Uma caneta, um papel e três assinaturas diferentes podem significar milhões de dólares nos próximos anos para o agro brasileiro.

Nesta segunda-feira, durante o evento Global Halal Brazil Business Forum, foi assinado um acordo de intenções entre a Fambras Halal, empresa que atua com a certificação de produtos Halal para o povo muçulmano, o World Logistics Passport (WLP) – plataforma criada pelo governo dos emirados Árabes Unidos para fomento à exportação global no mundo e o Consórcio do Nordeste para incorporar os nove estados da região na “Rota de Desenvolvimento do Halal”.

A ideia do acordo, segundo a WLP, é permitir que os produtores da região tenham acesso a mais informações para a certificação necessária para vender aos países árabes. Além disso, poderão entender como adaptar as unidades produtivas, ter conexão com parceiros de promoção comercial e ampliação do comércio.

A WLP é uma organização governamental do país árabe, e visa, segundo explicou ao AgFeed o seu diretor geral, Mahmood Al Bastaki, “facilitar o fluxo do comércio global”. A organização, que atua em 20 países, tem como objetivo destravar e facilitar exportações e importações entre países.

Segundo o executivo, a WLP dá uma série de benefícios aos parceiros do “hub”, bem como diminui o tempo gasto de viagens e o custo de exportação. Funciona como uma espécie de programa de fidelidade logística e conexões internacionais baseado em incentivos, com recompensas a comerciantes e transitários que usam a plataforma para importação e exportação.

Segundo a própria organização, a economia por container embarcado ronda os US$ 1 mil, considerando um container de 40 pés, algo em torno de 12 metros.

Dentre os parceiros da WLP estão, segundo o diretor, empresas de manufatura, exportadores de comida e de commodities agrícolas. “São players que encontram muita dificuldade quando exportam para outros países”.

“Se uma embarcação sai do Brasil e vai pra Indonésia, por exemplo, pode ir ou por Dubai ou pela África. Para qualquer lugar que esse navio vai, se ele faz parte do nosso hub, ele tem privilégio e benefícios com parceiros de logística e portos. São benefícios de tempo e de custo”, diz.

Por aqui, a empresa opera desde 2020. No mundo, já conta com 200 empresas afiliadas. A WLP não divulga os números transacionados, mas espera que o volume transacionado de produtos Halal cresça 10% nos próximos anos.

As carnes com certificação Halal correspondem a maior parte transacionada para os países árabes, mas a ideia é elevar a participação de transações envolvendo o café e outras culturas brasileiras como o cacau e frutas para essas regiões nos próximos anos.

Halal é uma palavra árabe que significa “lícito”. Na prática, é um conceito que permeia tudo que os muçulmanos podem consumir em alimentos, cosméticos e farmacêuticos.

“Vejo novas commodities que podem entrar no ‘hub’ como a pimenta preta, tipos especiais de açúcar, além de aves e carne, que é um mercado gigante. Vemos empresas brasileiras participando de grandes eventos e exibições em Dubai, até do mundo farmacêutico. Estamos no BRICs agora, isso traz uma linha adicional para crescimento”, afirmou Al Bastaki.

O Brasil é hoje o principal exportador de halal no mundo, contribuindo com quase 30% do mercado de carne bovina e 25% do total de exportações de frango.

Só no comércio entre Brasil e Emirados Árabes Unidos, os números são ainda mais significativos: 40% de todos os produtos negociados entre os países são de proteína halal. Só Dubai foi responsável pela importação de 22 mil contêineres no ano passado.

A palavra de ordem que resume a WLP para o diretor é networking. A ideia é somar essa rede de países, empresas e exportadores com toda a confiança que o mundo tem em Dubai, ele explica.

“Todos os navios estão em Dubai, as companhias aéreas, as administradoras de portos. Existe uma confiança no país, algo importante no mundo dos negócios. Somos apenas 10 milhões [de pessoas nos Emirados Árabes Unidos], mas nos considerem como um portão para o mundo”, completou.