Uma startup que desenvolveu um sistema inteligente de irrigação e nutrição de plantas captou alguns milhões para escalar sua solução. O roteiro pode remeter a uma agtech que atua com grandes produtores rurais do interior do Brasil, mas não é o caso da Brota.

A empresa criou exatamente essa tecnologia e está seguindo a trilha de captações, mas atua em outro segmento: a agricultura urbana. Somado a isso, seu cliente não é um produtor rural tradicional – é, sim, o cidadão comum, morador das cidades.

Fundada em 2020 pelo CEO Rodrigo Farina e seus sócios Bruno Arouca e Juan Correa, a agtech produz um sistema próprio de irrigação e nutrição inteligente que é capaz de manter plantas saudáveis por até 90 dias, a depender do cultivo, sem necessidade de rega.

Hoje a tecnologia permite que qualquer pessoa, mesmo sem muito conhecimento agrícola, cultive em casa temperos, verduras, cogumelos, ervas e até plantas de decoração.

Depois de nascer no formato online, no modelo B2C, vendendo direto ao consumidor final, a empresa fez parcerias com redes como Leroy Merlin, Cobasi e Petz para vender seu produto em lojas físicas, num esquema B2B2C. E, depois de chegar com seu produto em 100 lojas no final de 2024, quer crescer essa presença 10 vezes nos próximos anos.

“O varejo é muito mais rápido para ganhar escala e é hoje nosso principal motor de crescimento. Saímos de um faturamento 0% dependente dessas vendas em janeiro de 2024 para 50% ao final do ano”, afirmou o CEO da Brota ao AgFeed.

A empresa projeta um crescimento também exponencial no faturamento. Farina prefere falar do faturamento em termos mensais e cita que a companhia saiu de R$ 129 mil em vendas em janeiro passado para cerca de R$ 500 mil em dezembro de 2024.

“Enxergamos hoje uma empresa com potencial de faturar R$ 7 milhões neste ano, mas chegando em dezembro de 2025 com um faturamento de R$ 1 milhão por mês”, afirmou.

Ao final de 2026, ele vê a companhia faturando R$ 2 milhões por mês. O negócio, diz, tem hoje uma margem bruta de 60%.

Para ajudar nessa empreitada de crescimento, a companhia acabou de captar R$ 1,5 milhão via EqSeed, plataforma de investimentos em startups via crowdfunding. É a terceira rodada de captação por esse canal.

Segundo Farina, ainda houve um aporte da Valor Investimentos fora do R$ 1,5 milhão, mas não divulgou o tamanho do cheque.

Antes, a empresa havia captado R$ 1 milhão com a gestora Apex Partners, logo no começo da empresa, para ajudar no desenvolvimento da tecnologia.

Na segunda rodada, que também contou com a EqSeed, captou R$ 2,5 milhões em dois tranches, com a entrada do grupo Emunah, casa que investe em startups em estágio inicial.

Mirando os "pais de planta"

Diferente de outras startups que nascem a partir de um problema ou oportunidade de mercado detectado pelo fundador, Farina conta que a Brota nasceu de uma pesquisa de mercado.

Em meados de 2019, atuando junto ao BNDES, o empreendedor realizou uma série de pesquisas para identificar startups e iniciativas que existiam nos EUA e não no Brasil.

Expandindo o estudo para Israel, União Européia e Japão, percebeu que a agricultura urbana era pensada apenas de forma clássica, como em plantios feitos em telhados ou em espaços mal aproveitados de prédios.

“Percebi que esse tipo de negócio só funciona em dois cenários: onde há muito investimento, como no caso dos EUA, ou quando há escassez de terra para a produção de alimentos, no caso de Israel”, afirmou.

Como fazer a ideia prosperar num país com vocação agrícola como o Brasil? Percebendo que esse mercado possuía muito fit com outros, como jardinagem e no de decoração.

Na pesquisa, Farina ainda mapeou que, na época, esse mercado de jardinagem era de R$ 10 bilhões no Brasil e US$ 200 bilhões nos EUA.

“Vimos muito produto tecnológico, algo que não havia no Brasil. Um vaso com sistemas envolvendo cordas para irrigação não tem nada de inteligente”, afirmou.

Com o conceito americano na cabeça, percebeu que sua replicação era viável com tecnologia nacional. “Dava para replicar aqui explorando o que fazemos de melhor, que é o agro, levando para dentro da casa do consumidor final”, diz Farina.

Os fundadores então rodaram uma série de pesquisas junto à Esalq, Unicamp, UFG e UFRRJ, e desenvolveram uma raíz artificial que faz a irrigação personalizada.

Se de um lado a “cordinha ligada aos vasos” irriga a terra mesmo sem a necessidade, a Brota trouxe um sistema que dá um banho de sais minerais na raiz, com um tratamento que, segundo ele, é a fórmula secreta da empresa, que manda água para a planta de acordo com sua necessidade hídrica.

“Desbloqueamos um mercado para quem quer plantar dentro de casa e não consegue”, afirma.

O primeiro produto foi a horta inteligente, que nada mais é do que uma caixa de 20 centímetros com alguns vasos embutidos e ligados no sistema tecnológico desenvolvido pela startup.

A caixa ainda recebe uma lâmpada de led para ajudar no desenvolvimento do cultivo, que pode ser desde temperos como manjericão, passando por alfaces, ervas e plantas não alimentícias, como suculentas.

Com o passar dos anos, a precisão tecnológica passou de 36% para 99%, alegou o CEO. Farina vê a Brota como uma “empresa de tecnologia agronômica”, e por isso, diz que empresa segue de olho em novas tecnologias de agricultura que surgem lá fora para uma adaptação ao mercado nacional.

Numa dessas, conheceu a startup americana Back to the Roots e trouxe uma tecnologia para cultivo de cogumelos para a Brota.

Hoje o principal perfil de cliente envolve quem quer cultivar plantas de decoração. “80% das nossas vendas em 2024 vieram de vasos tecnológicos de decoração”.

Antes de trilhar suas rodadas de captação com investidores, Farina conta que o primeiro “investimento” que a empresa recebeu foi dos próprios clientes iniciais.

“Não tínhamos um tostão para investir no produto, e abrimos uma pré-venda com seis meses de entrega. Foram elas que financiaram o início da empresa, e vendemos 3 mil unidades do vaso inteligente em 2021”, conta.

Posteriormente, abordados por fundos e empresas de venture capital, eles perceberam que o mais “difícil”, que era a venda do produto em si, a companhia estava fazendo, e demandava recurso para melhorar a tecnologia embarcada.