O avanço da digitalização e a crescente disponibilidade de dados no campo estão abrindo novas frentes de atuação para empresas já consolidadas do agronegócio brasileiro – e também para outras companhias que ajudam as empresas a fazer a transformação digital.
É o caso da Accenture, uma das maiores consultorias de tecnologia do mundo. De olho no avanço tecnológico do agro, a companhia espera potencializar sua atuação no setor ao longo do ano fiscal de 2026, que está começando agora, antecipou Flávia Piccolo, diretora sênior e líder de tecnologia da empresa para a América Latina, em entrevista ao AgFeed.
A executiva foi uma das painelistas no evento Innovation Experience 2025, realizado pelo Bradesco em sua sede em Osasco (SP), nesta terça-feira, dia 30 de setembro.
Piccolo explicou um pouco de sua tese: “Hoje existe uma disponibilidade enorme de dados que podem ser cruzados: clima, solo, entre tantos outros. Há uma vastidão de informações que antes não estavam acessíveis e que agora estão à disposição”.
“Quando combinamos isso com a interação entre homem e máquina, o potencial é gigantesco: ampliamos o conhecimento humano e fortalecemos toda a cadeia do agro, não apenas na ponta, mas desde o início. O Brasil, nesse sentido, é um verdadeiro celeiro de oportunidades para essa transformação”, afirmou.
Esse seria o motivo para a Accenture voltar a olhar para o agro, segundo a executiva.
“Estamos olhando para as dores específicas de cada elo da cadeia, entendendo onde conseguimos gerar impacto e diferenciação”, disse.
Econômica nos detalhes, Piccolo evitou descrever o que de fato vai compor essa “nova” estratégia da Accenture no país, mas disse que a companhia pretende utilizar experiências internacionais como base.
“A gente tem cases muito sólidos fora da América Latina e estamos estudando como é que a gente ajuda esse mercado. Estamos estudando todo esse arcabouço e logo mais já deve-se ouvir novidades”, disse.
A Accenture iniciou sua jornada de prestação de serviços às empresas do agro há mais tempo. Há cerca de dez anos, lembrou Piccolo, a companhia fez, com a multinacional de insumos Bayer, um projeto experimental de testes de germinação de sementes.
As próprias transformações tecnológicas do setor são uma tendência que a consultoria já percebia há cerca de uma década, e agora estão potencializadas com o avanço tecnológico.
“Há oito ou dez anos já falávamos em sobrevoar áreas agrícolas com drones para mapear pragas e desmatamento, mas hoje temos uma potência de processamento e de dados muito mais acessível e abrangente”, afirmou Piccolo.
O 5G, por exemplo, é outro vetor de transformação, sobretudo em regiões rurais onde a conectividade ainda é um gargalo. A Accenture já mantém um time especializado em redes, com forte atuação em empresas de telecomunicações, explica a executiva.
“É um time estratégico e que, neste ano, estamos expandindo também para outros setores, como bens de consumo e, potencialmente, o agronegócio. Ainda vamos avaliar (a presença no agro), mas, por enquanto, nossa presença mais consolidada segue sendo no segmento de telecom”, explicou a executiva.
Enquanto redefine prioridades no Brasil, a Accenture está empenhada em intensificar sua aposta na inteligência artificial (IA), uma forma de melhorar seus resultados ao redor do mundo, enfraquecidos nos últimos balanços.
No mês passado, a empresa anunciou a compra da Aidemy, uma empresa japonesa que é especializada em IA e transformação digital, fornecendo serviços de apoio à transformação digital de empresas e criação de ferramentes de IA.
Em paralelo, segundo revelado inicialmente pelo jornal britânico Financial Times, a companhia demitiu mais de 11 mil funcionários ao redor do mundo nos últimos três meses e alertou aos seus quadros que outros colaboradores poderão ser dispensados caso não se adaptem à IA.
"Estamos dispensando, em um cronograma acelerado, pessoas cujas requalificação, com base em nossa experiência, não seria um caminho viável para as habilidades de que precisamos", disse a CEO da Accenture, Julie Sweet, a analistas em uma teleconferência.
Hoje, a Accenture diz que 77 mil de seus 779 mil funcionários já são profissionais qualificados em IA ou dados, contingente superior aos 40 mil de dois anos atrás. "Estamos investindo na melhoria das habilidades de nossos profissionais, que é nossa estratégia principal”, informou Sweet.
O movimento acontece em meio a um processo de reestruturação da empresa, após anos de contratações mais fracas de seus serviços por parte das companhias privadas também pelo governo dos Estados Unidos, importante cliente da consultoria.
É por esse motivo que a Accenture está redobrando sua aposta em IA. Atualmente, os projetos envolvendo inteligência artificial generativa já são relevantes dentro do portfólio da companhia. Hoje, eles já representam US$ 5,1 bilhões, ante US$ 3 bilhões no ano fiscal anterior.
No ano passado, a Accenture teve uma receita de US$ 69,7 bilhões, 7% a mais que no ano anterior. Já para o ano fiscal de 2026, a tendência é de uma alta um pouco menor, entre 2% a 5% – podendo variar entre 3% a 6%, se excluídos os impactos negativos de 1% a 1,5% vindos dos negócios com o governo americano – que vem promovendo cortes de gastos, que implicam na redução de contratos.
Resumo
- Accenture quer ampliar presença no agronegócio brasileiro a partir de 2026, explorando o uso de dados, conectividade e inteligência artificial.
- A companhia já acumula experiências internacionais e projetos no agro, incluindo parceria experimental com a Bayer há cerca de dez anos.
- nteligência artificial já responde por US$ 5,1 bilhões no portfólio global da Accenture, que vem passando por reestruturação.