Enquanto companhias de todo o mundo tentam entender os impactos do tarifaço americano que abalou o comércio internacional, a sueca Husqvarna, companhia tradicional que fabrica roçadeiras, motoserras e pulverizadores, tem um plano, favorecido pelo timing perfeito de uma decisão tomada em 2023.
Mesmo sem poder prever o que iria ocorrer no mercado global, a empresa decidiu investir na ampliação da sua fábrica em São Carlos (SP). A ideia é triplicar a produção.
O quadro atual referendou a decisão, dando margem de manobra aos seus gestores.
O presidente dos EUA, Donald Trump, anunciou um pacote que impõe tarifas de exportação para praticamente todos os Países do globo. Nessa dança, o Brasil ficou com 10% e a China, com até 104%.
Diante disso, a unidade fabril paulista, que hoje atende principalmente o que a empresa chama de “mercados emergentes”, como a América Latina, África, Ásia (com exceção do Japão), também deverá escoar produtos para a Terra do Tio Sam.
Com isso, a planta de São Carlos, mais que uma fábrica, se torna um dos pilares da estratégia global da companhia.
“Alguns produtos que eram feitos lá passam a ser montados aqui, para atender o mercado americano que é de alto volume. Fornecemos motores para a montagem final nos EUA, que aí sim são distribuídos no varejo. Hoje nosso maior mercado é lá”, conta Luciano Trindade, diretor da unidade.
Segundo ele explicou ao AgFeed, hoje a empresa possui três centros de produção, sendo que os outros ficam na Suécia e China. Deles, a estrutura nacional é a única focada majoritariamente em mercados emergentes. Hoje, esses mercados já correspondem a 10% do negócio.
A unidade de São Carlos já responde por 20% de tudo que é produzido globalmente, porcentagem que deve aumentar com o aumento da capacidade em curso.
Fundada em 1689, a companhia está presente em mais de 100 países. Em 2024, faturou US$ 48,3 bilhões, com lucro operacional de US$ 2,5 bilhões.
Presente em mais de 100 países, a Husqvarna teve um faturamento global de US$ 48,3 bilhões em 2024, com um lucro operacional de US$ 2,5 bilhões. Na empresa, são três unidades de negócio: Floresta e Jardim, Gardena (que contempla jardins residenciais) e construção.
No Brasil, a empresa atua somente com a primeira divisão, e hoje, o País soma cerca de 3% do faturamento do segmento. No negócio, a importância do País fica concentrada na produção industrial.
Apesar disso, a Husqvarna tem ganhado espaço em alguns mercados específicos em terras nacionais.
Mauro Favero, presidente da Divisão de Agricultura Leve no Grupo Husqvarna, diz que desde 2017 o management global passou a olhar com mais carinho para o Brasil enquanto consumidor.
“Começamos nessa época a trabalhar com o time na Suécia para trazer produtos como roçadeiras para o agro e isso deu certo. Em 2018, trouxemos 40 produtos de uma só vez, incluindo equipamentos para tratar de áreas verdes, sempre voltados para a agricultura familiar”, disse.
O cliente foco no País é o agricultor de até 20 hectares, segundo Favero. E além das roçadeiras e motosserras, atua com pulverizadores e bombas de água para irrigação. “São produtos para produção e outros para manutenção”.
No País, são cinco milhões de propriedades nessa estrutura e, com isso, um enorme mercado endereçável para a Husqvarna. Para chegar nesse público, a empresa tem se aproximado de cooperativas, indo além das revendas tradicionais.
Uma delas é a Cooxupé (Cooperativa Regional de Cafeicultores em Guaxupé), que hoje conta com mais de 20 mil associados. “Através deles levamos essa mecanização e aumento de produtividade para associados”, disse Favero.
No mês passado, a Husqvarna lançou dois derriçadores específicos para a cultura do café, que, ao mesmo tempo que diminuem o impacto nos ramos, vibram menos, sendo mais confortáveis ao operador.
“Queremos que a mecanização faça o agricultor ganhar mais qualidade de vida e mais tempo. Hoje, uma operação que era feita em duas horas pode ser feita em meia hora”.
O lançamento foi feito durante a última Femagri (Feira de Máquinas, Implementos e Insumos Agrícolas), promovida pela Cooxupé. Mauro Favero ainda cita parcerias com cooperativas de outros estados, como a sulista Copercampos.
Para além da Femagri, Mauro Favero considera que as feiras têm sido parte importante da estratégia da empresa em expor a marca dentro do segmento agrícola.
A empresa esteve recentemente na Expoagro Afubra, realizada pela Associação dos Fumicultores do Brasil, no Rio Grande do Sul, e estará na Agrishow, em Ribeirão Preto.
“Hoje a Husqvarna já é reconhecida como um player do setor agrícola e não só setor verde e florestal”, diz.
Dentro dessa estratégia de expor mais ao agro, Mauro Favero cita a compra recente da Inceres, agtech brasileira que atua com agricultura de precisão, feita em agosto do ano passado.
Segundo o executivo, a ideia é complementar o maquinário com um serviço de análise de qualidade de solo, agregando valor ao cliente.
“Estamos trabalhando com as cooperativas para trazer essa tecnologia para pequenos produtores. As análises feitas pela Inceres foram, até agora, em grandes propriedades, e estamos partindo para as menores”.
Indagado se a Husqvarna olha para outras tecnologias e startups, seja para parcerias ou para compras, Mauro Favero respondeu: “sem dúvidas”. Sem dar detalhes, ele cita que globalmente, a Husqvarna vê com bons olhos os robôs cortadores de grama. “Não são máquinas que só cortam grama, mas que conseguem detectar elementos e orientar o próprio usuário. Queremos trazer isso para o setor agrícola”.