Rio Verde (GO) - Na fachada do prédio da multinacional alemã Helm, em Hamburgo, um monumento chama a atenção dos visitantes.
Ao chegar no prédio da empresa, que completa 125 anos de vida neste ano, os olhares encontrarão uma espécie de parede de 10 metros de comprimento com uma fresta no meio que divide dois homens de terno. Eles seguram uma corda em conjunto e, com isso, vão escalando a parede.

A simbologia de crescer por meio de parcerias dita o negócio da companhia, que em sua atuação no agro, por meio da Helm Ag, usa dessa estratégia para ganhar mercados.

A companhia, com uma receita na faixa de 6 bilhões de euros por ano (pouco mais de R$ 38 bilhões pela cotação atual), se insere no mercado de insumos para o agro vendendo químicos pós-patente, os chamados genéricos, turbinados com tecnologias próprias. Hoje, os produtos destaque são fungicidas e herbicidas.

“É todo um propósito de inovar naquilo que já teve sucesso. É uma filosofia bem alemã, de melhorar o simples para ter um negócio de mais qualidade”, resumiu Julio Cesar Lourenço, gerente de produto e de acesso ao mercado da Helm do Brasil, em entrevista ao AgFeed.

Segundo ele, essa estratégia tem ganho novos traços nos últimos anos por aqui. Apesar de ser uma empresa centenária, a companhia está no Brasil há 50 anos. No agro, somente desde 2000.

Nos últimos anos, a empresa deixou de atuar somente com defensivos e passou a ter uma linha de nutrição e proteção foliar. “Trouxemos biológicos e metabólicos que nos surpreenderam e esse é o segundo ano a e primeira safra cheia em que atuamos com essas formulações no mercado”.

O portfólio inicial contempla três produtos biológicos: um nematicida, um biofungicida e um bioinseticida, montando, segundo Lourenço, uma gama de produtos paralela e complementar à dos químicos.

“O bioestimulante, o metabólico, a gente já comercializou na safra passada. E agora nós estamos complementando com nutrição e com a questão dos biológicos dentro dessa estrutura”, afirmou.

Lourenço disse que a estratégia não se resume a uma questão de sustentabilidade para o negócio, indo além da briga de preços. “É porque essa inovação no produto traz valor para a cadeia toda, com mais resultado para o produto”, ponderou.

O executivo reconhece que a Helm não passou ilesa aos percalços que o mercado de químicos enfrentou nos últimos anos, mas ressalta que a empresa não diminuiu sua estrutura no Brasil. Para o futuro, se mostra otimista com a safra 2024/2025 “cheia”.

“Se o produtor está bem, a cadeia inteira vai bem. Este ano, principalmente, a região do Cerrado para cima está com produtividades altas e o produtor feliz com isso”.

Julio Cesar Lourenço está há pouco mais de um ano na Helm. Depois de atuar 28 anos na Basf, onde ficou a maior parte do tempo como gerente de vendas, atuou na TMF e na Microgeo, ambas pertencentes ao Patria e passou alguns meses na Coplacana antes de entrar na multinacional alemã no ano passado.

Desde que chegou, conta que o foco dos últimos lançamentos da Helm no Brasil tem sido no combate a ervas daninhas.

“Lançamos recentemente dois herbicidas pré-emergentes. Hoje o problema sério da agricultura voltou a ser o de controle de ervas daninhas. As doenças estão bem monitoradas, as pragas com uma sazonalidade mais definida e o que aperta é a presença das ervas”, conta.

Outro lançamento recente, um fungicida, mostra um pouco da estratégia da companhia em agregar valor aos químicos genéricos. Nessa formulação, a empresa pega o conhecido químico clorotalonil e agrega outros ingredientes de uma tecnologia própria chamada “witter stick”.

“Essa tecnologia faz com que o produto aplicado sobre a folha persista por mais tempo”, explica.

Para as próximas safras, a empresa já está no rito de aprovação junto às autoridades para novos inseticidas. No negócio, a empresa atua com fornecedores da China e, geralmente, compra as fórmulas e faz a mistura no Brasil. Em alguns casos, adquire uma formulação já pronta e só embala com a marca Helm.

A Helm possui presença em todo o País, com cinco gerências comerciais, sendo duas no Mato Grosso, e outras no Rio Grande do Sul, Paraná, Goiás, que atua também no Matopiba, e São Paulo, onde fica a matriz.

Segundo Lourenço, os mercados são equilibrados e a atuação principal está no mercado de grãos. “Temos uma presença forte na citricultura, no café e estamos entrando no amendoim e no trigo no Rio Grande do Sul”, acrescentou o gerente.

Para chegar aos produtores, a companhia atua com revendas, cooperativas e vendas diretas para poucos grandes produtores.

“A maior parte dos lançamentos está nas revendas, mas as cooperativas cresceram mais nos últimos três anos”, diz. Uma dessas cooperativas é a goiana Comigo, que faturou R$ 11,2 bilhões no ano passado e é a organizadora da Tecnoshow, feira em que Lourenço conversou com a reportagem.

Segundo ele, essa é uma das poucas feiras do País em que a empresa participa ativamente com estande. Segundo ele, além de criar vínculos com produtores, é um evento que rende muitos negócios.

Globalmente, o maior mercado da Helm está na Europa, com 50% do faturamento. São outros 37% nas Américas e o restante na Ásia. No Velho Continente, as vendas se dão no leste europeu, pois a empresa descontinuou, por questões regulatórias, a operação agro em países mais a oeste do continente.

Nos Estados Unidos, Lourenço conta que a Helm é a principal fornecedora de adubos sólidos para o agro local. “Temos parcerias com as tradings e temos 17 pontos de entrega dos produtos no Rio Mississipi.

O mercado brasileiro hoje figura no quarto lugar considerando o faturamento global. “Se considerarmos só a parte de químicos e defensivos, o Brasil sobe no ranking”, diz. Questionado se o País tem capacidade de subir mais essa escada, Lourenço disse que sim, principalmente com esse novo portfólio diversificado.

Fora do agro, a Helm ainda atua no Brasil como o principal fornecedor de metanol para a indústria de diesel e biodiesel, além de vender insumos para indústrias químicas, como tintas. A empresa já atuou também com fármacos, mas a unidade foi descontinuada globalmente.