Bem no meio da Vila Olímpia, o bairro com o metro quadrado mais caro da capital paulista e que concentra grande parte das empresas do mercado financeiro, um prédio chama a atenção por sua arquitetura.
Para além da entrada larga e cheia de jardins, quem olha para cima vê uma disposição de varandas não lineares e um rooftop que quase todo fim de tarde sedia um happy hour.
O edifício hospeda Cubo Itaú, iniciativa do banco que, desde 2015, realiza a curadoria e integração de startups promissoras de diversos segmentos.
Quem entra no elevador e vai até o nono andar chega até o andar do Cubo Agro, segmentação dentro do hub criada em 2021.
O executivo de uma startup “residente” no hub fez todo esse caminho e, ao chegar em sua mesa vê na escrivaninha à frente executivos dedicados à inovação da gigante sucroenergética São Martinho. Atrás dele, uma mesa do time da Suzano e outra para uma startup que atua com inteligência artificial.
Na hora de tomar um café, o executivo pode se deparar com um gestor de um fundo de venture capital que busca novas investidas, ou então algum empresário estrangeiro que quer entrar no agro brasileiro.
A integração e conversas diárias entre empresas é a grande aposta da iniciativa para fomentar o universo das startups do agro, dentre elas as agtechs e agfintechs, que já são cerca de 40. Além delas, algumas iniciativas de fomento como a Rural Ventures também estão no local.
A palavra que resume o dia a dia do prédio, nas palavras de Matheus Borella, líder de inteligência agro no Cubo Agro, é serendipidade. No dicionário, o termo significa “o ato ou capacidade de descobrir coisas boas por mero acaso, sem previsão”.
“O agro tem espaço grande dentro do ecossistema do Cubo e lá fazemos ações que vão desde meetups, cafés, conversas e dinâmicas do dia a dia”, explica Borella. “O prédio tem 13 andares, então, em um café você pode, de repente, deparar com um investidor ou um parceiro que você não tinha mapeado”, comenta.
Esses encontros diários do Itaú já renderam bons frutos para startups que estão presentes e para os idealizadores do projeto.
Além do próprio Itaú e seu braço de investimentos, o Itaú BBA, gigantes do agro como Corteva e CNHi, além de São Martinho e Suzano, encabeçam o projeto no status de “mantenedoras”. E colhem frutos de estar ali, convivendo com empresas emergentes.
Foi no ambiente do Cubo Agro, por exemplo, que a startup Agrotoken aproximou-se da CNHi. A conversa fluiu para uma iniciativa conjunta para comercialização de máquinas agrícolas com o uso de moedas digitais lastreadas por produção agrícola,, como explicou Anderson Nacaxe, diretor da empresa, ao AgFeed em uma entrevista recente.
A Corteva, por sua vez, encontrou no local uma forma de criar seu próprio ecossistema. No Cubo, ela atua organizando um movimento de fomento das agtechs brasileiras e também algumas de fora, conectando empresas, clientes, cooperativas e fornecedores.
A empresa utiliza a proximidade com as startups para avaliar inovações que podem ser aplicadas em suas operações ou mesmo ser alvo de um investimento por parte da Corteva. "Temos um cardápio de empresas que avaliamos e levamos para o corporate", afirma Nicolás Loria, líder comercial da empresa para a América Latina.
A CEO da startup Bart Digital, Mariana Bonora, vê o Cubo como uma grata surpresa na trajetória da empresa. Ela comentou com o AgFeed que, só pelo fato de estar lá, acaba conhecendo e contratando startups.
“Víamos algumas iniciativas que nos deixavam curiosos, íamos conhecer melhor e, no fim, algumas acabaram virando fornecedores e, para outras, nós prestamos serviços.”, comenta a executiva. Um desses clientes da Bart, que teve as conversas iniciadas no Cubo, é justamente a Corteva,
Além disso, ela vê um papel importante dos parceiros do próprio Itaú como aliados nesse dia a dia. “Às vezes o próprio Cubo traz um cliente do Itaú que quer conhecer startups de inovação e isso acaba gerando novas oportunidades”, pontua.
As iniciativas escolhidas pelo Itaú que passam por esse dia a dia de networking tem mostrado avanço nos números operacionais e financeiros.
Em 2022, as startups que compunham o hub agro tiveram um faturamento de R$ 277 milhões. A meta para 2023 é aumentar esse montante em 70%, e atingir R$ 475 milhões. O faturamento médio dessas companhias é de R$ 2,5 milhões.
No final do ano passado, essas empresas possuíam algo em torno de 11 mil clientes no portfólio, número que deve dobrar nas projeções do Cubo. Essas cerca de 40 startups de agro no projeto já capturaram R$ 930 milhões em aportes.
No Cubo como um todo, incluindo outros segmentos que também têm seus espaços no edifício, são 450 startups que somam R$ 7,5 bilhões em receita.
Um outro aspecto importante que foi ressaltado por Borella é a conexão com empresas de diferentes setores.
Se uma empresa agro decide, por exemplo, enviar a seus clientes uma “lembrancinha”, ela pode descer alguns andares e encontrar startups que atuam com impressoras 3D, e no próprio espaço de trabalho, já iniciar uma parceria ou orçamento.
“Uma companhia que está no andar do agro e tem um problema no jurídico ou na gestão de pessoas, pode achar no próprio Cubo uma outra startup que tem uma solução para ela”, comenta Borella.
Dentro do agro, toda e qualquer solução é bem-vinda. Matheus Borella explica que o Cubo Agro traçou um mapa de oportunidades que permeiam os temas da bioeconomia, agricultura inteligente, agro 4.0 e agfintechs.
Para o futuro, o hub e as próprias startups têm olhado com mais carinho para a inteligência artificial (IA).
Borella ressalta que o agro já usa IA há algum tempo, principalmente para interpretar imagens e criar padrões a partir desse diagnóstico da imagem.
O momento agora é de buscar soluções mais voltadas ao chatbot e interfaces humanas. Tanto é que, em uma pesquisa feita pelo MIT Technology Review e o próprio Cubo, o uso do 5G, da Internet das Coisas e da própria IA foram apontados como tendências.
“O uso da IA hoje no agro é mais voltado para a produção, otimização, redução de custos, ainda não é uma relação direta entre o negócio e o cliente (B2C)”, ressaltou.