O grupo de investidores de peso do último fundo da The Yield Lab Latam acabou de ganhar mais um player. Depois de captar com Grupo Bimbo, Nestlé, BID Lab, GEF, Garcés Fruit e Grupo FUNDEA, a firma de venture capital - uma das mais ativas no continente - anunciou que recebeu mais um cheque, de valor não revelado, do mexicano FOCIR (Fondo de Capitalización e Inversión del Sector Rural).
O fundo é uma espécie de “Finep mexicano”, já que pertence ao governo federal local. Segundo explicou ao AgFeed Kieran Gartlan, sócio do The Yield Lab, o aporte deixa a gestora muito próxima de fechar a captação de US$ 50 milhões (algo em torno de R$ 280 milhões) para seu fundo Opportunity Fund. Até agora, o fundo já captou US$ 45 milhões e está perto de fechar os US$ 5 milhões faltantes.
O novo investidor traz não só ó benefício do cheque, que não teve o valor divulgado, mas também o potencial de conexões, afirmou Gartlan. “Ele é um parceiro que permite que startups brasileiras enviem tecnologia para lá e, como ele possui uma base de apoio do governo, pode trazer uma rede de apoio para a agtech conquistar uma nova região.
O novo investidor traz um perfil diferente para a gama que apostou no fundo. Gartlan relembra que quando a The Yield Lab chegou na América Latina começou a captar com grupos de produtores. Em 2021, levantou US$ 5 milhões numa parceria com o AgTech Garage, hoje pertencente à PwC, e depois disso foi mudando de perfil de investidor.
A ideia, com o primeiro grupo, era trazer quem adota tecnologia, e por isso, queria estar na vanguarda de novos lançamentos. Na mesma medida, aportava e validava a tecnologia.
O perfil seguinte escolhido para prospectar capital foi o de famílias com relações profundas no agro. Nisso, a The Yield Lab Latam atraiu, por exemplo, um family office ligado à família Nishimura, dona da Jacto.
“Ao falar com o dono de uma empresa, que talvez tenha com ele 50 mil produtores clientes, não é só investimento financeiro, pois a tecnologia pode ser levada para a ponta final. Conseguimos não só produtores, mas pessoas que têm uma rede como essas”, mencionou Gartlan.
A questão é que esses grupos têm uma limitação no cheque. “Em torno de US$ 200 mil. Para criar um fundo de US$ 50 milhões, ia demorar muito para captar”. Aí entram os investidores mais institucionais.
O primeiro investidor grande, que ancorou o fundo, foi o BID Lab, braço de inovação do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID). Na sequência, a firma atraiu indústrias de alimentos, como Nestlé e Bimbo, dona das marcas Pullman e Ana Maria.
“São companhias que estão na cadeia agro, mas possuem pouca visibilidade do começo dela, onde há um produtor operando. Então, eles têm interesse em investir no fundo para ter visibilidade sobre quais são as tecnologias que podem ajudar o produtor a ser mais sustentável, por exemplo”, afirmou Kieran Gartlan.
No caso de investidores com capital governamental, como é o caso do FOCIR, a atração por players do tipo no Brasil é mais difícil, dado o cenário econômico de juros altos. Somado a isso, Gartlan acredita que esses players já têm contato direto com produtores e visibilidade sobre agtechs, então não precisam investir em um fundo para isso.
“Diferente daqui, países como México e Chile olham com atenção para o Brasil, porque o País é referência, eles querem saber o que está acontecendo aqui. O País tem mais maturidade nesse ecossistema”, contou.
Essa maturidade, segundo Gartlan, se dá em algumas frentes. Primeiro, o perfil do fundador, que ele acredita que mudou no período pós-pandemia.
“Antes, quem criava startups no agro era alguém que veio do mundo acadêmico, sem perfil de founder. Ele sabia de tecnologia, mas não tinha modelo de negócio inovador. Durante a pandemia, com as pessoas trabalhando em casa e com mais tempo para pensar em ideias e a vida, isso mudou. São pessoas que vinham do mercado já com o problema e aí buscavam a solução”, resumiu.
Além do viés mais alinhado com o mundo dos negócios, Kieran Gartlan cita que esses novos empreendedores chegaram com mais conexões e mais capital para pelo menos validar a solução.
Outra dinâmica que favorece o Brasil como país maduro no ambiente de agtechs são as apostas “fora da porteira”, principalmente as agfintechs.
“Lá fora, nos EUA ou na Europa, as agtechs são muito agronômicas, o que não tem um bom fit com o venture capital. São soluções que demandam muito investimento em Capex, infraestrutura e hardware, além de não ter tanta escalabilidade”, afirma.
