Quatro anos atrás, quando desembarcou no Brasil, o país era apenas uma promessa para a startup israelense SeeTree. Hoje, é a terra prometida que guia a rota do crescimento da empresa.
Segundo Denis Silveira, diretor da SeeTree para o Brasil, o mercado brasileiro já corresponde a quase metade das operações da companhia, que atua com sistemas de monitoramento de pomares, principalmente de cítricos, amêndoas, abacates e azeitonas.
E, nesse período por aqui, o produto oferecido pela empresa – que também opera no México, EUA, África do Sul, Indonésia e Tailândia, além do Brasil e Israel – já é 75% diferente do que era quando chegou por aqui.
Com status de maior mercado, o País deve também receber em primeira mão novas tecnologias que serão incorporadas ao sistema. A Seetree utiliza drones, satélites e estudos de campo para coletar dados e gerar para o produtor, em um software, os melhores insights para o manejo das culturas.
Desde o início, a proposta, segundo Silveira, foi utilizar recursos tecnológicos para diminuir o desperdício financeiro e tornar a produção mais eficiente, eficaz e sustentável.
“Visitamos nossos clientes com sensores aéreos, coletamos essas imagens e realizamos o levantamento dentro da propriedade”, diz. “Depois, transformamos essas imagens e informações em dados que sejam utilizáveis pelo produtor rural para que a agroindústria transforme isso em ações”..
As imagens coletadas dão ao produtor não apenas uma percepção geral, mas também informação individual das árvores plantadas.
Cada exemplar recebe uma identificação e, por meio da tecnologia da empresa, que envolve IA e algoritmos, o produtor consegue acompanhar em um dashboard o estado de cada planta. A partir disso, define eventuais intervenções, como, a necessidade de uso de fertilizantes ou a aplicação de herbicidas.
O software da SeeTree apresenta mapas que revelam, de forma intuitiva, o estado geral da produção. E menus que apontam, entre outros dados, a porcentagem de árvores fracas, produtivas e até mesmo de cipós presentes, tudo em tempo real.
“Garantimos que cada árvore tenha a inspeção correta. Isso dá a segurança e a rastreabilidade necessárias para o produtor. No fim do dia, a ferramenta não toma a decisão, mas apresenta um conjunto de informações de forma organizada com dicas customizáveis”, explica Silveira.
Por aqui, o maior cliente é a Citrosuco. Segundo Silveira, toda a área de laranjais da empresa contém a tecnologia israelense.
A empresa chegou ao País com a ajuda da Mindset Ventures, gestora de venture capital brasileira que investe em empresas de tecnologia americanas e israelenses.
Segundo Daniel Ibri, co-fundador e um dos sócios da Mindset, além da tecnologia de ponta e do time por trás da startup, a gestora viu uma possibilidade de “revolucionar o mercado, dada a precisão da solução”.
Além do aporte, a ajuda passou pela contratação de um time local e a conexão com clientes e parceiros. “Também atuamos ajudando a empresa com captação de recursos, conectando os fundadores com investidores estratégicos que poderiam ajudar com a expansão das operações na América Latina”.
Novas funcionalidades
Como o maior mercado da companhia está aqui, a empresa prepara três novidades para o País. Primeiro, está expandindo a solução de monitoramento para eucaliptos, um mercado que, segundo a Embrapa, contém 5,5 milhões de hectares plantados.
Além disso, o software passou a ter, recentemente, uma solução para conseguir mensurar o carbono do solo e gerar créditos de carbono.
Com a coleta dos dados que a plataforma capta, a empresa consegue estimar a quantidade de CO2 que existe em determinada área, tanto de áreas produtivas como de florestas.
“Atualmente, qualquer mensuração de carbono é feita de forma manual, com uma pessoa fazendo amostras. Nós trazemos um mapa que, em muitas vezes, extrapola a fazenda toda ou um cluster”, comentou o diretor.
A última novidade partiu de insights que o CTO global da empresa, Guy Morgenstern, teve ao visitar alguns projetos no Brasil.
A ideia agora é usar o software conectado com máquinas agrícolas, para trazer mais automação para o campo. “Queremos transformar dados em automação de maquinário e o Brasil será pioneiro nesse nosso trabalho”.
Na prática, se um produtor percebe que uma determinada área precisa de uma aplicação de produto, a ideia é, através da própria plataforma, dar a ordem para a máquina agir de forma autônoma. Para colocar o projeto em prática, a SeeTree está buscando parceiros.
“O processo produtivo que o Brasil criou é muito rico e enxergamos muito potencial para melhorar os produtos aqui. À medida que o mercado evolui e os feedbacks chegam, estamos dispostos a implementar novas tecnologias, pois não somos casados com nenhuma tech específica”, pontua o diretor.
A SeeTree está em early-stage, em etapa avançada e de expansão, dado que sua tecnologia já foi testada e validada por importantes empresas do mercado. A empresa já captou mais de US$ 60 milhões desde sua criação, com a última rodada captada sendo uma série C, onde captou US$ 30 milhões.
Mindset Ventures vê um caminho no campo
A gestora que ajudou a pavimentar o caminho da SeeTree não tem somente a empresa de agtechs no seu portfólio.
“Só investimos em startups de tecnologia em early stage, ou seja, não são ideias que estão só no Powerpoint. O olhar é sempre agnóstico, mas com empresas que desenvolvem software para o chamado B2B (de empresa para empresa). Olhamos para o agro, SaaS, IA, fintechs, cibersegurança e healthtechs”, pontua Daniel Ibri.
Nos três primeiros fundos da empresa, que somaram US$ 100 milhões, foram quatro investidas dentro do agro, entre startups americanas e israelenses. Além da SeeTree, a empresa investiu nas israelenses Telesense e Taranis e na americana Fieldin.
A primeira, que já saiu do portfólio da empresa, fornece uma plataforma para detecção remota de temperatura e umidade para grãos armazenados e tem como clientes gigantes do agro como ADM, Bunge e Cargill.
A Taranis, por sua vez, tem uma equipe de mais de 20 pessoas no Brasil e atua com um mapeamento de pragas e ervas daninhas. O modelo é semelhante ao da SeeTree, mas com foco em culturas como grãos, cana, café e algodão.
“A Taranis foi a primeira grande empresa de agricultura de precisão de Israel. A ideia deles é trazer uma agricultura de precisão para plantas mais baixas. Na prática, a tecnologia deles resolve algo parecido com a SeeTree”, comenta o sócio da Mindset Ventures.
Por fim, a Fieldin, que tem presença forte na Califórnia, atua com um sistema completo de gestão e monitoramento de fluxos operacionais dentro de fazendas. Segundo Ibri, a empresa oferece uma ferramenta digital para o agrônomo, na ideia de substituir as informações anotadas em caderno e otimizar os dados.
“A empresa fornece um dashboard com várias telas, numa central de inteligência que capta os dados de uma colheitadeira inteligente, tratores e sensores que já estão no campo. A máquina ingere tudo isso e, via machine learning, gera gráficos e dashboards”, comenta.
No novo fundo da empresa, o quarto, em que a captação pretendida é de US$ 100 milhões, as agtechs ainda não entraram, mas o olho para o campo permeia a Mindset.