Depois de um início de ano repleto de incertezas, por conta da falta de chuvas e o atraso no plantio, a segunda safra de milho deve registrar novo recorde na produção na temporada 2024/2025 e chegar a 123,3 milhões de toneladas.

A estimativa foi divulgada pela Agroconsult, responsável pelo Rally da Safra, em coletiva nesta terça-feira, 24 de junho. O volume representa um acréscimo de 10,4 milhões de toneladas sobre a estimativa feita em maio pela consultoria.

“Estamos diante da mãe de todas as safrinhas, nunca vimos algo parecido com o que estamos vendo nessa safra”, avaliou o CEO da Agroconsult, André Pessoa.

Se comparada à safra 2023/2024, quando foram colhidas 103 milhões de toneladas na safrinha, o volume da safra atual é 20,2 milhões de toneladas superior.

Somada à safra de verão, o volume total da produção de milho da safra 2024/2025 deverá chegar a 150,3 milhões de toneladas, volume 16,5% superior às 129,1 milhões de toneladas de milho colhidas na temporada 2023/2024.

Dois fatores principais contribuíram para esse novo recorde de produção da safrinha no Brasil, o clima e a expansão da área plantada.

Apesar do atraso no início do plantio e também da chegada das chuvas, o volume pluviométrico que incidiu sobre as lavouras nos meses de abril, maio e junho foram suficientes para permitir o pleno desenvolvimento das plantas e o enchimento dos grãos.

Com isso, a produtividade média nacional contou com um empurrãozinho de São Pedro e registrou um novo recorde, ficando em 113,8 sacas por hectare, acima das 105 sacas previstas pela equipe na largada do rally.

No Mato Grosso, a produtividade média cresceu 11,6% e ficou em 131,9 sacas por hectare, enquanto em Goiás o acréscimo foi de 5,6% com 126,1 sacas por hectare, seguido pelo Mato Grosso do Sul com 98,1 sacas por hectare, aumento de 35% no volume.

Já na região Sul, o Paraná registrou aumento de 16,5% na produtividade média com 106,5 sacas por hectare.

O sócio-diretor da Agroconsult, André Debastiani destacou que até as áreas que foram plantadas após fevereiro, e que geralmente têm produção menor por estarem fora da janela ideal, acabaram tendo produtividade acima do esperado, “o que também contribuiu para esse recorde no volume”.

E se a chuva foi muito boa para encher os grãos no campo, o excesso de umidade em algumas regiões está fazendo com que o milho permaneça por mais tempo no campo, à espera da colheita, o que, no cenário atual, acaba sendo um aspecto positivo.

“Teremos grãos de colheita tardia com mais peso, com impacto positivo sobre o volume”, explica Debastiani.

O atraso na colheita desse terço final de milho também deve contribuir para que os armazéns tenham um respiro para escoar a safra de soja antes de receber mais milho para estocagem.

Pessoa pondera avalia que essa permanência do milho no campo também contribui para que o mercado não seja inundado com o grão, pressionando ainda mais os preços.

O aumento da área plantada também contribuiu para esse recorde de produção. Segundo o levantamento, o aumento foi de 5,7%, o que representa um acréscimo de 982 mil hectares na safrinha. Com isso, a área total plantada com milho safrinha chegou a 18,1 milhões de hectares.

Segundo Pessoa, essa expansão de área se deu em um cenário onde ainda havia um otimismo em relação aos preços, que estavam melhor sustentados no início do ano.

“Além disso, havia um custo menor de alguns insumos, a começar pela semente do milho e a expectativa de maior rentabilidade, o que acabou por estimular os produtores a ampliarem a área cultivada”, explica.

No entanto, de lá para cá, as perspectivas de aumento da produção não só no Brasil, mas também em outros mercados, especialmente nos Estados Unidos, acabaram por colaborar com uma mudança no cenário.

“A estimativa é de que a safra de milho nos Estados Unidos ultrapasse as 400 milhões de toneladas, além das previsões de safras positivas na Argentina e um aumento na produção de milho da Ucrânia”, pondera Pessoa.

