – e agora a meta é dobrar essa cifra nos próximos cinco.

No ano passado, a receita gerada com a divisão de produtos agrícolas foi de R$ 1,010 bilhão. Para este ano, a expectativa é de um crescimento de 7%, passando para R$ 1,2 bilhão.

E a ideia é que, em 2029, a receita com o agro chegue a R$ 2,28 bilhões. "Nossa avenida de crescimento é o agro", resume Tiago Mota, diretor comercial de agro da Nitro.

Se os planos se confirmarem, a Nitro terá saltado de uma receita zero no agro para de mais de R$ 2 bilhões em apenas uma década.

Além disso, a tendência é de que, já a partir de 2026, a divisão de agro supere o negócio de química industrial da empresa em faturamento – para 2025, a expectativa da companhia é de que o negócio de produtos químicos tenha uma receita de R$ 1,264 bilhão.

Trata-se de uma virada importante para uma empresa que foi pioneira em seu segmento no País e ainda hoje é uma das maiores produtoras de ácido sulfúrico no mundo.

Fundada em 1935 por Wolf Klabin e José Ermírio de Moraes, a companhia pertenceu a maior parte de sua história ao Grupo Votorantim, até ser vendida em 2011 para o fundo Furo Capital, family office da família Rodas, centenária produtora de café e citros.

Após a chegada dos novos donos, a Nitro passou por mudanças de gestão e reorganização interna, processo que foi concluído no fim da década passada, quando, então, a companhia resolveu iniciar a fabricação de produtos específicos para o agronegócio.

"A área química vai super bem. Só que é uma área estável. E, como a empresa tem ambição de ser mais relevante para o Brasil e para o mercado, pensamos: onde vamos continuar crescendo? É aí que entrou o agro", explica Mota.

A partir de então, a Nitro começou a fazer aquisições em série, somando mais de R$ 500 milhões em operações de M&A em menos de meia década.

Tudo começou em 2019, quando a empresa adquiriu a MCM, empresa de sais e sulfatos para fertilizantes sediada em Cesário Lange (SP). Em janeiro do ano seguinte, comprou a Fast Agro, de fisiologia e nutrição vegetal, com matriz em Rondonópolis (MT).

Um ano depois, em fevereiro de 2021, adquiriu a Biocontrol, de insumos biológicos em Sertãozinho (SP), seguida da compra da indústria de fertilizantes Paulifértil, de Várzea Paulista (SP), em janeiro de 2022 – ano em que concentrou os produtos de todas essas operações em uma só marca: Nitro.

"A Nitro tem um perfil de consistência, de fazer movimentos pequenos, mas contínuos. A gente foi fazendo aquisições de boas empresas, mas empresas menores, e foi desenvolvendo e mantendo essa consistência", afirma Mota.

A partir desses investimentos, a Nitro pôde construir um portfólio robusto, hoje composto por quatro linhas – nutrição, nutrição animal, tecnologia de aplicação e biológicos – que hoje conseguem atender cerca de 80% da demanda dos produtores rurais.

E, com isso, conseguiu multiplicar a receita das empresas que foram compradas. "Se a gente somar todas elas, as aquisições faturavam, no momento das aquisições, algo próximo de R$ 300 milhões. Hoje, estamos com o faturamento próximo de R$ 1,2 bilhão", compara o executivo.

A Nitro tem sua operação fabril concentrada no estado de São Paulo, com unidades na capital paulista e também nos municípios de Cesário Lange, Sertãozinho e Várzea Paulista.

A unidade de Várzea Paulista, cidade próxima à Jundiaí, na Grande São Paulo, deve ser o polo de fábricas da Nitro voltadas à fabricação de produtos para o agronegócio, segundo Mota.

“Já temos um plano diretor para a expansão da empresa para os próximos anos, onde vão ser feitas outras fábricas, estoque, centro de pesquisa”, antecipa o diretor comercial da empresa.

O AgFeed conheceu, nesta quinta-feira, dia 10 de julho, com um grupo de jornalistas, uma nova estrutura em Várzea Paulista dedicada à fabricação de produtos biológicos à base de bactérias, que está operando desde janeiro deste ano e está sendo inaugurada oficialmente nesta semana, com capacidade operacional de 1 milhão de litros ao ano.

