A produtividade do rebanho brasileiro cresce ano a ano e saiu de 9,5 arrobas/hectare/ano em 2004 para 16,2 arrobas/hectares/ano em 2024, uma alta de 70,5% em duas décadas.
Mas é consenso no setor que isso é pouco para a pecuária nacional, ainda muito extensiva e dependente de pastagens. Nos Estados Unidos, cujo modelo é intensivo e focado em confinamentos, a produtividade é o dobro.
Esse senso comum também vale para a indústria de carne, cuja linha de processamento de animais pouco mudou nas últimas décadas.
Para desafogar esses dois e outros gargalos, nascerá, em maio, um centro de pesquisa inédito no Brasil para proteína animal. Os investimentos iniciais são de R$ 100 milhões em cinco anos, ou seja, R$ 20 milhões por ano, apurou o AgFeed.
A iniciativa é da Minerva Foods e da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), cada parte com metade do aporte inicial.
A sede será no hub de pesquisa Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz, da Universidade de São Paulo (Esalq/USP), em Piracicaba (SP). Serão seis linhas de pesquisas - produção no campo, industrial, bioenergia, tecnologia e produto e saúde humana, cada uma com um coordenador e um grupo de pesquisadores.
Serão oferecidas 100 bolsas de pesquisas de mestrado, doutorado e pós-doutorado e a expectativa é que, entre os próximos dias 5 e 10 de maio, a Fapesp divulgue as chamadas públicas para as pesquisas. Além de remunerados pelas bolsas, os pesquisadores também devem receber royalties pelos projetos que tenham sucesso e ganhem o mercado.
Apesar de nascer ligada à Minerva Foods e estar sediada na unidade da USP, o centro será uma Fundação aberta a novos investidores privados - que já estão sendo procurados - e terá pesquisadores de outras universidades - como Unicamp e Unesp - e centros de pesquisas públicos.
O embrião do projeto remonta a 2019, com o professor da Esalq/USP Sérgio De Zen, uma das maiores autoridades de pesquisa pecuária do Brasil.
À época na presidência da Fundação de Estudos Agrários Luiz de Queiroz (Fealq), ele foi questionado pelo ex-diretor do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) Ruy Caldas, sobre o motivo de a Esalq/USP não ter nenhum centro de pesquisa.
A provocação deu resultado. O desenho do projeto foi feito por De Zen e a oportunidade para viabilizá-lo surgiu quando, na Minerva Foods, ele fez pós-doutorado em administração. Atualmente, é diretor de Business Intelligence da empresa.
Entre fevereiro e março do ano passado, o projeto do centro de pesquisa em proteína animal ganhou força dentro da companhia. Foram quase uma dezena de centros de pesquisa nacionais visitados no Brasil e mais de 60 outros especializados em proteína animal em todo o mundo.
No entanto, cada centro estudava apenas uma fase do processo e a ideia é que toda a cadeia fosse pesquisada no novo modelo. Além de aprovar o aporte dentro da Minerva Foods, era preciso também uma contrapartida pública para fomentá-lo e para recrutar os pesquisadores.
No final de janeiro deste ano, o processo foi aberto dentro da Fapesp, o que só ocorreu com o compromisso da Minerva Foods de bancar os R$ 50 milhões de sua parte. Os últimos detalhes estão sendo finalizados para que, no próximo mês, as duas instituições façam o comunicado oficial.
Procurada, a Minerva Foods informou que não vai se manifestar. A companhia está em período de silêncio, já que divulgará o balanço do 1º trimestre de 2025 no dia 7 de maio.
Já a Fapesp informou, via assessoria de comunicação, que o processo ainda está em andamento e que até a aprovação final poderá se pronunciar.