Enquanto parte do mundo fala em carros elétricos e energia solar como agentes de mudança na transição energética e descarbonização do planeta, a UPL, empresa global de insumos agrícolas, aposta suas fichas na agricultura brasileira.

Na visão do Chairman e CEO global da empresa indiana, Jai Shroff, a agricultura apoiada em práticas sustentáveis, com uso racional de insumos e novas tecnologias que reduzam as emissões de carbono, pode fazer essa transformação global de forma mais rápida e com menos dinheiro.

Para isso, o executivo vê a necessidade da indústria como um todo buscar um modelo que remunere esse produtor.

“Acredito que no futuro, essas práticas sustentáveis do agro podem ser recompensadas com as empresas trabalhando juntas. Esse reconhecimento pode guiar a transformação de toda indústria, e vejo uma necessidade desses agricultores receberem uma fatia justa desse valor”, comentou Shroff.

O executivo conversou com o AgFeed após falar para um público de cerca de 600 produtores rurais em evento promovido em São Paulo pela Orígeo, joint-venture entre a UPL e outra gigante do agro mundial, a Bunge, maior processadora de oleaginosas do mundo.

A preocupação em remunerar o produtor rural foi reforçada pela parceira Bunge, na apresentação feita pelo co-presidente global de agribusiness da empresa, Julio Garros.

“O prêmio para a soja que ajuda a reduzir as emissões já está no mercado internacional, já é uma realidade, mas o desafio está em certificar e comprovar a adoção destas práticas", disse Garros para a mesma plateia de produtores.

O executivo da Bunge disse que na safra 2024/2025 já deverá haver pagamento de um prêmio para 30 produtores brasileiros de soja que estão participando de um projeto piloto da Orígeo, baseado em agricultura regenerativa.

“Vai ter valor, o mercado necessita desta matéria-prima verde, porque as grandes empresas de alimentos têm data marcada para zerar suas emissões", ressaltou.

A própria criação da Orígeo é vista pelas duas empresas como uma das medidas para tornar a agricultura cada vez mais sustentável. Na visão dos executivos, o processo de mudança só é possível com essa união entre players e parceria entre os diferentes elos da cadeia.

A megatrading americana de commodities e a gigante indiana de defensivos agrícolas uniram-se há pouco mais de um ano para constituir a Orígeo. O foco é concentrar a venda direta de seus produtos e serviços para um grupo selecionado de grandes agricultores.

“Os agricultores têm que ser nossos parceiros, assim como de empresas como a Bunge e de quem fornece as tecnologias. Estamos trazendo muitas tecnologias como biosoluções, produtos para a saúde do solo, produtos que reduzem o uso de fertilizantes químicos, microorganismos que podem ajudar o solo e sequestrar carbono”, comentou o CEO global da UPL.

Dentre as iniciativas, a UPL tem como meta para os próximos quatro anos fazer sua receita ser dividida em 50% nos produtos considerados "sustentáveis", como biodefensivos, e 50% nos tradicionais químicos. Atualmente, os itens considerados sustentáveis pela empresa correspondem por 1/3 do mix de produtos.

Mike Frank, CEO da UPL Corporation, que também esteve em São Paulo e falou ao AgFeed, a mudança está sendo feita de forma gradativa, e a receita da empresa, que hoje está próxima de US$ 7 bilhões anuais, pode aumentar em mais US$ 1 bilhão com as inovações feitas em pesquisas.

“Muito disso virá do Brasil, que é nosso país número um globalmente. Qualquer inovação que pensemos, analisamos as oportunidades por aqui”, ressaltou.

A UPL não abre os dados de faturamento por país, mas teve como principal impulsionador dos resultados do ano passado justamente a América Latina, que teve uma fatia de mais de ⅓ do total, e onde o Brasil é o principal e maior mercado.

“O Brasil é uma região muito importante para nós e boa parte da inovação que fazemos está direcionada aos agricultores brasileiros. Se olharmos para os últimos 2 anos,  a agricultura brasileira segue incrivelmente resiliente, e isso é por conta dos produtores, do ecossistema criado”, comentou Frank.

