Cambé (PR) - Dona de 43% de todo o mercado da genética das sementes de algodão e outros 6% quando o assunto é soja, a Tropical Melhoramento e Genética (TMG), começou a dar seus primeiros passos em outra grande cultura nacional: o milho.
A empresa lançou os primeiros híbridos do cereal na safra 2024/25, e olha para os próximos anos com muito otimismo em relação ao que essa nova linha de produtos pode trazer para a companhia, afirmou o diretor presidente da TMG, Francisco Soares.
Se hoje o faturamento da empresa é dividido entre 60% nos royalties obtidos pela venda de híbridos da soja e 40% para o algodão, a ideia é que em 2031, o milho seja responsável por metade das vendas, com as outras culturas dividindo os 50% restantes.
“O milho apesar de ter uma margem de licenciamento menor, é uma cultura de faturamento mais alto pela agregação de valor e tecnologias envolvidas. Estamos entrando em uma cultura que ainda demanda alguns anos para atingir o breakeven, mas pretendemos vender 1 milhão de sacas de sementes do cereal em 2031”, previu o executivo.
A diferença entre a representatividade do faturamento e o share de mercado de cada cultura se dá, segundo Soares, pelo valor agregado das tecnologias da oleaginosa e pela quantidade de área com esse cultivo. Enquanto a soja é cultivada em cerca de 46 milhões de hectares, a pluma é plantada em 2 milhões.
Nos híbridos de milho lançados nesta safra, as tecnologias envolvem uma colheita precoce ou super precoce, além de resistência a doenças e ao chamado veranico (período de seca severa).
A estratégia de entrar em uma nova linha de produtos mostra que a TMG está atenta ao mercado. O cereal vem ganhando um novo status no Centro-Oeste com a proliferação de investimentos em indústrias de etanol de milho. “No futuro, o crescimento do milho pode ser maior até que a soja”, estima Soares.
Além disso, mostra que a companhia está de olho em sua principal concorrente, a argentina GDM (Grupo Don Mario). No começo deste ano, a empresa liderada por Ignácio Bartolomé adquiriu as operações de melhoramento e venda de sementes de milho e sorgo da companhia alemã KWS no Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai.
No ano passado, Bartolomé já havia adiantado ao AgFeed que tinha planos para ser forte também no milho, e que já estava começando a colher as primeiras receitas com os cultivares.
"A combinação do posicionamento em milho da KWS junto ao conhecimento da GDM em genética vegetal, com foco em soja e trigo, cria uma sinergia e fortalezas únicas para nossa posição no mercado e contínuo avanço de nossa companhia", disse um comunicado da companhia em março de 2024.
Um ciclo de investimento e de faturamento
Os híbridos de milho devem funcionar como uma alavanca no faturamento da TMG. Em 2024, a expectativa da companhia é faturar R$ 450 milhões, o que traria um avanço de quase 10% frente aos R$ 410 milhões de receita obtidos no ano passado.
No médio prazo, a projeção também é otimista. Soares estima que em 2031, a empresa esteja faturando na casa do bilhão anualmente.
O ano de 2031 é marcante para a TMG, que baseia muitas de suas metas e rotas nesta data. Isso porque a companhia está no meio de um ciclo de investimentos iniciado em 2021 com projeção para durar 10 anos.
Na época, os sócios da TMG se comprometeram a investir R$ 2 bilhões no negócio até 2031. Só em 2024, Soares estima que a empresa irá investir R$ 210 milhões.
Nos cálculos do executivo, esse investimento deve trazer uma receita acumulada em toda essa década de R$ 5 bilhões.
Atualmente, os investimentos estão focados em áreas de teste (que hoje são 2 mil hectares espalhados pelo País), em tecnologias de irrigação, genômica, além da formação de um grande big data.
A companhia está focada em desenvolver um híbrido para o algodão que seja resistente ao bicudo do algodoeiro. Segundo Soares, esse é o tema de maior atenção na TMG hoje.
No modelo de negócio da empresa, a companhia pesquisa e desenvolve cultivares que são licenciadas a multiplicadores. Esses players, segundo o diretor presidente, envolvem cooperativas como Coamo, C.Vale e Cooperativa Integrada, além de gigantes do agro como a Bom Futuro.
“A TMG fornece sementes e licencia a multiplicadores que as vendem por um preço cheio. Os agricultores pagam e nós recebemos os royalties”, explica o executivo.
No começo da cadeia, a empresa mistura genes com biotecnologias fornecidas por Bayer, Corteva e Basf, e as melhores variedades vão ao mercado.
Na soja, outro carro-chefe da companhia, a TMG aguarda a liberação da tecnologia HB4 na União Europeia. O pacote tecnológico desenvolvido pela Bioceres traz uma resistência forte à seca.
Sem novas culturas
Com a entrada no milho, a empresa por enquanto deixa fora do pipeline a aposta em outras culturas, como sorgo e trigo.
Soares acredita que o sorgo “é um bom produto”, por aguentar mais secas do que outros grãos, mas é uma cultura que possui demanda instável, pois os produtores optam pela cultura a depender do regime de chuva e da janela para a segunda safra.
Já no trigo, o mercado especulou nos últimos anos que a companhia pudesse entrar nesse segmento após uma parceria com a Bioceres, responsável pelo primeiro trigo transgênico do mundo, que também possui a tecnologia HB4.
Na empresa argentina, o plano é entrar com as variedades no mercado brasileiro nos próximos anos, com os produtos já utilizando as sementes no campo em 2026.
O tema é polêmico porque, ao longo do processo de aprovações no Brasil e na Argentina, diversas entidades se posicionaram contra o avanço da tecnologia, alegando falta de estudos sobre os riscos para a saúde humana.
Para ganhar espaço e não enfrentar problemas com a legislação, além da Embrapa, a TMG foi escolhida como parceira para testes deste trigo argentino da Bioceres.
A empresa, contudo, atuou somente na parte de segurança, e não da produtividade. Segundo o presidente, a empresa ajudou a Bioceres nos testes que envolvem a saúde do consumidor final. “Pegamos a documentação e fizemos o processo burocrático junto ao Ministério da Agricultura e Pecuária”.