A ideia da empresa é de que a nova indústria, um empreendimento de aproximadamente R$ 50 milhões antecipado em reportagem do AgFeed, represente um crescimento de até 30% ao ano no portfólio de biológicos.

Além disso, trata-se de um complemento ao parque fabril da empresa, que que já contava com plantas voltadas para biológicos à base de fungos, biofertilizantes e defensivos naturais em Sertãozinho, Piracicaba e Patos de Minas – as duas últimas plantas são de joint-ventures da Nitro com as empresas Vivus e NBT, respectivamente.

A nova planta paulista nasceu com um módulo industrial, com biorreatores e tanque de formulação, mas tem espaço para ter outros cinco módulos.

“É uma indústria que foi montada para acompanhar a nossa expansão. Nós podemos ir expandindo módulos a cada ano, conforme a nossa onda de crescimento”, explica Jonas Cuzzi, diretor de marketing de agro da Nitro.

“Além de dar essa flexibilidade, o projeto foi construído também para não nos travar hoje com um custo fixo alto se colocássemos toda a estrutura montada, mas que a gente pudesse ir acompanhando o nosso crescimento”, complementa Cuzzi.

Junto com a planta, a Nitro também lançou, nesta quinta-feira, um biofungicida foliar, o Égide Max, que visa a aumentar a produção de culturas como soja, milho, algodão e cana-de-açúcar.

A área de biológicos, iniciado em 2021 com a aquisição da Biocontrol, tem crescido dentro do portfólio da Nitro.

"Era uma empresa pequena na época, apesar de já ter 26 anos", recorda Tiago Mota, o diretor comercial de agro para a empresa.

"Mas a gente investigou e entendeu que eles tinham bons produtos. Conversamos também com clientes e percebemos que todos respeitavam muito a empresa. Entendemos que era um investimento importante em biológicos", emenda.

Um ano antes da compra da Biocontrol, em 2020, a Nitro já havia feito uma primeira aposta no segmento, ao adquirir uma participação na Gênica, startup especializada na produção de insumos biológicos com sede em Piracicaba (SP), e que já recebeu investimentos de Mitusbishi Corporation, Vox Capital e SP Ventures.

A operação é totalmente separada da Nitro, mas a companhia ainda mantém uma participação de cerca de 30% na Gênica.

A partir dos investimentos em biológicos nos últimos anos, a Nitro pretende ampliar seu market share nos biológicos dos atuais 1,3% para mais de 6% em 2030.

Além disso, a tendência é de que a fatia dos produtos biológicos aumente cada vez mais dentro do faturamento da divisão agro da Nitro.

Hoje, a linha de produtos de nutrição ainda é a que mais traz receitas à empresa, responsável por 60% de todo o faturamento, seguida dos biológicos, que abocanham 20% do faturamento, e de nutrição animal e matéria-prima para produtores de fertilizantes, que ficam com os 20% restantes.

"Só que os biológicos vêm crescendo em uma velocidade maior que a linha de nutrição pela pujança desse mercado", explica Mota.

A tendência, portanto, é de que nos próximos cinco anos, a participação dos biológicos no faturamento da companhia passe de 20% a 40%. "Acreditamos que vai estar mais equilibrado."

O crescimento na área de biológicos veio a partir da compra de outras empresas. Mota diz que novas operações de M&A não estão totalmente descartadas, ainda que não exista nenhuma negociação em andamento.

"Hoje não temos um plano concreto de novas aquisições. Continuamos mapeando o mercado e olhando oportunidades, e acreditamos que, se aparecer alguma oportunidade que traga muito valor para o negócio, podemos avaliar sim. Mas agora não é o principal foco da companhia", explica.

O jornalista viajou a convite da Nitro.

Resumo

  • Em apenas cinco anos, a companhia de insumos Nitro saiu do zero no agro para uma receita bilionária, estimada em R$ 1,2 bilhão em 2025
  • Expectativa do grupo é dobrar o faturamento até 2029, com crescimento de até 30% ao ano no portfólio de biológicos
  • Empresa inaugurou nova planta em Várzea Paulista (SP) para fabricar produtos biológicos à base de bactérias, com investimento de R$ 50 milhões