Representantes do Brasil e do Japão se reúnem no próximo dia 17 de agosto, em Brasília, para discutir os detalhes técnicos do projeto que vai financiar a conversão de 1 milhão de hectares de pastagens degradadas em lavouras, conforme havia adiantado o AgFeed em reportagem publicada em maio.

Enquanto isso, a equipe do Ministério da Agricultura, liderada pelo assessor especial Carlos Augustin, segue buscando novos parceiros de financiamento e formas diferenciadas para agregar valor ao projeto.

Em entrevista ao AgFeed, Augustin, que é considerado um braço-direito do ministro Carlos Fávaro, disse que dia 17 é a primeira reunião técnica com a JICA, Agência de Cooperação Internacional do Japão, o que será importante para definir, por exemplo, o padrão de taxas de juros que poderá ser praticado por outros financiadores.

"Agora provavelmente devem visitar áreas, ver exemplos de perto, de como o processo funciona, a decisão foi tomada rápido porque eles já atuaram em projetos semelhantes no passado, com o Prodecer", ressaltou.

O plano do governo é recuperar 40 milhões de hectares de pastagens degradadas na próxima década.

Como boa parte das áreas deve ser direcionada à agricultura, Augustin calcula que seria possível dobrar de tamanho a produção de grãos no Brasil.

Para isso, chegou-se a falar na necessidade de captar US$ 120 bilhões. Isso porque o custo é calculado em US$ 3mil por hectare, sendo um terço para correção de solo , um terço maquinário e o restante referente ao custeio.

"Mas na prática o custo médio deve ficar em cerca de US$ 1,5 mil, porque a maioria já tem maquinário, muita coisa será reaproveitada nas propriedades, nem tudo ficará com o agente financeiro”, afirmou o assessor do ministro.

Nas viagens internacionais recentes o Ministério da Agricultura procurou mais parceiros externos para financiar o projeto, incluindo governos, bancos e fundos.

"Nos países árabes percebemos que o maior interesse era em comprar participação em empresas brasileiras, e não era o caso desse projeto, mas conversamos por exemplo com um fundo árabe que é dono de 45% da Louis Dreyfus, eles podem futuramente fazer um negócio conosco para garantir fornecimento de soja e milho por 15 anos”, disse Carlos Augustin, sem revelar o nome do fundo.

Modelo semelhante vem sendo discutido desde o início do ano com a gigante chinesa Cofco, principal compradora da soja e do milho exportados pelo Brasil.

"A Cofco já nos disse que tem interesse, mas está esperando que o BNDES defina as taxas de juros para decidir se usará recursos próprios, com juros menores, para aderir ao programa”, disse Augustin. Ele ponderou, no entanto, que como ainda não foram feitas as primeiras captações, essa taxa de juros permanece indefinida, por isso a conversa ainda não avançou.

Durante a viagem, também demonstraram interesse o fundo soberano Salic, da Arábia Saudita e o Eximbank, da Coreia do Sul. Este último, segundo Augustin, já procurou o Banco do Brasil em busca de mais informações.

"Nós mostramos ao mundo essa proposta nos últimos 15 dias, agora vai demorar um tempo para que amadureçam até finalizar os acordos”, diz o empresário. "O fato é que todos ficaram muito surpresos e sensibilizados com a possibilidade de dobrar a produção sem a necessidade de desmatar, provamos que isso é possível".

A expectativa em relação à taxa de juros do financiamento japonês, segundo Augustin, é de que seja inferior a 1% ao ano lá no país asiático, mas deverá ser acrescida dos custos financeiros dos bancos no Brasil. Outras fontes do governo já chegaram a sinalizar de que a taxa final ao produtor rural possa ficar em 4% ao ano.

Além dos recursos externos, o governo espera financiar o projeto com linhas do próprio Plano Safra, com juros de 7% ao ano, porém com prazo inferior a 15 anos, que é a ideia inicial.

Carbono neutro

O governo ainda pretende buscar recursos junto a organismos europeus e também com o Banco Mundial.

Para isso, quer reforçar os compromissos de sustentabilidade e redução das emissões de carbono no programa das pastagens.

Augustin disse ao AgFeed que está iniciando conversas com a Embrapa e com a Bayer, multinacional de defensivos.

A intenção é aproveitar a parceria que já existe entre as duas empresas com foco na produção de soja de baixo carbono.

"O agente que financiar este avanço da produção, saberá que o adicional de soja e milho que serão produzidos está atrelado a compromissos de baixo carbono, esta é a disrupção”, afirma Augustin.

Na prática, quem receber o financiamento terá a obrigação de, por exemplo, no terceiro ano já oferecer um balanço das emissões de carbono na atividade. "E no quarto ano já garantiria um produto carbono zero".

Carlos Augustin é um dos grandes empresários do setor sementeiro de Mato Grosso, fundador da Petrovina Sementes. Na opinião dele, na produção de soja, ainda há muito o que se avançar em termos de rastreabilidade e certificações ambientais e trabalhistas, ao contrário do algodão, que já tem uma cadeia mais homogênea neste sentido.

Ao atrelar o acesso ao crédito a este tipo de compromisso, que inclui também uso de agricultura digital e biológicos, Augustin entende que será mais atrativo para os investidores internacionais.

"A Europa vai nos comprar sustentabilidade, vai nos comprar carbono”, reforça ele.