Quando o dinheiro estava barato para investimentos e o furor das fintechs começou a ganhar tração no mercado brasileiro, os olhares dos empreendedores do agro se voltaram para o mercado de grãos.

Até pela dinâmica do País e dos montantes bilionários que soja e milho pesam na balança comercial, agfintechs como Agrolend e TerraMagna surfaram nessa onda e concederam milhões para produtores do campo.

Nesse universo de crédito para o agro, Felipe d’Ávila viu uma oportunidade para atuar num segmento que ele conhecia bem: o da avicultura.

Felipe é bisneto de Attilio Fontana, fundador da Sadia, e com essa vivência familiar, notou ao longo de sua vida que uma das grandes dores aos produtores da cadeia avícola, geralmente de pequeno ou médio portes, era o acesso a crédito.

Para além da tomada de crédito tradicional via bancos, ele via que muitas indústrias emprestavam esse dinheiro por necessidade, mesmo não sendo especialistas em gestão de crédito.

“Quando houve a revolução das fintechs, os negócios que surgiam eram voltados para grãos e esse gap casou com minha experiência passada”, diz. Em 2020, ele criou a agfintech AgroForte.

A startup passou a atuar comercialmente em 2022 e, desde então, concedeu R$ 100 milhões em crédito para produtores rurais do setor de proteína animal. A meta, segundo o CEO, é dobrar esse montante nos próximos 12 meses.

Os R$ 100 mihões foram atingidos em pouco mais de mil operações, de acordo com o executivo, com um ticket médio de R$ 80 mil por operação.

Depois de desbravar o mercado de avicultura, a empresa passou a atender também produtores de leite.

“Crescemos muito no frango e vimos oportunidade no leite. Os ciclos também são curtos e parecidos. Hoje, temos presença em 70% do mercado de frangos e 30% no mercado de leite”, conta o CEO.

O faturamento atual da AgroForte, segundo ele, está dividido entre 50% para avicultores e 50% para produtores de leite. A empresa está começando a entrar no mercado de gado de corte e também no universo de suínos.

Com a expertise do setor avícola de um lado, Felipe d’Ávila se juntou com executivos experientes no setor financeiro para unir as duas pontas da cadeia.

Além dele, o grupo de fundadores conta com Gustavo Silva de Andrade, CTO da empresa, executivo que fez carreira no Banco Safra e foi responsável pela área de engenharia de produtos no C6 e na fintech LetsBank, e com Carlos Eduardo Mascarenhas, CFO, que acumula mais de duas décadas de experiência em bancos como Itaú e Safra.

O COO da empresa, Márcio Cardoso, também sócio, é outro com background no universo financeiro. Em mais de 25 anos no mercado financeiro, passou pelo Voiter, antigo Indusval, e pelo Letsbank.

No ano passado, a empresa também trouxe João Pedro O'Callaghan para o quadro, para atuar como head de novos negócios e parcerias agro. João é filho de Jerry O'Callaghan, que atualmente é presidente do conselho da JBS.

O modelo de negócio

O CEO explica que o modelo de negócio da empresa é um B2B2C. Na prática, a empresa faz parcerias com cooperativas e agroindústrias e cria um convênio que permite à agfintech ter acesso às informações dos produtores, como de performance, produtividade e capacidade.

A AgroForte cria um score para esses produtores, que, só por fazerem parte da base desses parceiros conveniados, já possuem uma linha de crédito pré-aprovada, baseada nas informações que ele cede.

“A cooperativa ou agroindústria abre esse caminho para chegarmos no produtor e, com isso, nosso custo de aquisição é baixo. O produtor toma crédito no nosso app e em menos de 24 horas liberamos o recurso”, conta o CEO.

A diferença no modelo, segundo Felipe d’Ávila, é que quem paga a fintech é a cooperativa ou a agroindústria, e não o produtor. Essa instituição, por sua vez, faz uma retenção do recebível futuro que receberá deste associado.

Os clientes da empresa incluem as cooperativas Lactalis, C.Vale e a Cativa, além de indústrias como a BRF, a UltraCheese e a Scala. O crédito concedido vêm da própria AgroForte, por meio de um FIDC. Atualmente, este fundo possui R$ 80 milhões.

O CEO afirma que a base de da AgroForte possui 45 mil produtores ligados a essas empresas. O potencial de crédito a ser concedido só nessa base é de R$ 3 bilhões a R$ 5 bilhões, segundo o executivo.

“Diferente de uma agfintech que atua no mercado de grãos, que possui um pico de originação por conta da dinâmica da safra, nós originamos todo dia e liquidamos todo dia”.

Hoje, a empresa consegue conceder crédito para antecipação, que geralmente tem um vencimento de um mês, para capital de giro, que usualmente dura três meses, e para investimentos, que podem chegar até a 30 meses.

“Estamos estruturando um novo fundo para possibilitar uma linha de crédito de longo prazo, para até 10 anos. Isso vai ajudar o produtor a, por exemplo, criar um novo aviário”, revela.

Uma nova rodada de investimentos à frente

Concomitante a esses planos de crescimento, a AgroForte projeta também uma captação com investidores.

O CEO revelou que a empresa está se preparando para uma rodada do tipo Série A, no ano que vem, que deve levantar algo em torno de US$ 8 milhões e US$ 10 milhões.

“Até lá estaremos com um portfólio maior e consolidado. Nosso objetivo é nos consolidarmos em todos os mercados de proteína, virando o agente de crédito desse ecossistema. Com o recurso, vamos aumentar o time e lançar novos produtos”, afirmou.

Até agora, a empresa já levantou US$ 4 milhões em uma rodada pré-seed e uma extensão. Segundo d’Ávila, os principais investidores da empresa são a The Yield Lab, a Futurum Capital, a Kalei Ventures, a gestora Catálise Investimentos e alguns family offices e investidores pessoa física.