“Aqui no Brasil não. Temos menos sazonalidade no agro, diversificação de culturas e um mercado produtor muito maior. E os problemas fora da porteira englobam fintechs, logística, plataformas de marketplace, que tem já mais fit com capital de risco”, acrescentou.
O perfil do fundo
Depois que captou os primeiros US$ 15 milhões, em junho de 2022, as investidas desse fundo começaram e o veículo já aportou em 18 startups, segundo o sócio. Até o final do ano, deve investir em mais 5 agtechs, com foco em empresas que atuam, em alguma medida, com clima.
“Já está quase tudo alocado na primeira etapa de investimento, que destina 40% do fundo (US$ 20 milhões) em novas investidas. 60% do capital (US$ 30 milhões), está destinado para follow-ons dentro do próprio portfólio”, explicou Gartlan.
O fundo faz aportes desde rodadas do tipo Seed até Série B. “Tudo que íamos fazer de seed já fizemos. São cheques menores, de até US$ 500 mil”.
“Agora estamos na fase de investir em rodadas Série A para cima, com cheques de US$ 1 milhão a US$ 2 milhões. No ano que vem, começaremos os follow-ons, com aportes de até US$ 3 milhões”, acrescentou Kieran Gartlan.
Com isso, 2025 é o último ano para montar o portfólio de investidas e as quatro ou cinco novas startups a receber aportes serão quase todas no Brasil, segundo o sócio da The Yield Lab.
No começo do fundo, o foco estava nas agfintechs. Dentre as investidas estão a TerraMagna e AgroForte. No meio de campo entre serviços financeiros e outras soluções, a gestora aportou na GoFlux, plataforma de logística que tem um braço fintech, e na mexicana Blooms, que quer ser a “fintech do hortifruti”.
Depois, diversificou, e passou a observar companhias que usam tecnologia para “gerar dados, visibilidade e eficiência”.
A The Yield Lab Latam investiu posteriormente na umgrauemeio, que utiliza IA para detectar incêndios, e na Symbiomics, que usa a tecnologia para desenvolver produtos biológicos.
A segunda é um “outlier” no fundo, de acordo com Kieran Gartlan. Ele afirmou que a ideia do fundo não era aportar em empresas de biológicos por considerar que são companhias que demandam pesquisa e desenvolvimento, algo que leva tempo e dinheiro.
“O caso da Symbiomics é mais atraente para o Venture Capital por que o risco é menor. O modelo é asset light e eles usam inteligência artificial para gerar um pipeline de produtos. Na parte comercial e de produção ela trabalha com parceiros”, disse.
A The Yield Lab Latam liderou a rodada seed da startup, que levantou R$ 15 milhões, e participou da rodada Série A realizada recentemente e liderada pela Corteva Catalyst.
O fundo ainda investiu na chilena Botanical Solutions, que também atua com biotecnolgia. Nesse caso, contudo, Gartlan cita que há um apoio governamental local para a parte de pesquisa e o dinheiro do venture capital auxilia apenas no acesso ao mercado.
Indo para o clima, que será o foco dos próximos aportes, a The Yield Lab Latam já aportou na Courageous Land, que desenvolveu uma plataforma para identificar o potencial econômico de transformação de terras degradadas.
“Você coloca coordenadas de uma área no sistema, que gera um relatório de 30 páginas falando todo o processo, de quanto é necessário em financiamento, o melhor produto para cultivar nos anos a depender do solo e clima. Tudo de forma automática”, resumiu Gartlan.
Para ele, as investidas devem vir, assim como a Courageous Land, do Brasil. O irlandês, que já mora aqui há muitos anos, acredita que há uma vantagem natural no País, não só no agro, mas também um clima e uma abundância de recursos naturais que outros países não possuem.
“O Brasil tem o nível certo de problemas. Não é um país desenvolvido que tem poucas dores, mas também não é uma região com extrema pobreza, sem recursos e que enfrenta guerras. Estamos num nível perfeito e entramos num ponto onde nós podemos agregar valor por que temos o básico, mas podemos melhorar muito esse básico”, finalizou.
Resumo
- O fundo Opportunity Fund, da Yield Lab Latam, captou um cheque do FOCIR, fundo estatal mexicano, e está prestes a fechar o total previsto de R$ 50 milhões.
- Após 18 aportes, a gestora deve investir em mais 4 ou 5 startups até o fim de 2025, com foco em empresas brasileiras que atuem com clima, como a já investida Courageous Land
- Além de fintechs como TerraMagna e plataformas logísticas como a GoFlux, o fundo inclui agtechs de biológicos com modelo asset light, como a Symbiomics