A área de fusões e aquisições da megatrading global Bunge não descansa. Menos de três semanas depois de ter recebido sinal verde do Cade para avançar, no Brasil, com a incorporação dos ativos da Viterra, e sete meses de pois de pagar R$ 1,8 bilhão pelos ativos da CJ Selecta, a companhia acaba de assinar outro contrato para aquisição no País.
O cheque agora será de R$ 600 milhões, assinado em parceria com a muntinacional Zen-Noh Grain Corporation, com quem formou um consórcio para comprar metade de um terminal de grãos no Porto de Santos que, até então, pertencia à Rumo, gigante brasileira do setor de logística.
A negociação foi informada ao mercado pelas redes sociais da Bunge e em fato relevante publicado pela Rumo no final da tarde da quarta-feira, 29 de maio.
A nota da companhia brasileira confirmou o valor da transação pela transferência da participação na Terminal XXXIX, companhia responsável pelo Terminal 39 (T-39), e que tem como sócia a Caramuru Alimentos, dona dos outros 50%.
“Com essa operação, a Bunge espera ter mais flexibilidade logística em um importante corredor de exportação no país, colaborando para que nossos produtos continuem chegando a todas as partes do mundo de maneira segura e sustentável”, afirmou a Bunge em nota nas redes sociais.
O T-39 é especializado em operações com granéis sólidos de origem vegetal e possui armazém com capacidade estática para 135 mil toneladas.
A julgar pela sua parceira nessa empreitada, um dos destinos das commodities embarcadas no T-39 será o Japão.
A Zen-Noh Grain Corporation é uma empresa estadunidense criada em 1979, que surgiu com o objetivo de fornecer grãos dos EUA para a Zen-Noh, companhia responsável pela comercialização e cadeia de abastecimento do Grupo JA (Japan Agricultural Cooperatives), uma organização de cooperativas agrícolas no Japão. A receita global do grupo é estimada em US$ 10 bilhões.
A empresa possui uma subsidiária no Brasil desde 2015 e atua com o objetivo de fornecer grãos como milho, soja e farelo de soja ao país asiático. Por aqui, a subsidiária ainda possui uma joint venture com a LDC (Louis Dreyfus Company) e a Amaggi, chamada de ALZ Grãos.
Segundo o site da Zen-Noh Grain Brasil, a ALZ está baseada na região do Matopiba e atua na comercialização de soja e milho e na operação portuária no Terminal de Grãos do Maranhão (Tegram).
No final do ano passado, a ALZ Grãos demonstrou interesse em investir R$ 1,3 bilhão para criar uma fábrica de etanol de milho no oeste da Bahia. Segundo um comunicado oficial da ALZ, a indústria, se sair do papel, deverá ter capacidade de esmagamento de um milhão de toneladas de milho por ano.
A estratégia da Rumo
A Rumo, por sua vez, pontuou no fato relevante que a alienação da participação no T-39 representa um movimento de “disciplina financeira e reciclagem de capital”.
“Com isso, fortalecemos nossa posição de caixa para concentrar esforços em projetos que sustentem o programa de aumento de capacidade em curso e fortaleçam a competitividade estrutural do modal ferroviário”, afirmou a companhia.
Na visão de Rogério Araújo, analista do BofA, a venda por parte da Rumo é positiva, e que a transação pode reduzir a alavancagem, medida pela relação entre a dívida líquida e o Ebitda da empresa, neste ano.
Em relatório distribuído a clientes do banco, ele afirmou que grande parte do mercado, incluindo o próprio BofA, não esperava resultados relevantes vindos do T-39, e, portanto, considera que “o preço de venda pode ter sido atrativo”.
“Consideramos positivo que a Rumo venda participações em terminais de grãos maduros para focar na expansão da capacidade do Porto de Santos”, acrescentou.