O Brasil possui cerca de 160 milhões de hectares de pastos, segundo dados do Observatório de Conhecimento e Inovação da Fundação Getúlio Vergas, de 2022. Desse total, 89 milhões de hectares (52%) são de pastagens que apresentam algum grau de degradação, o que significa baixa produtividade e altos custos para o setor.

A renovação dessas áreas é o terreno em que a Wolf Seeds espera plantar seu crescimento nos próximos anos, oferecendo soluções mais modernas em pastagens.

“Os pecuaristas ainda plantam variedades de 40 anos atrás. Queremos mudar essa realidade”, afirma o CEO da companhia, o holandês Alex Wolf, em entrevista exclusiva ao AgFeed.

Sediada em Ribeirão Preto (SP), a companhia exporta para mais de 65 países, tem cerca de 75 milhões de hectares cultivados no mundo com suas sementes de pastagens e está investindo na expansão do mercado brasileiro.

Parte desse investimento será em uma nova fábrica de processamento de sementes, também em Ribeirão Preto, que deverá ser concluída em até três anos. A empresa não revela o valor. “De todos os mercados onde atuamos, o Brasil é sem dúvida o mais importante, dada a extensão das áreas agricultáveis”, diz Alex.

O carro-chefe dessa expansão é o Mavuno, uma braquiária híbrida ultra resistente aos períodos de seca, utilizada tanto para a pastagem quanto para a composição de forragem para a produção agrícola.

A variedade responde por 40% do faturamento da Wolf e a meta da empresa é dobrar esse percentual até o final do ano. O CEO explica que o produto está há oito anos no mercado e é resultado de anos de pesquisa.

Entre os diferenciais da semente está o volume proteico 75% superior à principal variedade do mercado, permitindo que o pecuarista aumente em até 50% a lotação do pasto, além de eliminar a necessidade de suplementação do gado em períodos de seca.

“Com isso, o tempo de engorda dos animais diminui e o produtor consegue reduzir custos e aumentar a eficiência”, explica. No caso do gado leiteiro, o Mavuno mostrou potencial para aumentar em até 40% o volume de leite produzido apenas com a substituição da pastagem.

Outra parte do plano de expansão dos negócios da Wolf no Brasil passa pela ampliação de sua rede de parceiros. A ideia é que não só o Mavuno, mas também os outros 50 produtos da marca estejam em todas as regiões do país.

Como parte dessa estratégia, em janeiro desse ano, a companhia anunciou uma parceria com a Agrex, empresa subsidiária da Mitsubishi Corporation, que processa e comercializa insumos e sementes nos estados do Maranhão, Tocantins, Piauí, Bahia, Pará, Goiás e Mato Grosso.

A meta de crescimento da Wolf tem semente fértil para germinar, já que o Brasil é o maior produtor, consumidor e exportador de sementes de pastagens e forrageiras do mundo.

Levantamento feito pela Embrapa em 2021, apontou que esse mercado movimenta mais de R$ 1,4 bilhão ao ano somente no país.

A previsão é de que o setor de forrageiras no Brasil deve crescer 8,6% entre 2020 e 2025, segundo dados da Mordor Intelligence.

Nesse segmento, a Wolf figura entre os principais players, ao lado da chinesa Agria Corporation e Advanta Seeds, do grupo indiano UPL.

Já quando o assunto é o tratamento de sementes – incluindo outros tipos como grão e leguminosas - o mercado está nas mãos de gigantes como Syngenta, Bayer Cropscience, Basf e Corteva.

Cada vez mais longe

Para aumentar o alcance dos produtos, a Wolf também está investindo nos dias de campo e treinamentos de produtores. Ele explica que diferente do que acontece nos grãos, o plantio da pastagem é algo bem menos frequente, o que faz com que o pecuarista seja mais conservador nas escolhas.

“É um investimento de longo prazo. O produtor planta hoje e se escolher uma boa variedade e manejar bem, só vai precisar reformar a área em dez anos”.

Justamente por isso, a maior parte dos pecuaristas prefere seguir investindo em variedades tradicionais, como a Marandu, que hoje responde por cerca de 50% do total de pastagens plantadas no país.

“Muitos produtores seguem fazendo como os pais ou avós fizeram”.

Alex explica que por ser uma variedade bastante antiga, a eficiência da Marandu é menor, comprometendo os resultados dos produtores.

“Por isso, a propaganda boca a boca é uma das melhores ações de marketing que temos, porque o pecuarista ouve de outro produtor que o nosso produto traz mais eficiência e redução de custo”.

O mercado brasileiro chamou a atenção de Sam Wolf, pai de Alex e chairman da companhia, no início dos anos 2000.

Depois de vender a empresa da família na Holanda, especializada no processamento de sementes de batata, Sam morou nos Estados Unidos e México, onde iniciou o trabalho de pesquisa para desenvolver sementes híbridas tropicais.

“Chegamos ao Brasil não só pela extensão das áreas agrícolas, mas também pelas condições de solo, colheita e clima, que fazem com que as sementes produzidas aqui sejam de qualidade superior se comparadas a outros mercados, como a Austrália, por exemplo”, explica Alex.

O negócio deu tão certo que em agosto a companhia completará 20 anos de Brasil. Para Alex, a caminhada está só começando.

“Nosso foco é continuar crescendo no Brasil e levando a qualidade das sementes híbridas tropicais para todo o mundo”, finaliza.