“O mundo está mudando. E a Nestlé precisa mudar mais rápido”.
Philipp Navratil age com a urgência expressa em suas palavras. Poucas semanas após assumir o cargo de CEO da maior empresa de alimentos do mundo – após um conturbado processo de demissão de seu antecessor, Laurent Freixe –, ele serviu um café amargo a seus comandados: um radical plano de redução de custos que deve incluir 16 mil demissões nos próximos dois anos.
Em conversa com jornalistas logo nas primeiras horas desta quinta-feira, 16 de setembro, ele não fez rodeios sobre suas intenções. Sua proposta, afirmou, “ incluirá tomar decisões difíceis, mas necessárias, para reduzir o quadro de funcionários.”
O novo CEO herdou um plano de recuperação das margens da companhia que havia sido anunciado, meses atrás, por Freixe – desligado do grupo após uma investigação interna revelar um relacionamento considerado inapropriado com uma subordinada.
Até esta quinta, a proposta era reduzir custos em US$ 2,5 bilhões até o final de 2027. Navratil turbinou a ideia, introduzindo cortes mais severos, que agora levam essa meta a US$ 3,7 bilhões.
Três quartos das demissões – cujo número equivale a um total de 6% da força de trabalho global de 227 mil funcionários – deve acontecer em funções administrativas, qua tualmente somam 118 mil cargos.
Já nas áreas operacionais e industriais, que reúnem 158 mil empregados, serão 4 mil vagas elmininadas em todo o mundo. Segundo Navratil, as demissões jpa começaram a ser feitas.
Assim que o anúncio foi feito, as ações da Nestlé dispararam na abertura dos mercados europeus, subindo quase 8% e atingindo a cotação máxima em 17 anos.
Isso acontece porque Navratil, que tem entre suas metas justamente resgatar o valor das ações da empresa, aproveitou uma oportunidade rara na história recente da Nestlé para fazer o anúncio.
Juntamente ao aperto na reestruturação, ele comunicou ao mercado dados positivos de aumento de vendas, na casa de 4,3% no terceiro trimestre fiscal da empresa. Segundo explicou, isso reflete preços mais altos dos produtos, mas também crescimento real de volumes.
Nos últimos dois anos, a Nestlé registrou sucessivas quedas de vendas, provocadas pela fuga dos consumiodores, que trocaram seus produtos mais caros por outras marcas mais baratas.
Agora, segundo informou Navratil, as vendas dos primeiros nove meses do ano atingiram US$ 83 bilhões, um aumento de 3,3% em termos orgânicos – embora flutuações de câmbio fizeram com que as vendas líquidas reportadas caíssem 1,9% em relação ao mesmo período em 2024.
No terceiro trimestre, os volumes aumentaram 1,5%, bem acima do aumento de 0,3% previsto pelos analistas.
Na teleconferência desta quinta, Navratil afirmou que a “prioridade número um” da Nestlé é impulsionar o crescimento do volume era "nossa prioridade número um", e arrancou elogios de analistas. Jean-Philippe Bertschy, da Vontobel, por exemplo, disse que “embora ainda muito frágil, acreditamos que este conjunto de resultados ajudará a Nestlé a restaurar parcialmente a confiança dos investidores”.
Também agradou o mercado a percepção de que, ao aprofundar os cortes, Navratil manteve a coerência em relação ao trabalho que havia sido iniciado por Freixe e que inclui, além das demissões, a reavaliação e eventual desinvestimento em algumas linhas de produtos do grupo.
O novo CEO conta, nesse sentido, com o suporte de um novo presidente executivo, Pablo Isla, ex-chefe do grupo varejista espanhol Inditex, dono da Zara.
Entre as possibilidades avaliadas estão a venda do negócio de confeitaria ou as marcas de alimentos congelados. Também especula-se a venda total ou parcial da participação de 20,1% da empresa no grupo de beleza francês L'Oréal.
Resumo
- Novo CEO da Nestlé, Philipp Navratil, lança plano agressivo de corte de custos de US$ 3,7 bilhões até 2027
- Reestruturação inclui demissão de 16 mil funcionários, 6% da força global, focada em cargos administrativos
- Ações da Nestlé sobem 8% após anúncio e melhora nas vendas, sinalizando retomada da confiança do mercado