A Boa Safra nasceu como uma empresa de sementes com foco na soja. Daí vem a escolha do ticker para negociar suas ações na B3: SOJA3.
Apesar dessa origem do negócio da família Colpo, uma das principais companhias na produção de sementes do País, estar intimamente ligada à oleaginosa, uma estratégia de diversificação para outras culturas, iniciada nos últimos anos, começa a dar resultados práticos. E que podem ser vistos no balanço.
No primeiro trimestre de 2025 a Boa Safra reverteu um prejuízo que costuma apresentar nesses meses do ano - e que não foi diferente no mesmo período em 2024 - para um resultado no campo positivo.
O lucro líquido ajustado que foi apresentado no balanço divulgado nesta terça-feira, 13 de maio, ainda é tímido, de R$ 718 mil. De janeiro a março de 2024, o prejuízo líquido ajustado foi de R$ 5,8 milhões.
Felipe Marques, CFO da empresa, afirmou em coletiva de imprensa, para apresentar os resultados do período, que a Boa Safra registrou um trimestre “fora do usual”.
“Historicamente, o primeiro semestre do ano é fraco em resultados financeiros, mas neste ano começamos a ver um novo formato de balanço, evidenciado pela nossa diversificação de portfólio que vem sendo executada ao longo dos anos, e mostrada agora”, disse.
No ano de 2024, o faturamento da empresa ficou em 90% na venda de sementes de soja e 10% nas outras culturas, que incluem sorgo, feijão, trigo, milho e sementes de cobertura.
Neste primeiro trimestre, o mix ficou em 65% para esses produtos, enquanto no mesmo período do ano passado as outras culturas representavam 41%.
A receita líquida do período atingiu R$ 131 milhões, uma alta de 90% em relação ao mesmo período do ano anterior, sendo R$ 91 milhões advindos dessas outras culturas.
“O faturamento com as sementes está mostrando uma suavização na sazonalidade”, disse Marques.
A sazonalidade é natural já que no primeiro trimestre, as compras de insumos dos produtores são feitas pensando nas culturas de inverno ou de cobertura, que agora fazem parte do portfólio da empresa. Como a soja é uma cultura de verão, plantada a partir de setembro, não tem vendas concentradas de sementes no início do ano.
Projetando o ano, o mix ainda deve ficar predominantemente com a soja. Ao final de março, a carteira de pedidos da Boa Safra atingiu R$ 1,4 bilhão em soja – crescimento de 40% em relação ao primeiro trimestre de 2024 – e aproximadamente R$ 17 milhões nas demais culturas.
Felipe Marques destaca que essa carteira deve se transformar em faturamento ao longo do segundo semestre do ano, mas que o avanço anual mostra uma antecipação nas compras por parte dos produtores.
No final do ano passado, a Boa Safra ampliou sua capacidade produtiva de 240 mil big bags de sementes para 280 mil big bags.
No trimestre, a área contratada para produção de sementes cresceu 20%, chegando a 274 mil hectares nesta safra para atender essa capacidade ampliada.
Quando apresentou os resultados do ano completo de 2024, o CEO da empresa, Marino Colpo, já mirava uma capacidade máxima. “Temos uma expectativa forte de crescimento em 2025. Em 2023 nossa capacidade era de 200 mil big bags e produzimos esse mesmo número. Em 2024, a capacidade era de 240 mil, mas produzimos 205 mil", relembra.
Para além da diversificação de culturas, a Boa Safra também tem uma agenda de crescimento geográfico. Desde o ano passado, a empresa tem olhado para o Sul do País com mais atenção, um mercado que representa 1/3 da área de soja do País.
No trimestre, a empresa arrendou dois centros de distribuição no Paraná, de olho em aumentar seu share na região. “É uma operação no modelo asset light, que mostra a importância estratégica para termos operação nossa por lá”.
A Boa Safra estima que possui um market share próximo aos 8% da área de soja do Brasil, só que até o ano passado, atuava em somente 70% dessa área. Desses 8%, 96% da exposição da empresa estava no Cerrado brasileiro.
Essa estratégia de ampliar a operação também se insere na agenda de fusões e aquisições da empresa. No passado, Marino Colpo já chegou a dizer que a Boa Safra tem ambição de fazer “um M&A por ano”.
Mais conservador, Felipe Marques disse que não é uma obrigação da empresa tratar essa ambição como meta, e que apesar de sempre olhar oportunidades no mercado de sementes, ressalta que “o dinheiro está mais caro”.
“Estamos mais diligentes do que no ano passado. O nosso Capex neste trimestre foi de apenas R$ 5 milhões porque esse dinheiro ficou mais caro, então buscamos otimização na alocação de recursos”, disse.
A companhia, contudo, se mostra confortável com sua posição de caixa e dívida. Felipe Marques cita que a empresa gerou R$ 90 milhões de fluxo de caixa operacional no primeiro trimestre de 2025. No mesmo período em 2024, houve consumo de R$ 143 milhões.
A dívida líquida da empresa estava negativa em R$ 51 milhões ao final de março, sendo que 91,5% do endividamento total está concentrado no longo prazo. O número é melhor do que o mesmo período do ano passado quando a dívida estava em R$ 98 milhões.
No primeiro trimestre, a empresa ainda emitiu um CRA de R$ 500 milhões. O caixa e equivalentes somaram R$ 895 milhões no período.
Resumo
- Em um ano, a companhia reverteu prejuízo de R$ 5,8 milhões em um pequeno lucro de R$ 718 mil. Receita líquida saltou 90% na mesma comparação.
- O número positivo é reflexo de uma diversificação de portfólio na Boa Safra para além da soja iniciada nos últimos anos, que pretende reduzir a sazonalidade dos resultados
- Empresa arrendou dois centros de distribuição no Paraná no trimestre, dando mais um passo rumo ao mercado do Sul do País