A gangorra entre fatores positivos e negativos do agronegócio marcou a divulgação dos resultados do primeiro trimestre do ano fiscal de 2025 da Lavoro – que representa o período entre 01 de julho e 30 de setembro de 2024 –, realizada na manhã desta segunda-feira, 3 de fevereiro.

Do lado positivo, a empresa enxerga uma melhora do humor dos produtores rurais e uma perspectiva de que a safra 2024/2025 traga margens maiores no campo e, assim, uma elevação nos padrões de consumo de sementes e outros insumos, que estavam retraídos.

Já as restrições de crédito e a aversão crescente do mercado financeiro a riscos não devem contribuir para melhorar os resultados da companhia, segundo apontou a revisão do guidance divulgado juntamente com o balanço.

“As notícias positivas vêm dos produtores”, resumiu Ruy Cunha, CEO do grupo de distribuição e produção de insumos agrícolas, em conferência com analistas.

“Esperamos que o potencial crescimento de caixa com a soja ajudará a limitar a contração de liquidez dos agricultores, o que terá um efeito positivo no resto da cadeia de valor”.

Cunha admitiu, no entanto, que o contraponto da dificuldade em obter recursos para o financiamento do varejo de insumos exigirá que a empresa execute “medidas estratégicas para garantir que a Lavoro esteja bem posicionada para capitalizar as primeiras indicações de um mercado de recuperação”.

Entre essas medidas está, segundo anunciou, o fechamento de 70 de suas 187 lojas no Brasil – a empresa ainda mantém 36 na Colômbia. Segundo Cunha, isso deve impactar em aproximadamente 10% as receitas da empresa no segmento.

O movimento já vinha em curso, mas foi quantificado de forma explícita pela primeira vez agora. Ele apontou que as unidades a serem fechadas já foram identificadas e, por estarem próximas a outras mais rentáveis, serão incorporadas, assim como parte de suas equipes.

“Essas iniciativas diminuirão os custos fixos, eliminando custos administrativos duplicados e gastos de inventário e também enriquecendo a eficiência de capital de trabalho. Esperamos que os benefícios dessas medidas se materializem na segunda metade do ano fiscal”, disse.

Assim, com o sobe e desce da gangorra, a revisão na perspectiva da Lavoro para 2025 é fechar o ano fiscal com receita consolidada entre R$ 6,50 bilhões e R$ 7,50 bilhões de reais (em dólar, já que a empresa está listada na bolsa americana Nasdaq, a variação ficaria entre US$ 1,12 bilhão e US$ 1,28 bilhão, o que significaria uma queda sensível em relação aos US$ 1,88 bilhão do ano anterior).

Desse total, a receita com insumos deve variar entre R$ 5,90 bilhões e R$ 6,90 bilhões (de US$ 1.02 bilhão a US$ 1,18 bilhão, de acordo com o câmbio à época, usado pela companhia no balanço, com o dólar cotado a R$ 5,546).

Em termos de resultado operacional, segundo Julian Garrido, CFO da companhia, a Lavoro “não espera mais que a gestão seja feita para crescer no ano de 2025 em comparação com o ano de 2024”.

Ajuda da Crop Care

Os resultados para o trimestre apresentados por Cunha refletem, segundo ele, ainda efeitos das dificuldades que prejudicaram o desempenho da companhia nos períodos anteriores.

O que trouxe uma relativa redução na pressão sobre as contas foi o desempenho da Crop Care, holding que reúne empresas fabricantes de insumos como a Union Agro, de fertilizantes especiais, e a Perterra, de químicos genéricos.

A receita desse segmento aumentou 68% em comparação ao primeiro trimestre do ano fiscal de 2024 e atingiu R$293,7 milhões.

Outros pontos a favor realçados pela empresa foram a “relativa estabilidade para o varejo agrícola da América Latina, apesar dos ventos contrários do mercado, e a recuperação gradual da margem bruta no varejo agrícola do Brasil”.

De acordo com o balanço, a receita consolidada da Lavoro (R$ 2,05 bilhões) teve queda de 13% em relação ao mesmo período do ano anterior.

Grande parte desse resultado se deve aos 52% a menos na receita com grãos associada à operação de barter, enquanto que na comercialização de insumos a redução foi de 9%.

Na gangorra da Lavoro, o negócio da Crop Care registrou aumento de 68% na receita em reais, enquanto as vendas na Colômbia e Equador, onde a empresa está também presente, subiram 4%.

Já a receita de varejo agrícola no Brasil (R$ 1,55 bilhão) desequilibrou negativamente: em reais, foram 23% a menos “impactada negativamente pelos efeitos prolongados das quedas de preços de insumos do ano passado e restrições de liquidez do agricultor”, segundo o release de resultados.

As margens brutas melhoraram, chegando a 15,6% e permitindo um lucro bruto consolidado de R$ 321,2 milhões no trimestre (10% acima ao ano anterior).

Ainda assim, na linha final do balanço ficou registrado prejuízo líquido de R$ 267,1 milhões, quase quatro vezes superior aos R$ 71 milhões do mesmo trimestre do ano anterior.

“O aumento de R$ 196,1 milhões deveu-se, em grande parte, a mudanças nos ativos fiscais diferidos (contribuição de US$ 152,1 milhões para o prejuízo líquido) e aos maiores custos financeiros (aumento de R$ 60,7 milhões em relação ao ano anterior), que mais do que compensaram a melhora do lucro bruto”, informou o documento

Custos com pessoal e provisões de estoque vencidas impactaram sobre o EBITDA ajustado, que diminuiu -5%.

Na queda do varejo agrícola, segundo a empresa, ainda que tenha havido crescimento do volume de vendas em produtos de proteção de cultivos e especialidades, não foi suficiente para compensar as quedas na comercialização de sementes e a redução dos preços.

O chamado Cluster Norte (principalmente o estado do Mato Grosso) foi onde as vendas mais caíram (-37%). No Sul e no Leste, “que enfrentaram menor impacto do El Niño do ano passado”, as quedas na receita de insumos ficaram em 6% e 7%, respectivamente.