Apenas no primeiro trimestre deste ano, a Citrosuco, maior produtora de suco de laranja processado do mundo, teve uma receita líquida de US$ 1 bilhão, com EBITDA de US$ 85 milhões.

A empresa tem quatro plantas – três no Brasil e uma nos Estados Unidos – e cinco terminais portuários localizados em Santos (BR), Wilmington (EUA), Gent (Bélgica),Toyohashi (Japão) e Newcastle (Austrália), para escoar sua produção para todo o mundo.

Mas um novo mercado, de volume ainda muito menor mas de importância estratégica enorme, começa a chamar a atenção de executivos da companhia: o de créditos de carbono.

Amparada pelo desempenho de seus programas de descarbonização, que tem atingido metas inéditas no setor, a empresa avalia também faturar com esse ativo, que por enquanto rende reconhecimento e garantia de presença em mercados cada vez mais exigentes.

Uma das conquistas recentes da Citrosuco em seus esforços ESG foi a aprovação da iniciativa Science Based Targets (SBTi) para a sua meta de redução de emissões de carbono e outros gases de efeito estufa para 2030.

Com essa validação, a empresa se tornou a primeira empresa do setor citrícola global e a segunda da cadeia de alimentos e bebidas do Brasil a obter a aprovação da sua meta de descarbonização pela plataforma liderada pelo Pacto Global das Nações Unidas.

“Já removemos mais de 400 mil toneladas de carbono por ano e ainda alcançamos o reconhecimento”, disse ao AgFeed, Lara Francischetto, Gerente-Geral de ESG da Citrosuco.

“Isso mostra que estamos na vanguarda do setor em termos de sustentabilidade e que estamos comprometidos em liderar o caminho para uma economia de baixo carbono”.

Lara afirma que esse reconhecimento é apenas mais um passo na trajetória sustentável da empresa. Para o futuro, a executiva revelou que a empresa trabalha com a possibilidade de, em um futuro próximo, ofertar os créditos de carbono conquistados a investidores e companhias em busca de compnsação por suas emissões.

“Empresas altamente emissoras como as petrolíferas e as que atuam na produção de insumo agrícola querem buscar créditos no Brasil”, afirma.

Por enquanto, esse mercado é mais uma promessa do que uma realidade. Segundo dados do Observatório de Bioeconomia da FGV, o preço médio atual de cada crédito de carbono no mundo é em torno de US$ 32.

Por esse valor, em uma conta simples, considerando as 400 mil toneladas sequestradas pela Citrosuco (que equivalem a 400 mil créditos), as possíveis vendas de crédito têm um potencial de gerar US$ 12,8 milhões para a empresa.

Vale ressaltar que esta conta leva em consideração apenas o volume bruto sequestrado pela Citrosuco. Na prática, segundo a empresa, diversos fatores de regulamentação são colocados na mesa e não é a remoção integral que pode se converter em crédito.

Mas o potencial de valorização é grande. Um estudo feito pela Câmara de Comércio Internacional, a ICC Brasil, juntamente com a consultoria WayCarbon, revela que o Brasil pode atender até metade da demanda global por créditos de carbono do mercado voluntário até 2030, cenário que resultaria em receitas de US$ 120 bilhões.

O levantamento considera este número considerando um “preço otimista” de US$ 100 por tonelada de CO2, estimado pela TSVCM, uma iniciativa do Instituto de Finanças Internacionais para auxiliar na evolução do mercado global de crédito de carbono.

Segundo o estudo do ICC Brasil e do WayCarbon, a oferta brasileira correspondia a 12% das emissões mundiais ao final de 2022.

Essa possibilidade de ofertar carbono passa pelo tipo de cultura que a Citrosuco está inserida, que é menos emissora em comparação com outros tipos de cadeias.

Como meta aprovada, a Citrosuco pretende reduzir suas emissões em 28% nos chamados escopos 1 e 2 do negócio, que correspondem às emissões diretas da empresa e aquelas gastas com energia. No escopo 3, que está relacionado a emissões indiretas, a meta é de uma redução de 14%. Ambas as metas são para 2030.

Enquanto as duas primeiras cadeias da empresa emitem, juntas, cerca de 400 mil toneladas de carbono por ano, a terceira emite cerca de 700 mil toneladas.

O desafio das primeiras, segundo Lara, está no transporte marítimo, que é responsável pela cadeia de exportação dos produtos da Citrosuco, onde está concentrada a maior parte das vendas.

“Na energia, já atuamos com mais de 65% de energia renovável, utilizando bagaços de cana e de laranja”, acrescenta a gerente de ESG.

O desafio maior é no escopo 3, onde estão muitas fornecedoras terceirizadas da Citrosuco. Esses fornecedores correspondem a 50% das frutas recebidas pela empresa, e o desafio é engajar também esses players na agenda ambiental.

ESG desde quando tudo era mato

Lara Francischetto ressalta que a Citrosuco já atua com práticas sustentáveis desde “antes de ser chamada de ESG”.

O começo desse movimento foi em 2016, quando a companhia criou o Projeto Trilhar e passou a fazer uma auditoria de todas suas operações, tanto em aspectos ambientais quanto de governança.

“Desde 2016 temos um programa onde ajudamos o produtor, com uma auditoria in loco, onde realizamos um diagnóstico da fazenda. Vemos o gap do produtor e acompanhamos até passar pela certificação. A Citrosuco arca com a primeira certificação, e depois encaminhamos para outros órgãos”, afirma a executiva, que disse que mais de 50% das frutas de terceiros já estão certificadas.

Lara Francischetto, Gerente-Geral de ESG da Citrosuco

A Citrosuco afirma ser a primeira do setor a ser 100% digitalizada, com todas as fazendas, indústrias e terminais logísticos ao redor do mundo conectados. Isso permite a integração das práticas agrícolas, desde o viveiro de mudas até a entrega dos produtos às indústrias.

Mais de 70% da produção de frutas é certificada como sustentável, com compromisso de atingir 100% de fornecimento sustentável até 2030.

Dentre as certificações internacionais ganhas estão a SGF International e a FairTrade. Como antecipou esse movimento de certificação lá atrás, a Citrosuco não é “pega de surpresa” com as novas normas ambientais vindas, principalmente, da Europa.

No último mês de abril, uma lei aprovada no Parlamento Europeu proibiu toda a importação, pelos países do bloco, de diversos produtos, se estiverem ligados, de alguma forma, a áreas de desmatamento.

Para Lara, a Citrosuco sempre seguiu a régua de “países maduros”. “Estar na vanguarda com o ferramental necessário para isso assegura a nossa credibilidade. Ter as metas e certificações adequadas sempre foi parte da nossa estratégia”, acrescenta.