O avanço da indústria de etanol de trigo no Rio Grande do Sul está impulsionando novos negócios entre diferentes empresas do agronegócio brasileiro.

O mais recente deles foi firmado pela companhia de silos e soluções de armazenagem Kepler Weber, que anunciou nesta segunda-feira, dia 26 de maio, ter assinado um grande contrato com a Be8, uma das maiores produtoras de biodiesel do Brasil.

A companhia vai construir uma unidade de beneficiamento e armazenamento de grãos dentro do complexo industrial de etanol de trigo que está sendo erguido em Passo Fundo pela empresa gaúcha de biocombustíveis.

Trata-se do maior projeto construído pela companhia de silos nos últimos cinco anos, reflexo do contínuo avanço do agronegócio brasileiro, agora impulsionado também pela industrialização das culturas agrícolas, na avaliação de Bernardo Nogueira, CEO da Kepler Weber. “É um projeto audacioso e transformador, que vai trazer impacto para o estado do Rio Grande do Sul”, afirmou Nogueira, em entrevista a jornalistas.

Serão construídos oito silos com capacidade total de armazenar 160 mil toneladas de trigo, envolvendo todo o processo de coleta, pré-limpeza, secagem e armazenamento de grãos. O número é equivalente a um terço das 525 mil toneladas de trigo e demais cereais de inverno como triticale, cevada e aveia por ano que serão utilizadas pela Be8 para a produção de etanol na planta.

De acordo com Leandro Luiz Zat, vice-presidente de operações da Be8, a necessidade de armazenagem do trigo decorre do fato de que o cereal tem uma janela mais curta em comparação com outras culturas agrícolas que também são cultivadas no Rio Grande do Sul, como a soja.

“A janela do trigo é mais curta que a da soja. Quando o produtor vem vender, precisamos ter espaço para absorver esse volume. Se não carregarmos esse estoque, pode ser que esse trigo vá para outros locais”, diz Zat.

A planta da Be8 deve produzir 220 milhões de litros de etanol anidro, que é misturado à gasolina, e hidratado, que é utilizado na bomba. Além do biocombustível, também devem ser produzidas 155 mil toneladas anuais de farelo, subproduto do processamento do trigo, e 35 mil toneladas de glúten vital por ano.

A Kepler e a Be8 não informaram o investimento feito na estrutura de silos. A nova planta vai ter um custo total de R$ 1,29 bilhão. Uma boa parte desse valor – R$ 729,7 milhões – está sendo financiada pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), que anunciou a operação em março do ano passado.

A Be8 está completando 20 anos neste ano e se consolidou no período como uma das maiores indústrias de biodiesel do Brasil. Somente em 2024 a companhia produziu 926,3 milhões de litros do biocombustível, comercializando para nove estados brasileiros e exportando para 15 países.

A produção deve encerrar 2025 com um volume maior após ter comprado a concorrente Biopar por R$ 500 milhões, levando no negócio três fábricas de biodiesel nas cidade Nova Marilândia (MT), Floriano (PI) e Santo Antônio do Tauá (PA), além de um escritório de Cuiabá (MT).

Com as novas unidades, a empresa ampliou sua capacidade produtiva de 1,090 bilhão para 1,47 bilhão de litros de biodiesel por ano – além das indústrias adquiridas, a Be8 tem produção também em Passo Fundo, Marialva (PR), e fora do país nas cidades de La Paloma del Espíritu Santo, no Paraguai, e Domdidier, na Suíça.

A Be8 não é a única companhia a investir na produção de etanol de trigo no Rio Grande do Sul, estado que hoje precisa trazer de outras regiões do país todo o biocombustível que consome.

Além da falta de disponibilidade local do combustível, as empresas querem aproveitar também a grande quantidade de áreas produtivas gaúchas que ficam ociosas durante o inverno e que podem ser ocupadas pelo trigo e outras culturas da estação, produzindo matéria-prima para a nova indústria.

Hoje, cerca de 1,5 milhão de hectares gaúchos são ocupados pelo trigo, bem menor que o território ocupado pela soja no estado – na safra mais recente, a área plantada com a oleaginosa foi de 6,84 milhões de hectares.

“Esse projeto vai dar oportunidade para o produtor ter opção de comercializar o trigo ou outra cultura como aveia cevada triticale em áreas ociosas e que terão melhor utilização”, diz Zat.

O projeto mais adiantado é o da CB Bioenergia, do empresário e produtor rural Cássio Bonotto, que está sendo erguido em Santiago, no Noroeste gaúcho. A expectativa é de produzir cerca de 13 milhões de litros de etanol hidratado por ano, visando o mercado de aviação agrícola, 30 mil kg de DDG/dia e 20 mil metros cúbicos de CO2/dia, além de álcool neutro, 70% e em gel.

Em agosto do ano passado, Bonotto havia prometido ao AgFeed que a entrada em operação da fábrica iria ocorrer em dezembro de 2024 – mas a inauguração foi adiada. “Estamos finalizando a obra e posteriormente o encaminhamento das licenças, para termos a definição da data de inauguração”, disse há duas semanas o diretor da CB Bioenergia, Tiago Gorski, à reportagem.

Resumo

  • Contrato assinado por Kepler Weber prevê a construção de unidade com oito silos e capacidade de armazenar 160 mil toneladas de trigo
  • O projeto é o maior a ser realizado pela Kepler Weber nos últimos cinco anos e faz parte de um investimento de R$ 1,29 bilhão da Be8 em uma usina de etanol de trigo
  • O avanço da produção de etanol de trigo no Rio Grande do Sul visa reduzir a dependência do biocombustível vindo de outras regiões