Por aqui, Frank citou que a UPL conecta a cadeia em todos os pontos, desde o fabricante de equipamentos para a fazenda até empresas de melhoramento genético para sementes e indústrias de alimentos.

A UPL é a quarta maior empresa de defensivos agrícolas no mercado brasileiro.

“A transformação global do sistema alimentar passa pelo Brasil. A UPL está comprometida com o Brasil, já que é nosso principal mercado, temos uma relação próxima com a comunidade dos produtores rurais”, disse Jai Shroff, CEO global da UPL.

A UPL atua com esses produtos sustentáveis na linha chamada de crop protection, na área de sementes, e na plataforma de biosoluções NPP, na qual Frank avalia que é a maior da indústria.

“Acreditamos que essa plataforma pode, nos próximos dois ou três anos, crescer em até quatro vezes o tamanho que é hoje”, comentou o CEO da UPL Corporation.

Na agenda da UPL, a meta é reduzir as emissões de carbono da empresa em mais de 60% até 2035, sendo carbono neutro até 2040.

A agenda sustentável não fica restrita às operações da UPL. O CEO global, Jai Shroff, também é membro do Conselho Empresarial dos BRICS da Índia e esteve nos encontros recentes do grupo, que incluíram o presidente Lula.

Expansão brasileira e expectativa para a safra 2023/2024

Mesmo com o Brasil sendo o maior mercado da companhia, a ideia é ampliar ainda mais essa presença. No país, a soja e o milho são as principais culturas atendidas.

A UPL tem fazendas experimentais e uma empresa de sementes, a Advanta. Nessa subsidiária, a empresa tem feito testes em culturas alternativas como canola e sorgo.

Jai Shroff revelou ao AgFeed que está animado com uma nova semente de sorgo que está sendo trazida ao mercado, que controla a presença de nematoides.

Os nematoides sao responsáveis por ceca de 10% das perdas na produção agrícola global, por isso esta deve ser uma das apostas da empresa para as próximas safras. Shroff destacou também que a UPL é líder em fungicidas e inseticidas no país.

“A agricultura continua a se transformar e os desafios também, com as mudanças climáticas, plantas daninhas mais resistentes, novas doenças, então precisamos continuar muito próximos dos agricultores para seguir trazendo o melhor em tecnologia", disse o CEO Global.

Mike Frank também comentou que o market share brasileiro da empresa cresceu muito nos últimos anos, e que nesta safra, o cenário ainda deve se repetir.

Para a temporada 2023/24, a UPL projeta uma expansão de cerca de 3% na área de soja, algo equivalente a 45 milhões de hectares, e a expectativa de produtividade é positiva.

“A produção no ano passado foi boa em grande parte do Brasil. Tivemos alguns desafios no Sul pelo tempo seco. Os preços agrícolas nós não controlamos, os produtores também não, por isso estamos focados em produtividade, e eficiência, dando aos produtores as melhores ferramentas”.

Mesmo com os preços dos grãos em queda, a UPL espera que o aumento de área ainda contribua com um ganho de participação no mercado.

Fontes ligadas à UPL admitem que em 2023 ainda pode haver um recuo na receita da empresa no Brasil, em função da queda dos preços em relação ao ano anterior, um fenômeno que atingiu todas as grandes fabricantes de defensivos agrícolas.

Ainda assim, em volume, a expectativa é de vendas maiores no mercado brasileiro.

Questionados sobre adquirir novas empresas por aqui, e principalmente de biológicos, já que é um dos focos da empresa, os executivos disseram que existem “empresas muito boas de biológicos por aqui”, e que existem diversas conversas e parcerias em andamento.

“Nosso crescimento no passado foi baseado em inovação, colaboração e algumas aquisições. Acho que esse mesmo mix vai continuar no futuro. Estamos sempre olhando para empresas que podemos atuar em conjunto”, disse Frank.