Com a oferta maior de grãos no mercado global, o desafio do Brasil passa não só por escoar a produção - visto que os gargalos de logística preocupam - mas também pelo aumento das exportações.

Enquanto na safra 2023/2024 o Brasil exportou 37,4 milhões de toneladas de milho, para a safra 2024/2025, Debastiani explica que há a perspectiva de que esse volume possa chegar a 44,5 milhões de toneladas, representando um aumento de 19% no volume embarcado.

“No entanto, isso é uma perspectiva e não há garantias de que exportaremos esse volume, o cenário ficará claro mais adiante, já que os embarques costumam se concentrar mais no segundo semestre”, pondera.

Para o mercado interno, a notícia de reconhecimento do Brasil como livre da influenza aviária na semana passada deve contribuir para a reabertura de mercados para a carne de frango, puxando a demanda por milho no mercado de rações.

Ainda assim, a expectativa é de que o consumo doméstico fique em 97 milhões de toneladas, podendo chegar a 100 milhões, ainda aquém da produção total. Mesmo a alta demanda das usinas de etanol de milho não deve ser suficiente para compensar esse crescimento da safra.

“As usinas atuais já estão operando bem próximas da capacidade total, por isso, o aumento da demanda nesse setor deve ser mais para médio e longo prazos, quando as novas usinas previstas entrarem em operação”, pondera Pessoa.

Mesmo que esses volumes se concretizem, Debastiani explica que nas últimas safras, os estoques de passagem do milho brasileiro têm girado em torno de 20 milhões de toneladas.

“Se realizarmos as previsões de consumo doméstico e de exportações, ainda teremos quase 9 milhões de toneladas a mais de milho, totalizando um estoque próximo de 30 milhões”, calcula.

“Temos até o início da próxima safra de soja para escoarmos esse volume”, explica Pessoa.

Entre os fatores que podem afetar esse cenário estão a concorrência com outros players do mercado internacional e também o câmbio desfavorável para as commodities brasileiras.

“Na safra passada, com o câmbio a R$ 6, nossos produtos estavam mais competitivos no mercado global. Agora, na faixa dos R$ 5, perdemos um pouco dessa atratividade”, explica Pessoa.

Até maio, cerca de 37% da safra de milho havia sido comercializada, com uma grande diferença no preço. Segundo Pessoa, do início do ano até agora, a diferença na cotação da B3 está em cerca de R$ 10, valor bastante significativo para o produtor.

“Isso é reflexo direto do grande volume que começa a ser colhido”.

Ele destaca ainda que na safra 2022/2023 o Brasil chegou a exportar 54,4 milhões de toneladas, “mas o cenário, tanto econômico como geopolítico, era bastante diferente das condições que temos hoje”, avalia.

O início da guerra entre Irã e Israel é outro fator que pode comprometer os embarques, visto que o Irã é um cliente importante do milho brasileiro, respondendo por cerca de 12% do volume exportado na última safra, o equivalente a pouco mais de 4 milhões de toneladas.

“Há uma preocupação dos impactos desse conflito no médio prazo e caso eles ocorram, o Brasil terá o desafio de encontrar outros compradores para esse volume”, explica Debastiani.

A apreensão do mercado enquanto acompanha o desenrolar do conflito entre os dois países também está relacionado à compra de fertilizantes para a próxima safrinha.

A diretora de vendas da OCP Brasil, Fernanda Moirão, explica que no primeiro semestre de 2025, houve a entrada de grande volume de fertilizantes fosfatados, garantindo bons estoques.

“A preocupação do mercado é com a oferta de ureia para a próxima safrinha, já que poderemos ter um cenário de alta de preços a depender do desenrolar dos conflitos”, avalia.

Resumo

  • Clima favorável ajudou na performance das lavouras, que registraram alta produtividade, especialmente no MT, GO e PR
  • Consultoria estima que Brasil enfrentará dificuldades para escoar produção. Previsão de exportações é de 44,5 milhões de toneladas
  • Consumo interno de até 100 milhões de toneladas não deve ser suficiente para absorver produção, elevando estoques de passagem