O ritmo de vendas do milho segunda safra, por parte dos agricultores, no mês de dezembro, ficou acima do mesmo período do ano passado, em função das melhores cotações, segundo um levantamento da Argus, empresa especializada em análise de preços de commodities.
O relatório, que leva em conta dados de participantes de mercado, indica que, até o final de dezembro, cerca de 14% das 91,2 milhões de toneladas esperadas para a safra de milho inverno 2023/2024 haviam sido comercializadas.
O ritmo das vendas está 2 pontos percentuais à frente do ano anterior, segundo a agência. No início do ano passado, as vendas para o ciclo 2022/2023 estavam em 12% da produção esperada.
Segundo a Argus, as vendas dos agricultores para tradings e cooperativas ocorreram de forma esporádica, de acordo com as necessidades financeiras dos produtores, aproveitando ganhos pontuais na Bolsa de Chicago e as flutuações da taxa de câmbio entre o dólar e o real.
De acordo com Renata Cardarelli, especialista em agricultura e fertilizantes na Argus, os produtores devem repetir esse comportamento em 2024, com o ritmo de venda mostrando sinais de estagnação no início de janeiro.
Se comparada à media histórica para esta época do ano, as vendas de milho seguiram 21 pontos percentuais abaixo, ou seja, bem mais lentas.
Movimento semelhante ocorreu com as vendas de soja da safra 2023/2024, que ficaram acima do visto no ano passado, mas abaixo da média dos últimos cinco anos. Segundo a agência, as vendas atingiram aproximadamente 30% de sua produção esperada, que é de 155,3 milhões de toneladas.
O nível de comercialização representa um aumento de 2 pontos percentuais frente aos 28% vendidos nesta época em dezembro de 2022 para a safra de soja 2022/2023. Na média dos últimos anos, o percentual chegava aos 45% nessa época.
Cardarelli pontuou que, de uma forma geral, o preço do milho brasileiro não tem atraído os compradores externos, o que abre brecha para outros mercados ganharem esse espaço. “Temos visto que o diferencial portuário está favorecendo o milho argentino. Para a soja, também vemos uma baixa liquidez. A maior parte dos agricultores está esperando um momento melhor da China, principal comprador da nossa soja”, diz.
Mato Grosso desacelera mais
Dados divulgados essa semana pelo Imea, Instituto Mato-grossense de Economia Agropecuária, mostram que as vendas de soja e milho avançaram menos ainda em janeiro, se comparado a dezembro.
O avanço mensal da soja foi de menos de 1 ponto percentual. De novembro para dezembro, a comercialização tinha crescido 5 pp. Este relatório de janeiro do Imea indica que os produtores já venderam 37,5% da produção esperada para a safra 2023/2024, comparado com 40% no ano passado e 53% de média dos últimos 5 anos.
A comercialização de milho em Mato Grosso está agora em menos de 18% da produção estimada para a safra 2023/2024. No ano passado o ritmo estava em 23% nesta época e na média dos 5 anos, deveria estar em quase 47%.
O relatório mostra que o avanço mensal também foi tímido no milho, pouco acima de 1pp. Porém, indica que os produtores aproveitaram a melhora nos preços do grão ocorrida no fim do ano para vender os estoques que ainda tinha da safra anterior. Entre novembro e janeiro as vendas de milho do produtor de Mato Grosso, da safra 2022/2023 avançaram cerca de 9 pontos percentuais.
Relação de troca ainda favorável ao produtor
Já pensando no cenário de compra de insumos para a safra 2024/2205, a Argus vê que alguns produtores estão aproveitando o mercado para se abastecer, especialmente em relação aos fertilizantes mais usados na soja.
“O agricultor está mais focado em fosfatados e cloreto de potássio. O segundo está numa relação de troca melhor, pois o preço do KCL tem caído. Para importação, vemos oportunidades para o agricultor abaixo dos US$ 300 por tonelada, o que pode contribuir para o agricultor tomar uma posição para a safra de soja”, afirmou Renata Cardarelli.
Para o mercado de milho na temporada atual, os fertilizantes já foram comprados, garante Cardarelli. Ela avalia, porém, que negócios esporádicos podem acontecer em nitrogenados. “Não há mais tempo hábil de receber novos volumes. A ureia para o milho safrinha, por exemplo, não vai chegar em tempo, além de estar subindo de preço acompanhando o cenário global”.
De olho nos hermanos
Na semana passada, durante a divulgação do Rally da Safra, a consultoria AgroConsult pontuou que o milho e a soja argentina devem preencher a lacuna de exportação da safra brasileira, que deve vir num volume menor do que o esperado por conta dos efeitos climáticos do El Niño.
“Temos que ficar atentos à Argentina. O Brasil vai produzir 15 milhões de toneladas a menos do que poderia e 6 milhões de toneladas a menos que na safra passada. Só que lá, a produção vai passar dos 20 milhões de toneladas para pelo menos 52 milhões de toneladas", afirmou André Pessoa, durante a coletiva.
Nesse cenário positivo para os argentinos, a Argus vê também o país vizinho movimentando o mercado global de fertilizantes. “A Argentina deve retomar esse espaço de fertilizantes, que foi atípico no ano passado”, afirmou Cardarelli.
Segundo ela, a importação de ureia teve uma redução significativa por parte dos argentinos.
Neste ano, todavia, dada a projeção de safra de milho e de soja, a compra deve crescer, inclusive do Egito, que segundo a especialista, está “reassumindo sua colocação como principal fornecedor do mercado argentino”. A tendência, com isso, é que a importação de nitrogenados cresça na Argentina.