Depois de ter se tornado uma das cidades-pólo do agronegócio brasileiro em apenas 25 anos de existência, Luís Eduardo Magalhães, município do Oeste da Bahia, na região agrícola conhecida como Matopiba, agora também entrou de vez na rota dos aviões.
Primeiro, em dezembro de 2024, o município inaugurou o seu aeroporto, demanda antiga dos produtores da região, que antes precisavam se deslocar à Barreiras, cidade distante 90 quilômetros dali, que tem um terminal que recebe voos comerciais.
Com isso, empresas do setor de aviação começam a se posicionar na nova estrutura. É o caso da Solojet Aviação, empresa de aviação executiva de Jundiaí, cidade da Grande São Paulo, que está inaugurando neste mês um hangar no novo aeroporto.
A entrada da empresa na Bahia veio a partir de uma demanda de um cliente, segundo o CEO da empresa, Andre Bernstein. "Ele já era da área, e mostrou que a cidade e a região como um todo tinham necessidade de prestação de serviço aéreo in loco", afirma.
Com isso, é possível deixar a logística que passava por Barreiras para trás.
Hoje, quem quiser sair de Luís Eduardo Magalhães para São Paulo, por exemplo, precisa tomar voos comerciais operados pela companhia aérea Azul para destinos como Salvador e Belo Horizonte, precisando fazer conexões nessas cidades para chegar à capital paulista.
"É um voo com uma viagem que toma, possivelmente, sete, oito horas, entre check-in, transição de um avião para o outro, desembarque, carro. No avião privado, você faz em duas horas", afirma.
Claudio Bernstein, COO da Solojet, diz que há prestação de serviços aéreos para a aviação agrícola na região, mas o mesmo não acontece com a aviação executiva, especialmente para aeronaves de maior porte.
"E a aviação baseada lá em Luís Eduardo Magalhães já tem um volume considerável de aeronaves desse porte", diz o COO da empresa.
Além da falta de prestação de serviço em si, também há dificuldade em encontrar mão-de-obra. A Solojet transferiu três de seus cerca de 100 funcionários de sua sede em Jundiaí para atuarem na Bahia – e poderá contratar mais pessoas, conforme a demanda.
"A gente escolheu levar o pessoal de São Paulo, que já tem a cultura da empresa, para começar a formar pessoas", afirma.
Outro ponto que foi relevante para a instalação do hangar foi a possibilidade de diminuir os custos com a manutenção de aeronaves de seus clientes, tanto as programadas, quanto as não programadas.
"Você estar lá possibilita que o cliente coloque seu avião em manutenção sem um deslocamento até São Paulo, que soma umas sete horas entre ida e vindas, o que gera um custo também", afirma.
"E, claro, também há a possibilidade de você prestar suporte emergencial: se o avião tem uma pane, se precisa trocar um pneu, se precisa resolver até algo mais simples como completar nível de oxigênio e nitrogênio, estamos lá.
Esse fator é importante, na avaliação de Bernstein, pelo fato de que muitos empresários do agronegócio da região estão estabelecidos em Luís Eduardo Magalhães. "A operação deles é a partir de lá.”
Sem contar a operação na Bahia, a Solojet tem três hangares em Jundiaí, um deles também está sendo inaugurado no momento.
A empresa trabalha com manutenção, administração, compra e venda de aeronaves, também está se credenciando junto à Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) para atuar também como operador de táxi aéreo, mais uma opção de deslocamento para os produtores rurais.
“Hoje o Brasil tem pequenos polos socioeconômicos não atendidos pela aviação comercial. Para quem não tem uma aeronave hoje ou não tem uma cota, é um desafio muito grande você se deslocar de forma eficiente para aeroportos não atendidos pela aviação comercial como é o de Luís Eduardo Magalhães”, afirma André Bernstein.
O custo-hora de um avião fretado é mais alto que o de voo comum, mas mesmo assim pode compensar para o passageiro, na avaliação de Bernstein. “Mas para quem voa pouco por ano de avião privado é uma solução.”
Além disso, a empresa oferece também aos clientes a opção de compartilhamento, em que várias pessoas físicas ou jurídicas podem comprar uma cota de utilização de uma aeronave.
Por enquanto, a ideia da Solojet é consolidar sua operação na Bahia. Mas a empresa não descarta operar em outras cidades-polo do agronegócio como Sorriso e Sinop, no Mato Grosso.
As “capitais do agro” têm recebido investimentos significativos em infraestrutura aeroportuária.
Um exemplo disso é Sorriso, onde, no ano passado, o governo federal anunciou um investimento de R$ 104 milhões para melhorias no Aeroporto Adolino Bedin. Com essas intervenções, o aeroporto estará preparado para receber aeronaves de maior porte.
Em contrapartida, a movimentação tem apresentado movimentos distintos.
No ano passado, por exemplo, o Aeroporto Municipal Presidente João Batista Figueiredo, de Sinop, administrado pela Centro-Oeste Airports, registrou um recorde histórico de 396 mil passageiros, o que representa um crescimento de 15% em comparação ao ano anterior. Já o de Sorriso, registrou 42,69 mil passageiros, queda de 11,7% em relação a 2023.