Apenas três meses depois de ter anunciado a compra da canadense BioTepp, especializada no desenvolvimento e produção de soluções, a suiça Andermatt Group, de insumos biológicos, vai novamente às compras.

A bola da vez é a compra de 80% das ações da distribuidora argentina de bioinsumos Agricheck Srl, no norte da Patagônia, no mercado desde 2001. O valor da operação não foi revelado.

Na América Latina, a Andermatt tem operações no Brasil e no México, e ainda não possuía uma subsidiária na Argentina, mas mantinha uma relação comercial há mais de 20 anos com a Agricheck, segundo Carlos Gajardoni, CEO da companhia no Brasil.

A negociação havia começado há cerca de dois anos. "Foi um processo quase que natural a Agricheck passar a ser o nosso negócio na Argentina, ao invés de abrir uma subsidiária na Argentina e essa subsidiária vender pra Agricheck", afirma.

"Já fazíamos negócios com a Agricheck, que comunga em muitos valores conosco. Eles trabalham com agricultura sustentável e têm uma história de 20 anos, são focados em bioinsumos. Então, o negócio fazia muito sentido", acrescenta.

A ideia do grupo é integrar as operações da empresa argentina - forte na comercialização de produtos para o mercado de maçãs, segundo Gajardoni - com a operação brasileira, que tem uma presença relevante no mercado de cereais e café.

A Andermatt está trazendo para o Brasil o Madex, que já é vendido na Argentina e que combate a traça-da-maçã.

A companhia aguarda apenas o aval do Ministério da Agricultura e Pecuária, Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) para poder comercializar a solução.

Os produtos comercializados pela Agricheck, no entanto, não virão da fábrica brasileira da Andermat, localizada em Joinville (SC), que produz 15 toneladas por ano do Dynbac, um fertilizante organomineral usado em diferentes culturas. Contando com a planta brasileira, a companhia tem 11 unidades industriais espalhadas ao redor do mundo.

“O nosso modelo de supply chain preconiza fábricas altamente especializadas. Vírus vêm da Suíça e do Canadá, bacilos e bactérias vêm da Alemanha, fungos vêm da África do Sul”, explica Gajardoni.

A compra da empresa argentina faz parte de um projeto de expansão da Andermatt pela América Latina. “Somos a região que mais cresce em adoção de bioinsumos no mundo”, afirma Gajardoni.

“Estamos muito animados em unir forças com a Agricheck. Essa aquisição nos permite fortalecer nossa atuação na América do Sul e oferecer soluções biológicas avançadas aos agricultores argentinos e da região. Nossa visão conjunta é promover uma agricultura mais produtiva e sustentável”, afirmou Daniel Zingg, CEO do Grupo Andermatt, em nota.

“Fazer parte do Grupo Andermatt é um marco transformador para a Agricheck. Essa colaboração nos permitirá expandir nossas operações e levar novas soluções sustentáveis aos agricultores argentinos, combinando nossa expertise local com a liderança global da Andermatt em biocontrole”, disse Luis Leguizamon, CEO da Agricheck Srl, também em nota.

Crescimento no Brasil

Presente em mais de 60 países ao redor do mundo e há uma década atuando no Brasil, com sede administrativa em Curitiba (PR), a Andermatt mantém os planos de fechar o ano com um faturamento de R$ 80 milhões, ante R$ 40 milhões no ano passado.

A ideia é escalar o volume para R$ 120 milhões em 2025, chegando a R$ 300 milhões em 2028.

Em agosto, a companhia anunciou uma parceria com o Scheffer, um dos grandes grupos de cultivo de soja, milho e algodão no Brasil e, nos últimos anos, estandarte da agricultura regenerativa no País.

O acordo envolve a produção de bioinsumos da Andermatt na fábrica on-farm do Scheffer em Sapezal (MT), começando pelo inoculante Phosbac, que antes precisava ser importado da Alemanha. A ideia é, mais adiante, no ano que vem, produzir o nematicida Nembac na unidade.

“Acho que o primeiro grande ganho que nós temos agora é que, por exemplo, eu libero espaço na fábrica da Alemanha para atender o resto do mundo. Tem um ganho estrutural global, já que o maior mercado em crescimento é o Brasil e a gente acabava tomando o espaço inteiro da fábrica da Alemanha”, afirma Carlos Gajardoni, CEO da companiha no País.

Ele cita também que Scheffer e Andermatt têm muito em comum. “A Scheffer é o maior “agricultor regenerativo” do mundo, vamos dizer assim. Para nós, como empresa, todos os valores básicos se alinham”, diz.

Além disso, também há um ganho de escala, eficiência e custo em ter uma operação local. “Imagina transportar um produto que vem de Berlim? Imagina o dinheiro, o desperdício de energia, a emissão de carbono naquele navio ou naquele avião”, afirma Gajardoni.

Ainda que não exista nenhuma conversa em andamento, Gajardoni não descarta a possibilidade de a companhia ampliar seus negócios no País no médio prazo, seja com a aquisição de uma nova planta industrial ou uma joint-venture.

A empresa foi criada pelo casal de pesquisadores Isabel e Martin Andermatt, em 1988, numa pequena cidade de 839 habitantes da Suíça, Grossdietwil – onde está até hoje sua sede global.

Engenheiro agrônomo de formação, com passagens por Syngenta, AgroGalaxy e Eldorado Brasil Celulose, Gajardoni explica, inclusive, que no momento as ações da companhia estão sendo vendidas para os próprios empregados como forma de perpetuar o negócio.

“Os fundadores são pesquisadores, já têm dinheiro. O que eles querem é que a empresa esteja aqui daqui a cinco décadas. Com as ações, eles garantem que a empresa não seja vendida”, afirma.

“Eu mesmo já comprei ações, que não estão na bolsa. Quem compra e quem vende é a própria Andermatt. Se eu quiser vender minhas ações, eles compram e revendem para outro funcionário”, acrescenta.