Não basta um robô ou um avatar para saciar a sede por dados e decisões mais assertivas na agricultura. Na proposta da Sol by RZK, que tem 80% da receita ligada a soluções de conectividade, é hora de investir com tudo na inteligência artificial, mas desta vez com um “time completo” de agentes virtuais.
Conforme adiantou o AgFeed há dois meses, a proposta da empresa é baseada nos agents criados e treinados com o uso de inteligência artificial (IA) e, neste caso, customizados para o público do agro.
Esta semana a Sol apresentou, durante um encontro com jornalistas em São Paulo, os detalhes do novo projeto, que já vem sendo testado e adotado por parte de seus clientes. É o chamado SolÁguIA, uma espécie de super agente de IA que se conecta com todos os demais na busca por dados, análises e no fornecimento das soluções ao usuário.
A interface é via whatsapp em função da forte preferência dos produtores por esse canal digital no dia a dia.
“A gente precisa levar o mundo da tecnologia para dentro da fazenda e fazer com que essas transformações ocorram, mas não só para o produtor grande” disse o CEO da Sol by RZK, Rodrigo Oliveira.
Esse sempre foi um propósito da empresa, segundo ele, mesmo no período em que o foco era quase que exclusivo para a instalação de torres que levam conectividade para as propriedades rurais.
Ao longo do tempo, no entanto, eles perceberam que somente produtores altamente tecnificados, com um centro de operações agrícolas “com um monte de telas e especialistas” conseguiam fazer melhor uso da coleta de dados, mas ainda assim ficavam distantes de quem estava no campo, efetivamente.
Com a ajuda da IA, a expectativa é de que qualquer um possa fazer uma pergunta e receber orientações imediatas. Os executivos da Sol evitam comparar com o “ChatGPT”, já que as fontes de informação não são genéricas.
O SolÁguIA será alimentado, por exemplo, com os manuais completos do maquinário, com os dados da telemetria, regras do seguro agrícola, orientações agronômicas e assim por diante.
Oliveira diz que nas visitas aos produtores rurais sempre se constatava que todos já possuíam alguma tecnologia diferente, algo vindo do universo agtech, até mesmo uma estação meteorológica, mas muitas vezes o equipamento estava lá sem utilização porque era difícil saber como aquilo poderia se conectar com o operador que estava na máquina, na lavoura.
Com os agents de IA, os diferentes dados são integrados em um só lugar, a leitura é feita e as recomendações para a tomada de decisão ficam disponíveis ao produtor.
“Aí a gente falou, precisamos pegar tecnologia, pegar todo esse monte de dados, esse monte de inteligência, mas traduzir isso numa troca de WhatsApp”, ressaltou.
Um exemplo de conteúdo que pode ser acessado pela IA são todos os manuais existentes de máquinas da John Deere, importante parceira da Sol, desde sua chegada ao mercado. São materiais com centenas de páginas, de difícil leitura, que agora são acionados por meio de perguntas no whatsapp.
Se o produtor tiver algo que não está nativo no serviço, um manual de novo equipamento, de uma marca diferente, por exemplo, ele pode solicitar a inclusão dessas informações na IA. É possível também estabelecer tarefas que precisam ser cumpridas e subir uma foto para demonstrar que o trabalho foi realizado, que depois vai para o relatório do gestor.
“Você tem o mundo do monitoramento climático, que te dá as janelas, isso está lá nas plataformas. E você tem o mundo da telemetria que te fala, estou fazendo a operação dessa forma. Agora, botar as duas coisas para conversar e de fato mandar para alguém que tome uma ação, isso ninguém estava fazendo”, defende o CEO.
A escolha do nome “águia”, segundo o executivo, tem a ver com “a alta capacidade de observar o todo, fazer análises complexas com agilidade, objetividade e simplicidade”.
O cliente que compra o serviço tem acesso a uma plataforma, com login e senha, onde acessa diferentes dashboards, define as suas necessidades de gerenciamento, classifica seus principais desafios e atribui tarefas que precisam ser executadas ou analisadas pela IA.
Além do cumprimento de tarefas diárias é possível até ter ajuda da IA para obter as melhores oportunidades de fluxo de caixa e negociação de vendas para o negócio.
“Mas tentamos não ser prescritivos, estamos no mundo da eficiência, a partir do modelo que você definir que quer alcançar”, ressaltou.
Diversificação da receita
Hoje 80% da receita da Sol vem da conectividade, segundo Oliveira. O valor do faturamento não é divulgado.
A expectativa da empresa é que, com a solução de IA, seja possível facilitar a adoção de tecnologia nas propriedades, inclusive vendendo produtos que já estavam no portfolio como análise de dados e monitoramento climático.
Além de ser o primeiro projeto de IA na empresa, o SolÁguIA é também o primeiro a ser desenvolvido 100% “em casa”. “Até hoje sempre trabalhamos com parceiros, com as operadoras na conectividade, a John Deere que é grande parceira, antes a gente entendia o que tinha no mercado e buscava facilitar o acesso”.
Oliveira disse ao AgFeed que, com o novo projeto, espera até o fim do ano já ter uma divisão de 60% conectividade e 40% outras soluções no que se refere à receita.
A Sol by RZK já viabilizou 12 milhões de hectares com cobertura de rede 3G/4G, o que representa mais de 15% da área cultivada no País, segundo a empresa, com 450 torres e 66 mil propriedades rurais em 14 estados.
Ao AgFeed, os executivos disseram que cerca de 1,2 milhão de hectares já aderiram à plataforma de IA da empresa, ou seja, 10% dos hectares cobertos pela rede.]
Mesmo assim, a empresa afirma que esse recorte mostra uma redução entre 5% e 7,5% nos custos de produção, com uma economia gerada entre R$ 360 milhões a R$ 540 milhões por safra.
“Para a Sol, esse impacto se traduz em um modelo de negócios escalável, com a captura de apenas 20% dessa economia, a empresa projeta entre R$ 72 milhões e R$ 108 milhões em faturamento por safra, apenas com sua solução de inteligência agrícola”, disse.