O cenário internacional de preços de grãos em patamares ainda elevados, somado a uma sobreoferta da proteína de frango, impactou de forma negativa o primeiro trimestre da dona de marcas como Sadia e Perdigão.

Nos três primeiros meses de 2023, a BRF teve um prejuízo líquido de R$ 1,024 bilhão, resultado um pouco menor que os R$ 1,5 bilhão vistos em igual período do ano passado.

Em entrevista, nesta segunda 15, para apresentar os resultados do trimestre para jornalistas, o CFO da companhia, Fábio Mariano, comentou que o desempenho operacional das operações internacionais da empresa foi o grande impulsionador do prejuízo. A margem Ebitda desse segmento, que corresponde a 45% do negócio da BRF, foi negativa em 1,7%.

Historicamente, temos margens próximas a um duplo dígito nessa área. Somado a isso, com o patamar atual de juros sendo três vezes maior do que já foi em anos anteriores, o desempenho operacional deveria ser ainda maior”, comentou.

No primeiro trimestre do ano passado, por exemplo, a margem Ebitda do segmento internacional da BRF foi de 7,8%. Em 2021, havia sido de 9,4%.

A expectativa para os próximos trimestres, contudo, é de uma brisa mais agradável nos ares da empresa, tanto no aspecto operacional quanto de custos. Se o milho, principal grão comprado pela BRF como insumo para nutrição das aves, foi um problema nos custos no passado, a partir desse segundo trimestre a pressão pode arrefecer.

“Estamos vivenciando um cenário de recuperação gradativa dos preços de frango nas exportações que, em conjunto com o avanço do plano de eficiência e a queda acentuada dos grãos, potencializará os ganhos de rentabilidade da companhia ao longo dos próximos trimestres”, pontuou Mariano.

Além de notar uma ligeira queda no prejuízo, a BRF mostrou um avanço de 9% na receita líquida no trimestre na comparação com o mesmo momento em 2022. Desta vez, o montante arrecadado foi de R$ 13,2 bilhões.

Se lá fora a BRF sofreu com a demanda, a performance das operações brasileiras foi um ponto positivo no trimestre, conforme explicaram executivos da empresa.

O lucro operacional medido pelo Ebitda (lucro antes de juros, impostos, amortização e depreciação) foi de R$ 513 milhões por aqui, revertendo prejuízo de um ano antes.

“A estratégia de preços, em conjunto com uma gestão disciplinada dos estoques, possibilitou uma recuperação da rentabilidade. Adicionamos 10 mil clientes movimentados à nossa base e aumentamos a quantidade de itens vendidos por cliente”, afirmou o CEO da empresa, Miguel Goularte.

Apesar disso, a participação de mercado da companhia se manteve estável, em torno de 40%, considerando o mercado de processados e de margarina.

O Ebitda total ficou em R$ 607 milhões, quatro vezes maior que em 2022.

Trimestre em linha com o esperado pelo mercado

Analistas do mercado que acompanham de perto a empresa já previam essa dificuldade no mercado externo e esperavam o prejuízo, porém em magnitudes diferentes. A XP e a Genial Investimentos, por exemplo, projetavam prejuízos de R$ 646 milhões e R$ 1,5 bilhão, respectivamente.

Leonardo Alencar, head de agro da XP, esperava “outro trimestre fraco” para o frigorífico e pontuou, em relatório prévio ao balanço, que as pressões de custo ainda não foram totalmente aliviadas.

Já Antonio Cozman e Lucas Boventi, da Genial, projetavam melhorias operacionais e de eficiência ainda pequenas. Tanto a XP quanto a Genial possuem uma recomendação neutra para a ação da BRF.

Somado a esses pontos, João Abdouni, analista da Levante Corp, pontuou em entrevista ao AgFeed que o nível de endividamento da empresa ainda segue elevado, o que torna o cenário futuro difícil, mesmo com a melhora nos custos e no operacional.

A receita líquida de R$ 13,2 bilhões apresentada pela BRF no primeiro trimestre deste ano também veio próxima do esperado pelo mercado. A XP projetava R$ 13,6 bilhões enquanto a Genial esperava R$ 12 bilhões.