As poucas semanas entre a gravação e a publicação, nesta terça-feira, 21 de outubro, da entrevista com Rodrigo Parada revelam bastante sobre o conteúdo da conversa com o co-CEO para a América Latina e diretor global de Marketing da Bauer.
Ao longo do episódio do videocast AgLíderes, em vários momentos Parada relacionou o avanço dos negócios da companhia austríaca de sistemas de irrigação, mais do que os produtos da marca, à capacidade de oferecer modalidades de financiamento na sua aquisição que ajudassem o agricultor a pagar por elas.
Na entrevista, ele antecipa, por exemplo, a emissão de R$ 200 milhões CRAs, em uma captação destinada a gerar funding para oferta de uma linha de créditos em dólares para os produtores rurais.
Dias depois, a operação se confirmaria, com a formalização da primeira tranche de R$ 100 milhões.
Parada também ressaltou, na conversa, a relevância crescente das operações de barter na venda de pivôs de irrigação, carros-chefe dos negócios da Bauer do Brasil.
A empresa, que foi uma das pioneiras a aceitar a produção de produtores de grãos como forma de pagamento por suas soluções, acaba de anunciar que está estendendo, de forma inédita, essa possibilidade também aos cafeicultores.
O modelo, desenvolvido em parceria com a Unibarter e a gigante LDC, oferece crédito de até 30% da capacidade produtiva total do agricultor, com garantias vinculadas ao penhor do café em primeiro grau, no valor equivalente a 130% da operação, e alienação fiduciária do imóvel em casos acima de R$ 600 mil na aquisição dos sistemas da empresa.
O produtor pode pagar com o café produzido, em prazos que variam conforme a capacidade produtiva do agricultor e até mesmo a variedade do café cultivado, podendo chegar a quatro safras, sem necessidade de entrada.
“Mais do que os produtos, o que nos diferencia hoje é fazer modelos de negócios diferentes”, afirmou Parada ao videocast do AgFeed.
“A maneira com que a gente apresenta esses negócios ao produtor cria tanto valor quanto a qualidade dos equipamentos”.
Assim como acontece nesse caso do barter de café desenhado em conjunto com a LDC, as soluções alternativas desenvolvidas com parcerias têm sido um dos trunfos usados pela companhia na expansão de seus negócios no Brasil.
Segundo Parada, a Bauer cresceu cerca de 30% no ano passado, enquanto o mercado de irrigação encolhia em torno de 10% no País.
Nesse ritmo, o executivo relata na entrevista que a marca viu sua participação saltar, nos últimos cinco anos, de 2% a 25% do mercado brasileiro de pivôs de irrigação, que representam 95% dos negócios da Bauer por aqui.
Hoje, o Brasil já corresponde a 30% das receitas globais da companhia, com um faturamento que atingiu R$ 600 milhões no ano passado.
Para 2025, a subsidiária acredita em um crescimento menor, podendo chegar a 10%. A redução do ritmo está relacionada à retração dos investimentos dos produtores rurais, sentida sobretudo no primeiro trimestre deste anos.
Nesse período, a Bauer também fez uma reorganização de sua rede de parceiros comerciais, com a troca de revendedores em algumas regiões.
Um dos marcos desse processo foi anunciado em julho passado, com o fechamento de um acordo de distribuição com a MaqCampo, grupo com matriz em Brasília e que está hoje entre as grandes revendedoras de máquinas agrícolas do País, com a 22 lojas com a bandeira John Deere em regiões como o Leste de Goiás, o Noroeste de Minas Gerais e o estado de Tocantins, e receitas superiores a R$ 2 bilhões ao ano.
A Maqcampo atua também na venda de equipamentos de irrigação e, a partir do acordo, passou a ser exclusiva da Bauer no mercado de pivôs. Na ocasião do anúncio, o grupo estimava faturar R$ 200 milhões ainda este ano neste segmento e alcançar a R$ 600 milhões no final da década.
O planejamento da filial brasileira da Bauer e de Parada para 2025 também foi afetado pelo tarifaço de Donald Trump. A imposição de tarifas adicionais a produtos oriundos do Brasil fez com que ele, hoje também responsável pelo mercado norte-americano, tivesse de rever a estratégia de incursão da empresa austríaca no segmento de pivôs nos Estados Unidos.
Os EUA concentram o maior número de equipamentos desse tipo no mundo – entre 30 mil e 35 mil, segundo Parada, dez vezes mais que o Brasil –, mas a Bauer, embora com grande presença global nesses sistemas, hoje atua no país apenas com outras linhas.
A ideia, agora, seria avançar com uma base de operações por lá, iniciando a comercialização de produtos importados de outros países e, futuramente, partindo para a fabricação local.
A fábrica da Bauer em São João da Boa Vista (SP) seria uma fornecedora natural para essa primeira fase, mas após a imposição do tarifaço essa perspectiva teve de ser revista.
“Isso acaba com toda a estratégia”, afirmou Parada, ressaltando que, agora, fábricas de outros países exportarão os pivôs para o mercado americano.
O Brasil continua, entretanto, como o principal centro de inovação da Bauer no mundo. De acordo com Parada, 80% das novas soluções da companhia têm sido desenvolvidas no País e exportadas para outros países.
Confira a íntegra da entrevista de Rodrigo Parada ao AgLíderes nos canais do AgFeed no YouTube ou no Spotify.