Quem está acostumado a ver a Nvidia como a empresa do momento no cenário das big techs americanas, já que bateu US$ 3,5 trilhões de mercado no final de 2024, pode não conhecer todo o trabalho feito pela empresa com startups mundo afora.

Na América Latina, por exemplo, Jomar Silva é o profissional da empresa que ajuda essas empresas em estágios iniciais e desenvolvedores a usarem as tecnologias da big tech da melhor forma possível.

Atuando há quase quatro anos na Nvidia, Silva passou a viver também o agro. “Comecei a estudar inteligência artificial para ajudar um projeto de agro, que precisava transmitir imagens da lavoura para uma central sem meios de comunicação”, comentou em uma palestra durante a edição 2025 do Rural Summit, que aconteceu em Ribeirão Preto na semana passada.

Depois da plenária, Jomar Silva conversou com o AgFeed e trouxe alguns insights sobre o futuro das agtechs no País.

Segundo o gerente, especificamente no setor agro, as startups que ele considera mais promissoras são aquelas que “conhecem de fato o problema do campo”. Diante de uma ebulição da inteligência artificial, ele cita que é importante saber aplicar a tecnologia nas dinâmicas específicas do meio rural.

“Saber aplicar com todos os limitantes como capacidade de processamento, distância e clima”, disse. Segundo ele, uma solução de uma agtech que funcione na América Latina funciona em todo o mundo. O oposto, contudo, não é verdadeiro.

Para Silva, se uma startup consegue driblar todas essas dificuldades que o agro brasileiro oferta, ela está apta para trabalhar em condições mais favoráveis fora do País.

Em relação ao futuro, Jomar Silva considera que dois elementos podem ser classificados como tendências daqui para frente.

A primeira diz respeito a tecnologias que consigam processar “volumes gigantescos de dados”, que sejam captados de qualquer meio. “É preciso integrar sistemas que hoje são ‘silos de informação’. Conseguindo integrar tudo, como IoT, dados que vêm de um trator, outros de satélites, sensores, conseguimos ter uma visão ampla. Extraindo informações, extraímos insights”, afirmou.

A outra tendência apontada por Jomar Silva é o uso de LLMs, sistemas de IA que transformam esse oceano de dados em uma linguagem natural para o usuário final.

Ele projeta que, com esse tipo de tecnologia, um usuário final, como um agrônomo ou o gerente de uma fazenda, não precisa mais acessar dashboards ou tabelas com informação.

“Esse usuário baterá um papo com um chatbot, que pode ser via Whatsapp, voz ou outro dispositivo, e estará recebendo uma informação com uma riqueza gigantesca. Os sistemas vão mastigar o dado para quem toma decisão”, completou.

“O dono da fazenda não precisa mais caçar um número em uma tabela. Ele faz uma pergunta e obtém uma resposta”, resume.

No fim das contas, o gerente da Nvidia acredita que agtechs que simplifiquem a vida do tomador de decisão podem ganhar mercado e investidores no futuro.

Na Nvidia, Jomar Silva também atua junto ao Inception, um programa de apoio a startups mundo afora. Na América Latina, ele citou três agtechs que acompanha de perto e que possuem soluções que brilharam os olhos da big tech.

A primeira é a SciCrop, de José Damico. A agtech que completou 10 anos em 2024 atua cruzando dados de satélites e informações de sistemas de produtores e empresas do agro sobre clima, solo e outras variáveis para entregar insights.

Nas últimas semanas, a empresa iniciou uma rodada de captação, recebendo R$ 1 milhão da Rural para escalar sua nova solução.

Chamado de InfiniteStack, o software se propõe a conectar tecnologias distintas utilizadas no campo, como telemetria e dados de plantio, mesmo de empresas diferentes, dados públicos de software e envelopar tudo em uma interface simples, num esquema que envolve um chatbot com IA.

A meta de Damico é atrair novos investidores e captar até R$ 5 milhões nos próximos meses.

“A plataforma faz justamente essa integração de dados, fora a expertise que a companhia já tem de processamento de imagens de satélite e cruzamento de dados”, comentou Jomar Silva, da Nvidia.

Outra startup, também brasileira, é a Biofy. A companhia, com sede em Uberlândia (MG), desenvolveu uma inteligência artificial que faz análises de insumos com inteligência artificial, em tempo real e direto do campo.

A terceira é a agtech argentina DeepAgro, que desenvolveu um sistema de sensores que são acoplados em pulverizadores. Com uma câmera, capta e processa imagens que fazem a pulverização selecionada, apenas onde há alguma praga.

De olho em agtechs, a Nvidia anunciou em maio do ano passado que a Nventures, braço de venture capital da companhia, um investimento - de valor não revelado - na Carbon Robotics, startup com sede em Seattle, nos Estados Unidos, que produz robôs autônomos para controle de pragas nas lavouras.

A única pista sobre o tamanho do aporte foi dado pela própria Carbon Robotics, que informou ter sido superior ao levantado pela empresa em uma rodada de série C realizada no ano passado.

Na ocasião, a agtech captou US$ 43 milhões de investidores como Sozo Ventures, Anthos Capital, Fuse Venture Capital, Ignition Partners, Liquid2 e Voyager Capital. No total, até a chegada da Nventures, as rodadas haviam rendido US$ 80 milhçoes em capital para a empresa.

Resumo

  • Empresa do momento no cenário das big techs americanas, Nvidia bateu US$ 3,5 trilhões de mercado no final de 2024
  • Companhia tem programa para apoiar startups no uso da inteligência artificial em seus produtos
  • Nventures, braço de venture capital da companhia, anunciou recentemente investimento na Carbon Robotics, que produz robôs agrícolas autônomos