A agência japonesa que ajudou a financiar a expansão na agricultura brasileira na região do Cerrado na década de 1980 está muito perto de retomar investimentos no setor.

A chamada JICA, Agência de Cooperação Internacional do Japão, está acertando os detalhes com o Ministério da Agricultura para financiar projetos que convertam áreas de pastagens em lavouras de culturas anuais, como soja e milho.

"Eles já manifestaram interesse em financiar 1 milhão de hectares por ano, com taxas de juros muito baixas", disse ao AgFeed o assessor especial do Mapa, Carlos Augustin, que vem participando de todas as reuniões com os asiáticos.

Ainda este mês virão ao Brasil representantes da JICA para discutir detalhes como a taxa de juros que será praticada. Segundo Augustin, no Japão o dinheiro sai entre 0,3% e 1% ao ano, mas é necessário considerar todas as taxas administrativas envolvendo a operação internacional.

Por isso, ainda não é possível dizer qual será o custo do financiamento ao tomador no Brasil. Se o acordo for finalizado, a intenção é assinar em uma visita que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva deve fazer ao Japão em breve.

Augustin lembra que a linha de financiamento em dólar lançada recentemente pelo BNDES, Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social – foi considerada um sucesso, com volume total emprestado já nos primeiros dias da Agrishow.

“Achamos que é possível ter outras linhas em dólar, um acordo como esse com os japoneses é uma possibilidade”, diz.

O plano do governo é fazer com que pelo menos 30 milhões de hectares de pastagens possam ser convertidos em lavouras. "Caso um terço da área total de pastagens do Brasil, hoje de 160 milhões de hectares, possa virar lavoura, a área destinada a culturas anuais dobraria de tamanho, sem que fosse necessário derrubar uma única árvore”, destaca Augustin.

O prazo do financiamento seria de 15 anos. Os agricultores beneficiados pelo programa teriam que cumprir exigências de práticas sustentáveis e de redução das emissões de carbono.

Trading chinesa

Em paralelo ao acordo com os japoneses, o governo brasileiro vem avançando nas conversas com a trading Cofco International, estatal chinesa que ocupa o posto de maior compradora mundial de soja.

A China é o destino de cerca de 70% das exportações brasileiras da oleaginosa, por isso, uma negociação como essa é sempre acompanhada com atenção pelo mercado.

O plano de conversão de pastagens em lavouras foi apresentado durante a visita do ministro da Agricultura Carlos Fávaro à China em abril. Segundo Augustin, o assunto foi então endereçado aos executivos da Cofco no Brasil, que receberam um grupo do Ministério da Agricultura em São Paulo há algumas semanas.

A intenção é ter uma garantia de compra da produção de soja e milho adicional que seria gerada a partir do programa de conversão de pastagens.

Nos próximos dias deve haver uma reunião entre executivos da Cofco e integrantes do BNDES, disse o assessor. O governo ofereceu a possibilidade de acesso a linhas de crédito do banco como contrapartida à participação da trading no programa, que faria contratos de longo prazo.

"Eles vão avaliar se usariam financiamento próprio ou se seria interessante a parceria com o BNDES”, afirmou Carlos Augustin.
Procurada, a Cofco do Brasil informou que o assunto está sendo tratado diretamente na China e preferiu não se manifestar.

Plano Safra 2023/2024

O projeto de conversão de pastagens deve fazer parte do próximo plano safra - que deve ser anunciado em junho – já que se trata de recursos destinados ao investimento.

Já nas linhas de custeio a principal novidade que vem sendo anunciada é o fato do governo preparar uma espécie de "prêmio" para os produtores rurais que adotarem práticas sustentáveis.

Carlos Augustin, assessor especial do Mapa

Carlos Augustin diz que ainda não há uma decisão final, mas uma das possibilidades é dar um desconto entre 0,5pp e 1pp na taxa de juros daqueles produtores que adotarem alguma prática recomendada pelo programa. Ele explica que são 3 pilares: social, biológicos e carbono.

"Na região Centro-Oeste o produtor rural que oferecer plano de saúde para os funcionários ou então contratar auditorias trabalhistas poderá contar com estes descontos", afirma.

Já na região Sul, que tem outra realidade em termos de atendimento médico nas cidades do interior, o incentivo poderá ser diferente.
Ele cita como exemplo o baixo uso de calcário por agricultores gaúchos, que poderiam receber um estímulo para fazer mudanças no manejo da lavoura.

Augustin esteve recentemente com lideranças do agro no Rio Grande do Sul e pretende estimular a adoção de um projeto da Embrapa chamado de Operação 365, com foco na melhoria das condições do solo e na sustentabilidade.]

O "prêmio" ao produtor também poderá ocorrer no aumento do limite do financiamento de custeio, disse ele.

"Vamos adequar para a realidade de cada região e de cada cadeia. Em algumas áreas estamos pedindo contribuições das lideranças para que nos ajudem a identificar quais seriam estas práticas", afirma.

No eixo chamado de biológicos a intenção é oferecer o juro mais baixo ou o limite mais alto para que apresentar notas fiscais comprovando que comprou este tipo de insumo – o ministro Carlos Fávaro tem exemplificado em 20% este potencial para ter acesso ao benefício.

A origem desta ação é também atender aos setores do governo que são mais enfáticos na defesa de uma redução do uso de agroquímicos nas lavouras.