A cidade de Bonn, na Alemanha, está sediando desde o começo da semana a 62ª sessão dos Órgãos Subsidiários da Convenção das Nações Unidas, a Conferência de Bonn. Com duração de duas semanas, o encontro prepara os debates e negociações que serão finalizados na COP 30, a conferência do clima da Organização das Nações Unidas (ONU), que será realizada em novembro, em Belém (PA).
Cerca de 5 mil pessoas eram esperadas no evento de Bonn, que reúne representantes de 197 países e membros da sociedade civil. Aproveitando o espaço de articulação internacional, a Fundação Dom Cabral, por meio de seu braço agro, a FDC Agroambiental, apresenta neste sábado, dia 21 de junho, o projeto “Modelo de negócio para acelerar a transição da agricultura regenerativa no Brasil”.
O painel de apresentação do modelo contará com a participação da professora da FDC, Ludmilla Rattis, e do diretor acadêmico da FDC Agroambiental, Marcello Brito, que também é colunista do AgFeed. Estarão presentes ainda a CEO da COP 30 no Brasil, Ana Toni, a diretora-executiva do Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável (CEBDS), Alessandra Fajardo, entre outros convidados.
O projeto propõe a criação de um modelo de agricultura regenerativa tropical, adaptado às condições edafoclimáticas, que consideram a interação entre solo e clima, do Brasil e de outros países do Sul Global.
“A agricultura tropical ganhou muita notoriedade nos últimos 25 anos, mas ainda somos reféns do que é ditado pelo mercado internacional, porque não somos protagonistas dessas transformações”, explica Daniel Parreiras, gestor do projeto na FDC. “Há uma carência de um modelo robusto, consolidado e tropical, um modelo brasileiro.”
A proposta reúne práticas já consolidadas no campo brasileiro, como o plantio direto e a rotação de culturas, além de tecnologias mais recentes, como a integração lavoura-pecuária-floresta (ILPF) e o uso de bioinsumos. Essas iniciativas compõem o panorama que a FDC na Conferência de Bonn.
O objetivo é posicionar o Brasil como benchmark internacional na adoção de práticas regenerativas. “Se não fizermos esse posicionamento de forma adequada, continuaremos sujeitos a modelos europeus, norte-americanos e de outras regiões”, defende Parreiras.
A participação na Conferência de Bonn marca a antecipação das bases do projeto, ainda em desenvolvimento. A expectativa é que a primeira versão do modelo, chamada de “versão 1.0” por Parreiras, seja lançada oficialmente durante a COP30.
De acordo com o gerente do projeto da FDC, o modelo é estruturado em quatro pilares: ciência e inovação, políticas públicas, incentivos financeiros e governança.
Na frente de ciência e inovação, está em desenvolvimento um índice de sustentabilidade que abrangerá cinco eixos: solo, clima, carbono, socioambiental e biodiversidade. Ainda em fase de estruturação, o índice será um importante elemento da proposta.
O projeto é financiado pelo Instituto Itaúsa e conta com o apoio de mais quatro parceiros, ainda não divulgados. “Temos um grande banco tradicional no agro, uma instituição de referência em justiça social e duas grandes empresas ligadas ao setor agrícola”, diz Parreiras, sem revelar nomes.
Na dimensão de políticas públicas, o objetivo é alinhar o modelo a marcos normativos já existentes, nacionais e internacionais, contribuindo para a construção de uma taxonomia da agricultura regenerativa tropical. Esse marco técnico deverá orientar políticas públicas, certificações e mecanismos de financiamento sustentável.
Em relação aos incentivos financeiros, a proposta busca criar instrumentos que convertam o desempenho regenerativo em valor econômico real. Já o componente de governança servirá para integrar todas as frentes.
A FDC também planeja lançar uma plataforma digital, em fase de desenvolvimento, que irá operacionalizar o modelo. A ferramenta, em desenvolvimento, será voltada a produtores rurais e agentes do mercado, reunindo dados públicos, o índice de sustentabilidade já mencionado e diagnósticos produtivos.
“A ambição desse grande modelo é de transformar as praticas de agricultura regenerativa na agricultura tropical brasileira e ir além fronteiras, entregando essa especie de protocolo dentro de uma plataforma, com a participação de produtor, iniciativa pública e privada, explica Parreiras.
De acordo com o gestor do projeto, a plataforma digital permitirá que agricultores insiram seus dados e acompanhem a evolução de sua produção ao longo do tempo, com recomendações práticas e geração de valor.
“É como se eu pudesse, enquanto produtor, inputar meus dados de produção e, ao longo do tempo, fazer uma medição e uma geração de valor da minha produção. Na plataforma, vai haver diagnósticos e serviços, a recomendação do que se deve fazer, do ponto de vista de produção.”
Resumo
- Em evento preparatório para a COP 30, FDC Agroambiental lança o projeto "Modelo de negócio para acelerar a transição da agricultura regenerativa no Brasil"
- Projeto é estruturado em ciência e inovação, políticas públicas, incentivos financeiros e governança, com foco na criação de um modelo tropical adaptado às condições do Sul Global
- Proposta inclui ferramenta digital para reunir dados produtivos, recomendar boas práticas e valorizar o desempenho regenerativo de agricultores