O café no Brasil é tratado quase como um símbolo nacional. No ano passado, a produção passou das 55 milhões de sacas de 60 kg, segundo dados da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab). Deste total, quase 40 milhões de sacas foram exportadas, segundo dados do Conselho dos Exportadores de Café do Brasil (Cecafé).
A previsão é de que o cenário seja ainda melhor em 2024, com a produção projetada pela Conab em 58 milhões de sacas, e uma tendência crescente de investimentos não apenas na commodity, mas também no produto de maior valor agregado, o café torrado e moído.
No caso do café solúvel, além do mercado externo, conta a favor o crescimento no consumo brasileiro, que vem avançando há oito anos consecutivos, uma oportunidade que, naturalmente, chama a atenção de grandes empresas multinacionais.
A Louis Dreyfus Company (LDC), empresa de origem suíça que se tornou uma das maiores comercializadoras globais de produtos agrícolas, anunciou esta semana a compra de 100% da Cacique, maior exportadora de café solúvel do Brasil.
Questionada pela reportagem do AgFeed, a LDC afirma que os termos financeiros da operação são confidenciais. Mas destaca que a aquisição coloca o Brasil no mapa estratégico da empresa com produtos de maior valor agregado.
“O movimento para comprar a Cacique está alinhado com a estratégia da LDC de diversificar a originação de receitas com produtos de maior valor agregado”, diz a companhia respondendo a perguntas feitas por e-mail.
Em setembro do ano passado, a LDC fez um movimento parecido no Vietnã, onde fechou uma joint venture com a empresa Instanta que resultou na construção de uma unidade produtora de café solúvel seco e congelado, com capacidade de 5,6 mil toneladas por ano.
A capacidade da Cacique é maior. Na unidade de Londrina, no Paraná, que foi a primeira construída pela empresa, e na de Linhares, no Espírito Santo, inaugurada em 2021, a companhia brasileira produz cerca de 32 mil toneladas por ano.
A Cacique tem uma participação de 45% no mercado brasileiro de café solúvel, e exporta para mais de 70 países, segundo informações que constam na página da companhia na internet.
Outra vantagem da Cacique é a diversidade em tipos de café solúvel produzidos. Além do “freeze dried”, que é produzido na unidade da LDC no Vietnã, a empresa brasileira produz também “spray dried”, que é um café solúvel em pó, o granulado, o óleo do café e o produto já envasado.
Além de pensar na diversificação de receitas, o movimento da LDC mostra que a empresa está olhando para o Brasil com mais atenção.
“A aquisição vai também expandir nossos negócios no Brasil, onde o Grupo já atua há 80 anos, complementando as operações de café verde que temos atualmente no país”, diz a LDC.
No balanço financeiro referente a 2023, divulgado recentemente pela companhia, a LDC mostra o Brasil como decisivo em algumas unidades de negócios, inclusive de café. Com a ajuda brasileira, a companhia conseguiu manter o lucro estável no ano passado, mesmo com faturamento 15% menor.
“O Brasil é um mercado-chave para a LDC, tanto na unidade de “merchandising” (área que inclui o café verde), que fez da empresa uma potência global, quanto na nossa estratégia de elevar a participação em produtos de maior valor agregado”, diz a empresa.